José Ortega y Gasset
José Ortega y Gasset (1883–1955) foi um dos mais influentes filósofos espanhóis do século XX, reconhecido pelo seu papel na renovação do pensamento filosófico e cultural da Península Ibérica e pelo impacto que teve além-fronteiras, nomeadamente na América Latina e em diversos círculos intelectuais europeus. Nascido em Madrid, Ortega y Gasset formou-se em Filosofia na Universidade Central de Madrid, prosseguindo depois estudos na Alemanha, onde contactou com o neokantismo e com os debates contemporâneos da fenomenologia, especialmente os de Edmund Husserl.
Filósofo, ensaísta e homem de cultura, Ortega y Gasset é talvez mais conhecido pela sua obra La rebelión de las masas(1930), em que analisou criticamente o fenómeno da ascensão do “homem-massa” nas sociedades modernas — um sujeito desprovido de exigência interior, nivelador, conformista, e hostil à excelência intelectual e espiritual. Neste e noutros escritos, como Meditaciones del Quijote (1914), El tema de nuestro tiempo (1923), Ideas sobre la novela (1925), ou Historia como sistema (1941), Ortega desenvolve uma filosofia assente na noção de “razão vital”, isto é, uma tentativa de superar tanto o racionalismo abstracto quanto o irracionalismo subjetivista, através da integração da vida concreta, individual e histórica no exercício do pensamento.
Para Ortega, “yo soy yo y mi circunstancia” — a célebre fórmula que resume a sua antropologia filosófica — significa que o ser humano não é uma entidade isolada, mas um sujeito situado, cuja existência só pode ser compreendida à luz das condições em que vive. Por isso, a filosofia deve partir da vida, e não de ideias puramente abstratas. A sua abordagem é profundamente humanista, mas também crítica das derivas tecnocráticas e das formas de massificação social que minam a responsabilidade individual.
Fundador da revista Revista de Occidente (1923), Ortega teve também uma presença marcante na vida política e universitária espanhola, embora o advento do franquismo o tenha levado ao exílio. A sua escrita, elegante, clara e de forte poder expressivo, alia o rigor do pensamento à arte do ensaio literário, fazendo dele um estilista da língua castelhana. Ortega foi, em suma, um pensador de fronteira: entre a filosofia e a literatura, entre a vida pública e a contemplação, entre o idealismo europeu e a experiência ibérica. O seu legado permanece vivo no debate sobre a cultura, a liberdade, a história e o papel do indivíduo nas sociedades contemporâneas.
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