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O quarto dia da criação do mundo

Miguel Torga

Local de edição: Coimbra

Ano: 1939

Indisponível

Com marcas antigas de fita adesiva na lombada.

    Esgotado

    Descrição

    A primeira edição de A Criação do Mundo – O Quarto Dia veio a lume em Abril de 1939 (mês em que termina a Guerra Civil de Espanha), tendo sido apreendida –por denúncia do irmão de Franco (Nicolás Franco Bahamonde), então embaixador de Espanha em Portugal – só oito meses depois, mais precisamente a 30 de Novembro de 1939. Nesse mesmo dia Adolfo Rocha é detido pela PSP no seu consultório, em Leiria, e logo de seguida submetido a um interrogatório na sede daquela polícia, onde terá permanecido incomunicável até ser transferido, três dias mais tarde,– após ter passado pela sede da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) em Lisboa, na rua António Maria Cardoso – para o Aljube de Lisboa, uma das prisões políticas sob a alçada directa da PVDE, vindo a ser libertado a 2 de Fevereiro de 1940.

    Um texto magistral sobre a emergência do fascismo e, provavelmente, a obra mais corajosa publicada no seu tempo em Portugal.

     

    Franco!

    Mar Nacional

    de todos los Rios

    Espirituales

    de España!

     

    «E foi para ler isto que eu vim! Foi para ler isto que estive dois dias na fronteira à espera! Foi para ler nas paredes da alfândega que «los Césares eram generales invictos» que deixei Portugal como quem deixa a crosta de uma chaga! E foi também para saber que todos os desconhecidos são suspeitos, «porque em todos os desconhecidos pode estar um espião», que vim! Para isto e talvez para muito mais… Menos para levantar o braço em saudação romana a este gordo D. Ramón. Não! os companheiros que saúdem e, depois, na solidão impressionante de Castela, se desdigam. Que levantem timidamente o braço e digam a seguir, baixinho, uma das sonoras asneiras nacionais. A mãi Ibéria cortar-me-ia o braço se o levantasse para saudar um tirano. Faça este carabineiro o que quiser. Faça a continência hipócrita ou agradecida à pequena bandeira portuguesa que vai à frente do carro a abrir caminho. As mãos ficam-me no bolso, regeladas. Clamem os companheiros contra a minha obstinação. para mim não se trata de salvar a viagem, não se trata de não arranjar complicações. Trata-se de não saudar este mar negro dos rios negros de Espanha. Porque o mar só contém isto: angústia estreme no rosto desta mãi viúva e sem filhos; desolação da terra, coberta de erva e restolho, a chorar o seu arado; desilusão sem remédio no todo desta rapariga de luto pelo seu noivo. Para não falar sequer nestes poucos homens da minha idade, que aparecem a cada passo, sem pernas, sem olhos, sem metade do corpo.

    Agora a saudação romana atravessa-me o coração. Vem duma criancita morena, risonha. Talvez seja por ela ser morena e risonha que o gesto me dói tanto. Ou talvez por ser apenas criancita. Talvez. Como não tem carabina à bandoleira, ninguém lhe responde; e ela, numa desforra castelhana, grita: — Arriba España! (…).»

    MIGUEL TORGA, O QUARTO DIA DA CRIAÇÃO DO MUNDO, COIMBRA, 1939

    Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes, a São Martinho de Anta, a 12 de Agosto de 1907, e faleceu em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995. Emigrou para o Brasil ainda jovem e, quando regressou em 1925, matriculou-se na Universidade de Coimbra onde se formou em Medicina. Esteve de início literariamente próximo do grupo da Presença, sediado em Coimbra. Por volta de 1930, estava já afastado do grupo, fundando a revista Sinal. Funda pouco depois a revista Manifesto. Começou a ser conhecido como poeta, tendo mais tarde ganho notoriedade com os seus contos ruralistas e os seus dezasseis volumes de Diário, estes publicados entre 1941-1995. Várias vezes nomeado para o Prémio Nobel da Literatura, tornou-se um dos mais conhecidos autores portugueses do século XX.

    Excelente biografia de Miguel Torga na BNP.: http://purl.pt/13860/1/index.html

    Informação adicional

    Autor

    Local de Edição

    Coimbra

    Ano

    1939

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