Descrição
Caetano José da Silva Souto‑Maior (ou Souto‑Maior, conforme ortografia moderna), nasceu provavelmente em 1694 em Olivença e faleceu a 18 de agosto de 1739, em Lisboa. Filho de Gaspar da Silva Moniz, Provedor dos Reinos, e de Isabel Teresa Sotomaior, dama da rainha Maria Ana da Áustria, era doutorado em Direito Canónico pela Universidade de Coimbra e concluiu também estudos de Latim em Lisboa.
Na corte de D. João V destacou-se por um espírito aguçado e uma verve poética marcante. Recebeu o apelido popular de “Camões do Rossio”, tanto pelos seus sonetos galgados e epigramas, quanto pelos contos irónicos e anedotas espirituosas que contavam em Lisboa. Ocupou cargos judiciais como Juiz dos Órfãos de Lisboa, Juiz do Crime na Mouraria e, a partir de outubro de 1737, Corregedor do Bairro do Rossio, cargo que exerceu até à sua morte.
O seu talento literário era evidente pelos manuscritos de poemas, em especial sonetos barrocos de forte estilo gongórico, que, segundo J. M. da Costa e Silva, “avultam entre os seus poemas os sonetos, que são em geral bem pensados, fortes de expressão, e bem versificados, não tendo que invejar aos melhores dos poetas seus contemporâneos”. Porém, o seu estilo barroco pesado ficava hoje menos apreciado, embora muitos reconheçam a sua habilidade literária .
Em relação à sua personalidade, Souto‑Maior ficou célebre por respostas em verso e situações caricatas: certa vez face ao piloto verbal de um caso judicial, questionou o rei se este governava “só das telhas para baixo ou também das telhas para cima”, conseguindo a indulgência real. Noutra ocasião, prendeu dois jesuítas por estarem na rua numa noite, humilhando a ordem religiosa com suporte humorístico e social.
Também se atribui a ele o poema satírico‑erótico “A Martinhada”, dedicado a Frei Martinho de Barros, confessor de D. João V, relatando-o de modo cômico e bem-humorado. A autoria nunca foi oficialmente confirmada, mas a proximidade do estilo sugere que tenha sido ele.
Intelectual respeitado, era reconhecido não só pela irreverência, mas também pela integridade enquanto magistrado: soube conciliar humor com justiça, ganhando estima popular. Faleceu com cerca de 45 anos, deixando um legado literário e moral que perdurou entre o povo lisboeta muito além do seu tempo .
Hoje, Caetano José da Silva Souto‑Maior permanece como uma figura ímpar do século XVIII lisboeta: magistrado crítico e íntegro, poeta barroco e humorista sagaz, cuja lembrança se mantém viva como “Camões do Rossio”.