Descrição
136, [8] pp.; il.; 25 cm
DamiĆ£o de Góis, Alenquer, 1502 – Alenquer, 1574
Historiador, epistológrafo, músico, diplomata, alto funcionÔrio régio, distingue-se pelo seu cosmopolitismo no Renascimento, aliando o seu vasto saber e cultura à acção.
ĆrfĆ£o de pai em 1513, e acolhido no paƧo como moƧo de cĆ¢mara, a sua primeira educação decorre, portanto, na corte. Em 1523 ocupa a posição de secretĆ”rio da feitoria de Anvers. Daqui viaja extensamente pela Alemanha, Flandres, Brabante e Holanda. Em 1529 segue para o BĆ”ltico em missĆ£o oficial e visita Danzigue e os confins da LituĆ¢nia. Vai a Poznan e Ć corte de Cracóvia. Em 1531 estĆ” na DiĀnamarca. Visita Vitemberga e avista-se com Lutero e MeĀlĆ¢ncton. Em 1534 cessa todas as actividades oficiais para se dedicar expressamente ao estudo. Vive nesse ano em Basileia na companhia de Erasmo. Segue depois para PĆ”dua, onde vive quatro anos e frequenta a Universidade, viajanĀdo por Veneza, Roma e Nuremberga. Em 1538 dirige-se para Lovaina e aĆ constitui famĆlia.
O perĆodo de 1539 a 1542 caracteriza-se por uma intenĀsa actividade literĆ”ria. Escreve e publica, entre outros, os seguintes opĆŗsculos: Comentarii rerum gestarum in India (Lovaina, 1539) onde narra os sucessos do primeiro cerco de Diu; Fides, religio moresque Aethioporum sub impeĀrio Preciosi Joanni (Lovaina, 1540); Deploratio LappianƦ gentis (Paris, 1541). A guerra da Flandres, que o levara a descrever o cerco de Lovaina, Urbis Lovaniensis obsidio (Lisboa, 1546), no qual teve papel de relevo, obriga-o a regressar Ć pĆ”tria em 1545, talvez na esperanƧa de nela contribuir para o desenvolvimento do Humanismo da alta aristocracia na corte.
Acusado Ć Inquisição de heterodoxia, logo no ano do seu regresso Ć PĆ”tria, 1545, pelo seu antigo condiscĆpulo em PĆ”dua, o Pe. SimĆ£o Rodrigues de Azevedo, voltam as mesmas acusaƧƵes em 1571, do mesmo Pe. SimĆ£o e de um genro do próprio Góis, LuĆs de Castro, interessado nos seus bens, acusaƧƵes agora acrescentadas de ter privado com mĆŗsicos e de receber em sua casa mĆŗsicos e cantores para executarem missas e motetes. De facto, DamiĆ£o de Góis juntava a toda a sua vasta cultura a da arte musical: compositor, de que sĆ£o conhecidos vĆ”rios motetes e canƧƵes e executante, considerado como um dos maiores flautistas europeus do seu tempo. AliĆ”s, ainda em meados do sĆ©culo XX tinha lugar na Alemanha um festival internacional de flauta que levava o seu nome. Para alĆ©m da Livraria de D. JoĆ£o IV, onde havia um livro de motetes e canƧƵes de DamiĆ£o de Góis e de Josquin, as suas restantes composiƧƵes encontram-se na Alemanha, nomeadamente em Nuremberga, onde jĆ” no sĆ©culo passado foi descoberta uma composição sua a trĆŖs vozes, intitulada In die tribulationis.
Com tão graves acusações, a Inquisição prendeu-o em 1571, transferindo-o dos seus cÔrceres, após confisco dos bens, para o Mosteiro da Batalha, com residência fixa, Mosteiro onde terÔ morrido, segundo alguns investigadores (TomÔs Borba, p. e.), em 30 de Janeiro de 1572, ou de onde, segundo outros, terÔ sido transferido, doente, para uma casa de Alenquer, também com residência fixa, ali falecendo em 30 de Janeiro de 1574. Na Batalha ou em Alenquer, a sua morte esteve sempre rodeada de um certo mistério, havendo, por esse motivo, fortes suspeições de ter sido apressada.
Em 1603-1608, foi publicada em Frankfurt a obra, em quatro tomos, Hispaniae Illustrate seu rerum urbiunq: Hispaniae, Lusitaniae, Aethiopiae et Indiae scriptoris varii, em cujo tomo 3Āŗ. figuram numerosos textos extraĆdos da obra de DamiĆ£o de Góis, valorizados por uma nota biogrĆ”fica do cronista portuguĆŖs. O conjunto de toda a sua obra em latim foi reeditado num só volume intitulado Opuscula, Lisboa, 1791.
Centro de Documentação de Autores Portugueses, 05/2004