Soares, Luís Lousada. Edgar Cardoso : Engenheiro Civil. FEUP, Porto, 2003
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370 pp.; il. 30 x 32 cm
Mantém a sobrecapa e a caixa protectora.
Edgar Cardoso, 1913-2000
Engenheiro e professor universitário
Edgar António de Mesquita Cardoso nasceu no Porto, em 11 de Maio de 1913, no primeiro andar do nº 245 da Rua Pinto Bessa, na freguesia do Bonfim. Era filho de Francisco Vítor Cardoso, Oficial de Infantaria com o Curso do Estado-maior e Engenheiro Civil de Minas, e de Amélia Teixeira de Mesquita Cardoso, proprietária em Belém, no Pará, Brasil. Casou em 1941 (7 de Junho) com Margarida Congeol, de quem não teve filhos.
Edgar Cardoso passou os primeiros anos da sua infância no Porto, mas ainda muito novo foi viver com a família para a Beira Alta, em resultado da transferência do pai, que era Alferes de Infantaria. Daí seguiriam depois para Lisboa, onde Edgar frequentou a escola primária.
Quando tinha cerca de 11 anos de idade, a família voltou ao Porto. Passado pouco tempo, o seu pai, Capitão prestes a ser promovido a Major, passou à Reserva para se tornar diretor de Estradas da JAE, no distrito de Bragança e, depois, no de Vila Real. Nessa época, os sete filhos do casal viviam só com a mãe durante a semana e as férias grandes eram passadas na Quinta de Resende, de que Edgar tanto gostava.
Em 1924, matriculou-se na 1ª classe do ensino secundário, no Liceu Alexandre Herculano, no Porto. Terminou o curso em Junho de 1931 (na 7ª classe de Ciências), com quinze valores. Matriculou-se, seguidamente, na Faculdade de Ciências nos preparatórios de Engenharia e, depois destes estarem concluídos, nos Cursos de Engenharia Eletrotécnica e Civil, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. No último ano de licenciatura, foi obrigado a optar por um dos cursos, escolhendo, por influência paterna, o de Engenharia Civil, que concluiu em Julho de 1937, com a média de dezassete valores.
Terminada a licenciatura, estagiou na Divisão de Pontes da JAE, em Lisboa, entre os meses de Agosto e Setembro. Com o relatório de estágio, louvado pelo Engenheiro Militar Silveira e Castro, presidente da JAE e da Comissão Administrativa da Urbanização Costa do Sol, foi aprovado na FEUP com dezanove valores e convidado, pelo mesmo Silveira e Castro, a trabalhar naquela Comissão; competia-lhe o cálculo da passagem de betão armado sobre a auto-estrada Lisboa-Estádio Nacional, na Cruz das Oliveiras.
Em Janeiro de 1938 ingressou na JAE como Engenheiro Civil de 3ª classe, trabalhando na Direção de Pontes. Durante cerca de três anos manteve a colaboração com a Comissão, em horário pós-laboral.
Na JAE, foi nomeado Engenheiro de 2ª classe, em 1944, e de 1ª, em 1951. Nesta fase da sua vida estudou, projetou e construiu essencialmente pontes, mas também se dedicou a trabalhos de investigação, sendo o introdutor em Portugal da investigação experimental em Engenharia Civil, na área de Estruturas, tendo recebido uma bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura.
Em 1947 (Agosto) foi nomeado Presidente da Comissão de Estudo da Reorganização da Cerâmica de Construção, do Ministério da Economia, e participou em trabalhos do Conselho Superior de Obras Públicas. Foi igualmente vogal da Comissão de Revisão e Instituição de Regulamentos Técnicos, entre 1951 e 1983, e vogal agregado desse Conselho, entre 1956 e 1965, e 1969 e 1983. Como reconhecimento da contribuição que lhe fora prestada desde 1951, o Conselho propôs em 1987 que lhe fosse atribuído um Louvor, concedido pelo Ministro das Obras Públicas, Eng.º João de Oliveira Martins.
Paralelamente à carreira no sector público, também trabalhou no privado. Em 1944 instalou o seu escritório (Laboratório de Ensaio e Estudo de Estruturas e Fundações Eng. Edgar Cardoso), no primeiro andar direito, do nº 172, da Avenida Elias Garcia (morava no terceiro andar direito do mesmo prédio), transferido em 1958 para a Rua Andrade Corvo (7º andar do nº 29) e que em 1992 se transformou numa sociedade.
Desenvolveu igualmente uma brilhante carreira académica e científica. Aos 35 anos, o seu currículo era já invejável, se atentarmos na dissertação e memória apresentada no concurso de catedrático no Instituto Superior Técnico, por solicitação do Conselho Escolar, no qual constam, entre outras atividades, o projeto e acompanhamento de execução de trinta e cinco pontes, oito reparações de pontes, as estruturas das novas faculdades de Letras e de Medicina, em Coimbra, e do Cine-Teatro Império, em Lisboa.
Em 22 de Dezembro de 1951 tomou posse do referido lugar de Professor Catedrático de Pontes do Instituto Superior Técnico, por dois anos, passando a nomeação definitiva logo em 1953. Em 18 de Novembro de 1960 foi admitido como sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, ocupando a cadeira deixada vaga pelo Professor Reynaldo dos Santos. Em 12 de Dezembro de 1968 tornava-se sócio efetivo. Nesta Academia apresentou comunicações sobre temas da sua especialidade, bem como sobre fotografia e cinema de panorâmicas totais.
O marcante, mas ao mesmo tempo implacável professor, foi obrigado a interromper a atividade docente entre 1974 (final de Outubro) e 1979, por ser acusado de defender o regime fascista. Readmitido depois de 1979, lecionou até se aposentar em 1983, as cadeiras semestrais de Pontes e de Estruturas Especiais que, a partir da reforma dos planos de estudo em 1970, substituíram a cadeira anual de Pontes e, ainda, a de Dimensionamento de Estruturas, também semestral.
Na altura da reintegração no Técnico foi ressarcido das remunerações devidas, no valor de um milhão de escudos, dinheiro que doou ao Estado, destinando-o a atividades de interesse nacional. O Governo usaria este dinheiro para instituir a Fundação Edgar Cardoso, com o intuito de conceder bolsas de estudo a alunos e doutorandos do IST, na área de Pontes e Estruturas Especiais, e atribuir prémios a trabalhos de investigação ou projetos de engenharia nesse domínio.
Depois do reingresso no IST, a sua atividade privada como Engenheiro alargou-se consideravelmente, tanto no país como no estrangeiro. Em 1990, o seu currículo referia cerca de 500 estudos e projetos de pontes e o estudo e projeto de estruturas especiais, como edifícios, pontes-cais, aeroportos sobre o mar, e de consolidação de muros de suporte de taludes.
Desde o início da sua carreira publicou artigos em revistas como a Técnica do IST, a Revista da Faculdade de Engenharia e o Boletim da Ordem dos Engenheiros e nas Memórias e Boletins da Academia das Ciências de Lisboa.
Das suas intervenções no estrangeiro destacam-se, além das obras projetadas, a participação no júri de apreciação dos trabalhos das pontes e viadutos das Autopistas de Barcelona, em 1969, e o convite do Governo Italiano para participar na discussão sobre o atravessamento rodo e ferroviário do estreito de Messina, em 1974.
Máquina de invenção de Edgar CardosoDa obra projetada devem salientar-se as suas distintas e poéticas pontes. Verdadeiras esculturas, como lhes chamaram. Inovadoras, imponentes, leves e esteticamente modernas. Tão surpreendentes como desrespeitadoras de prazos e orçamentos. Fruto da sua impressionante capacidade inventiva e habilidade manual, nasciam a partir de modelos ou maquetas, em diversos materiais e estruturalmente estudadas com aparelhos da sua autoria.
Nas memórias do engenheiro foram sempre evocadas a Ponte de Mosteirô, no Douro Médio, uma das primeiras que realizou, a da Arrábida, na Foz do Douro, que não caiu, como esperavam muitos dos especialistas que acorreram ao Porto no dia da sua inauguração (22 de Junho de 1963) ou a Ponte de S. João, a sua última ponte, inaugurada no dia de S. João de 1991.
Solitário e desiludido por não receber solicitações para novos projetos, morreu a 5 de Julho de 2000, no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, e com ele desapareceu um dos maiores génios da história da engenharia civil nacional e internacional.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)