Moisés Espírito Santo
Moisés Espírito Santo nasceu na Batalha, em 1934, e destacou-se como um dos mais originais e controversos sociólogos portugueses. O seu percurso académico e profissional foi marcado por uma constante inquietação intelectual e por uma profunda dedicação ao estudo das religiões populares, da sociologia rural e da etno-sociologia mediterrânica. Após os estudos liceais e o cumprimento do serviço militar em hospitais, iniciou uma atividade como animador cultural nas cadeias centrais entre 1955 e 1958, função da qual foi afastado por incompatibilidade com a política prisional. Trabalhou depois nas Caixas de Previdência até 1963, sendo novamente despedido por motivos políticos. Exilou-se em França, onde viveu até 1981, desenvolvendo uma intensa atividade como animador cultural junto de comunidades imigrantes, com formação em psicologia social e dinâmica de grupos, e colaborando com o Ministério francês da Educação.
Em Paris, frequentou o Instituto Francês da Imprensa e foi admitido na prestigiada École des Hautes Études en Sciences Sociales, onde se especializou em Sociologia Rural e Sociologia das Religiões. Realizou estudos de campo na região de Leiria e obteve o diploma com o trabalho La Freguesia / Comune Rurale Portugaise, publicado em Portugal como Comunidade Rural ao Norte do Tejo. Doutorou-se com a tese La Religion des Paysans Portugais, editada em Portugal como Religião Popular Portuguesa, obra que viria a marcar profundamente o campo da sociologia religiosa em Portugal.
Regressou ao país em 1980, sendo contratado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde viria a tornar-se professor catedrático em 1996. Lecionou diversas disciplinas, como Sociologia Geral, Sociologia Rural e Urbana, Sociologia das Religiões, Sociologia da Cultura e Etno-Sociologia das Sociedades Mediterrânicas, orientando mestrados e doutoramentos e fundando o Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões.
A sua obra escrita é marcada por uma abordagem multidisciplinar e por uma leitura crítica da história oficial. Estudou as religiões populares portuguesas cruzando dados etnográficos com linguística, arqueologia e história comparada, defendendo que a religião popular portuguesa tem raízes semitas, cripto-judaicas e pré-romanas, e que a língua dos Lusitanos pertencia ao ramo cananita, contrariando a tese celta de Leite de Vasconcelos. Publicou obras como Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa, Os Mouros Fatímidas e as Aparições de Fátima, Fontes Remotas da Cultura Portuguesa e o ousado Dicionário Fenício-Português, onde propõe que muitas expressões populares atuais resultam de um crioulo entre o fenício e o neolatim.
Foi fundador de dezenas de associações de emigrantes em França, da Liga Portuguesa do Ensino e da Cultura Popular, e cofundador da Associação Portuguesa de Sociologia e do Instituto Mediterrânico da Universidade Nova. Dirigiu as revistas Forum Sociológico e Mediterrâneo, e colaborou com instituições científicas internacionais em Toulouse, Washington e Roma.
Moisés Espírito Santo não procurou consensos, mas sim conhecimento. A sua obra provocou abalos profundos na historiografia, na linguística e na sociologia portuguesa, abrindo caminho para novas abordagens e obrigando os seus críticos a enfrentá-lo com os mesmos instrumentos que ele usou: investigação rigorosa, cruzamento de saberes e coragem intelectual. Faleceu a 24 de janeiro de 2025, deixando um legado incontornável no pensamento sociológico português.
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