Descrição
Escritor português, LuÃz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco nasceu a 7 de Maio de 1925, em Lisboa. Oriundo de uma famÃlia de raÃzes alentejanas ligada à s artes, frequentou o Liceu Camões, em Lisboa, e matriculou-se no curso de Filologia Românica, que não chegou a concluir.Â
Colaborou em várias publicações periódicas como Bloco, Seara Nova, Globo, Afinidades, Diário Popular, Diário Ilustrado. Foi inspector dos espectáculos e acumulou a escrita com a tradução e com a actividade editorial, publicando em Contraponto, editora fundada por si em 1950, textos colectivos de autores surrealistas e neo-realistas como Mário Cesariny, Natália Correia, Herberto Helder e VergÃlio Ferreira, assim como a primeira tradução portuguesa de Sade.Â
O seu primeiro livro data de 1959 Carta-Sincera a José Gomes Ferreira, iniciando uma escrita de crÃtica inteligente, agressiva e irreverente, face aos costumes e nomes consagrados.Â
Assume-se como um agitador intelectual, ironizando e satirizando a vida literária e cultural do paÃs. De salientar na sua produção os textos de circunstância e a encenação epistolar: Pacheco versus Cesariny e as colectâneas CrÃtica de Circunstância,Literatura ComestÃvel e Textos de Guerrilha 1 e 2.
Figura representada por Benjamim Marques (cf. MARTINHO, Fernando J. B. – Tendências Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50, Lisboa, 1996, p. 79) entre os autores e artistas abjeccionistas (ao lado de Manuel de Lima, Mário de Cesariny, Raul Leal, José Manuel Simões, Hélder Macedo, João Rodrigues, Gonçalo Duarte, Escada, Cargaleiro, António José Forte, Manuel de Assunção, VirgÃlio Martinho e Saldanha Gama) do grupo reunido entre 1956 e 1959 no Café Gelo, grupo associado a uma segunda geração surrealista, definida pela perda do que o surrealismo tinha de aventura exaltante para revelar uma faceta auto-irónica, trágica e iconoclasta, que rejeita não apenas a ordem social e moral “do establishement com que, num plano mais imediato, se defronta, mas todo e qualquer establishement, e que parece descrer de qualquer saÃda para o mal-estar insanável que é o seu” (id. ibi., p. 80).Â
Autor inclassificável, aproxima-se do abjeccionismo e de uma manifestação tardia do libertinismo por um inconformismo radical, por uma recusa essencial face a tudo o que possa vir a converter-se em obstáculo (conceitos, bom senso, dogmas) diante da afirmação plena da liberdade existencial e artÃstica, firmada num acto de escrita que equivale a um acto de revolta contÃnuo (cÃnico, agressivo, satÃrico) contra uma sociedade que receia enfrentar as zonas mais obscuras da sua condição.Â
A sua obra desenvolve-se em duas vertentes frequentemente confluentes: por um lado, a escrita panfletária, polémica e crÃtica (cf. Textos de Circunstância, Textos de Guerrilha I e II), e, por outro, uma ficção que tende com frequência para a autobiografia romanceada, na linha de um autor como Céline, onde confessa com desinibição as contingências de um eu ostensivamente pÃcaro, anti-herói sem dinheiro, incapaz de sustentar a famÃlia, boémio, sem tecto certo, alcoólico, mendigo, em colisão frontal com os valores burgueses – concedendo apenas nas imagens da amada e do amor sensÃvel materializado nos filhos momentos de rara exaltação da vitalidade -, e onde a desmistificação do eu encontra equivalente na desconstrução e experimentação linguÃstica do próprio texto.Â
Bibliografia: Carta Sincera a José Gomes Ferreira, Lisboa, 1959; Comunidade, Porto, s/d; CrÃtica de Circunstância, Lisboa, 1966; Exéquias de Manuel Lima, o Careca: Manifesto, s/l, 1967; Textos Locais, s/l, 1967; O Libertino Passeia por Braga, A Idolátrica, o seu Esplendor, Porto, 1969; ExercÃcios de Estilo, Lisboa, 1971; Literatura ComestÃvel, Lisboa, 1972; Pacheco versus Cesariny, Lisboa, 1974; Textos Malditos, Lisboa, 1977; Textos de Circunstância,, seguido de A PIDE Nunca Existiu, Amadora, 1977; Textos de Guerrilha, 1.a série, Lisboa, 1979; 2.a, 1981; Textos do Barro, Porto, 1985; O Caso das Criancinhas Desaparecidas, Lisboa, 1981; O Teodolito e a Velha Casa, Lisboa, 1985; Textos Sadinos, Setúbal, 1991; Memorando Mirabolando, Setúbal, 1995; Cartas na Mesa: 1966-1996, Lisboa, 1996; O Uivo do Coiote, Palmela, 1996; Torga: a Minha Homenagem, s/l, 1979Â
LuÃs Pacheco. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2008. [Consult. 2008-01-11].




