Francisco Martins Sarmento
Francisco Martins Sarmento, nascido em Guimarães a 9 de março de 1833, foi uma figura ímpar da cultura portuguesa oitocentista, distinguindo-se como arqueólogo, historiador, escritor e pensador. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, nunca exerceu a advocacia, dedicando-se antes à investigação científica e à promoção cultural, num percurso marcado pela erudição e pelo espírito pioneiro. Instalado no seu palacete no Largo do Carmo, em Guimarães, transformou-o num centro de convívio intelectual, onde recebia estudiosos e artistas, promovendo tertúlias e debates que cruzavam ciência, literatura e história.
A sua maior contribuição reside no campo da arqueologia, tendo iniciado escavações sistemáticas na Citânia de Briteiros em 1874, revelando estruturas castrejas, artefactos e inscrições que viriam a redefinir o conhecimento sobre os povos proto-históricos do noroeste peninsular. Também explorou o Castro de Sabroso e identificou o Castro das Eiras, em Pousada de Saramagos, em 1880. Em 1881, participou numa expedição à Serra da Estrela, representando a secção de arqueologia da Sociedade de Geografia de Lisboa, o que reforça o seu papel como investigador de campo e divulgador científico.
Sarmento contestava a tese dominante da origem celta dos povos do norte de Portugal, propondo antes uma matriz pré-céltica, possivelmente ligada aos Lígures, com base em fontes clássicas como a Ora Maritima de Avieno. Chegou mesmo a estabelecer paralelos entre a cultura castreja e a civilização micénica, o que gerou acesas polémicas com figuras como Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos. A sua abordagem, embora ousada, revelava uma visão integrada da arqueologia, da história e da filologia, antecipando métodos comparativos que só mais tarde seriam valorizados.
Além da investigação, foi também um dos primeiros a utilizar a fotografia como instrumento científico em Portugal, documentando escavações e monumentos com rigor visual. Publicou obras como Os Argonautas, Ora Marítima, Lusitanos, Lígures e Celtas, e colaborou em revistas como Renascença, O Pantheon e Branco e Negro, onde expunha as suas ideias com clareza e paixão.
Em 1881, foi fundada a Sociedade Martins Sarmento, por iniciativa de amigos e admiradores, com o objetivo de preservar e divulgar o seu legado. Esta instituição, ainda hoje ativa, conserva os seus manuscritos, fotografias e achados arqueológicos, sendo um testemunho vivo da sua obra. Rudolf Virchow, eminente cientista alemão, após visitar a Citânia de Briteiros, comparou Sarmento a Heinrich Schliemann, o descobridor de Tróia, elogiando o seu método e dedicação.