XX Dessins, Amadeo de Sousa-Cardoso, Paris, 1912, 1ª edição
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AMADEO DE SOUZA-CARDOSO.— XX DESSINS PAR AMADEO DE SOUSA-CARDOSO. [Achevé d’imprimir le XXI Aout MCMXII pour Amadeo de Sousa Cardoso par la Société Générale d’Impression 21, Rue Ganneron Paris].
Amadeo de Souza-Cardoso
(Manhufe, Amarante, 1887 —Espinho, 1918)
Amadeo de Souza-Cardoso nasce a 14 de Novembro de 1887 em Manhufe, no concelho de Amarante, e morre em Espinho a 25 de Outubro de 1918, vítima de gripe Pneumónica. Filho de proprietários rurais, Amadeo passa a infância na quinta da família, em Manhufe, faz o liceu em Coimbra, e, concluído o primeiro ano de Arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa, decide partir para Paris no dia do seu 19º aniversário, com o desejo de prosseguir os estudos na capital francesa. Em Paris integra uma colónia artística portuguesa de que fazem parte pintores como Francisco Smith (1881-1961), Manuel Bentes (1885-1961), ou Eduardo Viana (1881-1967), e cedo decide abandonar a Arquitectura em favor da prática da caricatura, chegando a publicar alguns desenhos na imprensa portuguesa. A partir de 1908, Amadeo vai-se concentrar exclusivamente na sua pintura, com declarada oposição familiar, sobretudo do pai, que mais tarde acabará por aceitar. A partir de 1909, começa a assistir regularmente às aulas do pintor espanhol Anglada-Camarasa (1871-1959) na Academia Vitti, vai-se interessando nos museus por arte primitiva e medieval, e aproxima-se de artistas como Constantin Brancusi (1876-1957) e sobretudo Amedeo Modigliani (1884-1920), com quem irá expor no seu próprio atelier em 1911. Nesse ano e no seguinte, anos intensos de trabalho, o artista participa em importantes exposições da vanguarda parisiense, como os XXVII e XXVIII Salons des Indépendants, ou o X Salon d’Automne, e em 1912 publica o álbum XX Dessins, com prefácio crítico de Jerôme Doucet, fundamental nos anos seguintes para a divulgação internacional da sua obra. É nessa época que conhece o casal de pintores Robert (1885-1941) e Sonia (1885-1979) Delaunay, que o irão ajudar a estabelecer uma rede de contactos no meio artístico parisiense, decisiva na concretização de importantes exposições em que participa no ano seguinte, na Alemanha e nos EUA. É em Nova Iorque que Amadeo conhece o maior êxito comercial e crítico da sua carreira, apresentando 8 obras na célebre exposição International Exhibition of Modern Art, conhecida como o Armory Show, que traz a arte moderna aos EUA. Foi um sucesso absoluto, com várias menções na imprensa, tendo sido dos artistas que mais venderam na exposição, ao lado de consagrados como Signac, Derain ou Duchamp; consegue assim entrar em importantes colecções norte-americanas, sendo fundamental na sua promoção o crítico norte-americano Walter Pach. No mesmo ano, participa no importante Erster Deutscher Herbstsalon (Primeiro Salão de Outono Alemão), expondo com os futuristas italianos e o grupo Der Blaue Reiter, e no princípio de 1914 expõe o álbum XX Dessins, e provavelmente os desenhos originais, na Escola de Artes e Ofícios de Hamburgo. É decisiva para a sua entrada no circuito expositivo alemão a amizade que estabelece desde 1912 com o pintor Otto Freundlich (1878-1943), que conhecera através de Modigliani. Em Agosto de 1914, Amadeo é surpreendido pelo início da Grande Guerra em Barcelona, onde conhece o arquitecto Gaudì, seguindo depois para o Porto, cidade onde se casa com Lucie Pecetto, sua companheira de Paris. No Outono, instala-se em Manhufe, no atelier da Casa do Ribeiro, que seu pai mandara construir em 1910. Apesar de sucessivas tentativas, não mais regressará à capital francesa. Em 1915-1916 colabora com o casal Delaunay, que então vivia em Vila do Conde, com Eduardo Viana e Almada Negreiros (1893-1970) na formação do grupo Corporation Nouvelle, que tinha o projecto de realizar exposições itinerantes de arte moderna em cidades europeias como Barcelona e Estocolmo, as Expositions mouvantes, que não seriam concretizadas numa Europa em guerra. No final do ano de 1916, Amadeo realiza as suas únicas exposições individuais em Portugal, primeiro no Porto (Salão de Festas do Jardim Passos Manuel, 1 a 12 de Novembro) e depois em Lisboa (Liga Naval, 4 a 18 de Dezembro). A surpresa é total, do público e crítica portugueses, perante a novidade radical da sua pintura. Dá importantes entrevistas a periódicos nacionais como O Dia e o Jornal de Coimbra, onde expõe com escândalo as suas ideias artísticas, atacando com irreverência futurista a arte académica e fazendo a apologia da originalidade. Almada Negreiros distribui um manifesto da exposição de Lisboa, apresentando Amadeo como “a primeira descoberta de Portugal na Europa do século XX”. Em 1917, em estreita colaboração com este último, Amadeo concebe o grafismo da edição do poema futurista de Almada K4 O Quadrado Azul, a si dedicado, e pinturas suas são reproduzidas na revista Portugal Futurista, apreendida pelas autoridades da época. A partir desse ano, a pesquisa formal do artista intensifica-se, e produz isolado em Manhufe as suas últimas obras, até ao início de 1918, com soluções de radical originalidade no contexto europeu, integrando na sua pintura colagens de vários materiais e objectos do quotidiano, ou sinalizando-a com letreiros inspirados na publicidade, antecipando assim práticas que serão desenvolvidas no imediato pós-guerra, sobretudo por artistas de filiação dadaísta.