Sophia de Mello Breyner Andressen, Contos exemplares, Livraria Morais Editora, Lisboa, 1962
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1ª edição. Invulgar.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Porto, 1919 - Lisboa, 2004
Fundamentalmente poeta e contista, Sophia de Mello Breyner passou a infância e a adolescência no Porto e frequentou o curso de Filologia Clássica em Lisboa, onde passou a viver. Presidiu por duas vezes à Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Escritores, foi candidata pela Oposição Democrática nas eleições legislativas de 1969 e, antes do 25 de Abril, participou na fundação do Comité Nacional de Socorro aos Prisioneiros Políticos. Em 1975 foi eleita deputada à Assembleia Constituinte.
Editou o seu primeiro livro de poemas, intitulado Poesia, no ano de 1944, e desde então publicou vários livros de poemas, contos e ensaios. Traduziu para português a Anunciação a Maria de Paul Claudel (1962), o «Purgatório» da Divina Commedia de Dante (1962, com prefácio do Prof. Vieira de Almeida), Hamlet (1987) e Muito Barulho por Nada (inédito) de Shakespeare, Ser Feliz e Um Amigo de Leit Kristiansson (1973) e Medeia de Eurípedes (inédito). Traduziu para francês uma centena de poemas de Camões, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em França, em Itália e nos Estados Unidos da América. Recebeu vários prémios literários e condecorações, de que se destacam o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1980; os Prémios D. Dinis e do Pen Club, atribuídos a Ilhas em 1989; e, em 1994, o Prémio de Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
A afirmação literária de Sophia está intimamente associada à sua colaboração em Cadernos de Poesia (1940) e em outras de uma série de revistas que se sucederam em Portugal nos anos 40 e 50, designadamente Távola Redonda (1950) e Árvore (1951).
Ao lado de Jorge de Sena, Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, Tomaz Kim, Eugénio de Andrade, Alexandre O'Neill, David Mourão-Ferreira, António Ramos Rosa, entre outros, pode dizer-se que essa é de algum modo a geração que consolida a modernidade, se por isso se entender a linguagem poética enquanto voz de uma autenticidade, mais do que apelo de ruptura. Um ideal de depuração e de contenção os une, como se o formal fosse ainda parte do humano, como se qualquer forma de atavismo poético fosse aí excessiva. Entre a «poesia do real» e a «poesia do surreal» (cf. Clara Rocha, Revistas Literárias do Século XX em Portugal, Lisboa, 1985), estas são as vozes de uma poesia pura, decantada, que, longe de ceder à facilidade de um imediatismo da intuição poética, antes valoriza a própria busca do mistério poético – e só nesse sentido algum culto das suas técnicas de expressão – como obstinada, contínua celebração.
O que à escrita de Sophia confere uma intemporalidade é em boa parte a lisura da notação lírica: as coisas, os tempos, os dias, os mares são em poemas muitas vezes breves evocados com a dimensão e com o rigor dos grandes espaços e de certa solidão da escrita neles; e é um despojamento que sistematicamente remete para os mitos mais antigos da vocação humana: «Entro na loja dos barros [...] Barro que desde tempos imemoriais os homens aprendem a modelar numa medida humana [...] A beleza da ânfora de barro pálido é tão evidente, tão certa [...] O reino agora é só aquele que cada um por si mesmo encontra e conquista, a aliança que cada um tece. Este é o reino que buscamos nas praias de mar verde, no azul suspenso da noite, na pureza da cal, numa pequena pedra polida, no perfume do orégão. Semelhante ao corpo de Orfeu dilacerado pelas fúrias este reino está dividido. Nós procuramos reuni-lo, procuramos a sua unidade, vamos de coisa em coisa» (Arte Poética, I, 1972). «De coisa em coisa», um nimbo de nostalgia envolve quase sempre este discurso poético que recorrentemente adopta o perfil clássico de uma «loja de Creta» como quem quer verificar que «o equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si» (Arte Poética, II, 1972), ou como quem, à maneira de Rainer Maria Rilke, nelas reconhece uma unidade primordial e no poema «o selo da aliança do homem com as coisas» («Poesia e Realidade», in Colóquio Artes e Letras, Abril 1960).
Uma mesma necessidade de retomar a magia dos seres imanentes à vida atravessa as suas obras de literatura infantil, enquanto os seus contos para adultos, sem deixarem de buscar o elementar e o essencial, contêm igualmente uma lúcida e sensível crítica da sociedade que a rodeia. Jorge de Sena (in Dicionário de Literatura Portuguesa e Teoria Literária, dirigido por João José Cochofel, 1977) situa a obra de S. de M.B.A. «na linha de Teixeira de Pascoaes, mas também de Hölderlin, Rimbaud, Rilke, o Fernando Pessoa ortónimo e Cecília Meireles, ou seja a do pós-simbolismo ou de poetas anteriores que o pós-simbolismo revalorizou pela concentração imagética e sibilina [...]» e identifica-a como «ao mesmo tempo distante e apaixonada, concisa e eloquente, [...] poeta de fluente e escultural segurança expressiva [...]». Enquanto David Mourão-Ferreira (in Vinte Poetas Contemporâneos, 1980) nota a falta que «a "correlação objectiva" que o motivo representa» faz nesta poesia mais movida por temas do que por motivos, «mais expirada que inspirada, – e cuja expiração se traduz numa obsidiante presença do decassílabo», no risco de uma monótona «uniformidade de tom». Sem deixar de reconhecer em Sophia «um caso ímpar na poesia portuguesa, não só pela difusa sedução dos temas ou pelos rigores da expressão, mas sobretudo por qualquer coisa, anterior a tudo isso, que em tudo isso se reflecte: uma rara exigência de essencialidade.»
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997