Raúl Rego, História da República, Cl, Lisboa, 1986, 5 volumes
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Completo.
Raúl Rêgo 1913 - 2002
Cidadão da Resistência e homem íntegro, que se bateu desde jovem pela Democracia e pela Liberdade. Jornalista, de ideais republicanos e socialistas, foi um nome que marcou a história do jornalismo e da luta pela liberdade de imprensa.
Interveio em todas as acções do Movimento de Unidade Democrática – MUD (1945 a 1948). Com António Sérgio e outros democratas tentou criar, em 1945, um Partido Trabalhista. Foi um dos fundadores da Acção Democrato-Social (1963-1964) e integrou a Acção Socialista Portuguesa (1964-1973). Foi candidato à Assembleia Nacional, nas listas da Oposição, em 1965, 1969 e 1973.
Pertenceu ao grupo dos fundadores do Partido Socialista, em 1973. Após o 25 de Abril foi ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório e deputado do PS (desde a Assembleia Constituinte até ao fim da VII Legislatura).
1. Raul d’ Assunção Pimenta Rêgo nasceu no seio de uma família humilde a 15 de Abril de 1913, em Morais (Macedo de Cavaleiros) e faleceu em Lisboa, a 1 de Fevereiro de 2002. Era um dos cinco filhos de Manuel do Rêgo (sapateiro) e Vitória Pimenta (costureira). Viveu na sua aldeia natal até aos 11 anos de idade. Em 1924, concluído o ensino primário (onde adquiriu valores republicanos transmitidos pela professora), partiu para Viana do Castelo, para ingressar na Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria, um seminário destinado à preparação de futuros missionários. Fez um ano de noviciado, entre 1931-1932, adquirindo aí saberes e vivências que o marcariam profundamente. Foi durante esse período que travou conhecimento com o padre Joaquim Alves Correia (voz incómoda no seio da Igreja Católica, seu professor de Teologia Moral, de quem se tornaria amigo) (1). Concluiu o curso de Teologia em 1936, mas não recebeu as ordens e abandonou os estudos no ano seguinte. Aos 24 anos, meses antes de ser ordenado sacerdote, Raul Rêgo deixou o seminário. Frequentou depois a Escola Superior Colonial.
Por essa altura, manteve-se próximo do padre Alves Correia que lhe deu grande apoio nessa (difícil) fase da sua vida e o colocou em contacto com diversas personalidades da Oposição: João Soares (pai de Mário Soares), António Sérgio, Nuno Simões, Hélder Ribeiro, Gustavo Soromenho, Álvaro Salema, entre muitos outros. Colaborou na revista Sol Nascente (1937) e, em 1938, começou a leccionar no Colégio Moderno, em Lisboa (2). Durante o ano lectivo de 1938-1939, foi aí professor de Moral, Latim e Administração Pública/Organização Política e, nessa ocasião, viu-se afastado do ensino por decisão do Departamento do Ensino Particular (3). Voltou a dar explicações particulares, tal como fizera antes, após o abandono do seminário. A partir de 1940, Raul Rêgo continuou ligado ao mundo da imprensa, onde já havia entrado em 1937 com uma breve passagem pelas revistas “Sol Nascente” e “Seara Nova” (com as quais iria manter uma colaboração episódica). Durante as décadas seguintes, desenvolveu uma vasta e notória carreira profissional no jornalismo, nomeadamente na agência noticiosa Exchange Telegraph/Reuters (1940-1959), no “Jornal do Comércio” (1942-1972), no Diário de Lisboa, a partir de 1959, e no jornal República desde Dezembro de 1971, ficando à frente da direcção desse vespertino a partir de 1972 (modernizando-o e tornando-o porta-voz da Oposição).
Foi presidente da direcção da Casa da Imprensa em 1965 e 1966.
2. A intervenção de Raul Rêgo na luta política nunca abrandou. Esteve na direcção dos serviços de imprensa das candidaturas à Presidência da República dos generais Norton de Matos (1949), Quintão Meireles (1951) e Humberto Delgado (1958). Em 1961 subscreveu o “Programa para a Democratização da República”; foi membro da Acção Democrato-Social (1963-1964) (4) e da Acção Socialista Portuguesa (1964-1973). Foi candidato pela Oposição à Assembleia Nacional em 1965, 1969 (CEUD) e 1973.
Em 1969, fez parte da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e participou no II Congresso Republicano de Aveiro, com uma tese intitulada «A Censura Administrativa à Imprensa». Em 1973, fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado também em Aveiro, tendo apresentado uma tese intitulada «Da Censura Prévia ao Exame Prévio».
Durante a Ditadura participou em organismos ligados aos direito humanos, como a Liga Portuguesa dos Direitos do Homem, a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e a Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão; e subscreveu inúmeros abaixo-assinados em defesa dos direitos e liberdades, que o Estado Novo retirara à sociedade portuguesa.
O seu percurso de cidadão antifascista ficou marcado pela repressão, a que o regime ditatorial do Estado Novo não poupava os oposicionistas. Raúl Rêgo foi detido por três vezes e mantido preso nas prisões políticas: na apresentação do Programa para a Democratização da República (1961), aquando da sua deslocação a Espanha, por ocasião das cerimónias fúnebres de Humberto Delgado (1965) e na sequência da publicação do seu livro ”Para um Diálogo com o Sr. Cardeal Patriarca” (1968). Foi inúmeras vezes sujeito a interrogatórios na polícia política, chamado a prestar declarações por autoridades oficiais do regime e ameaçado física e psicologicamente, (nomeadamente com o exílio em Timor).
Em 1970 voltou a ser detido pela DGS, para ser sujeito a interrogatórios durante várias horas acerca da sua opinião quanto aos “problemas ultramarinos” – interrogatórios que se repetiram quatro vezes – após o que lhe foram aplicadas “medidas de segurança” por um período de seis meses: não poderia afastar-se de Lisboa sem prévia autorização, não poderia «promover ou participar em actos que possam prejudicar a política ultramarina portuguesa» e – o que era mais grave, pois cerceava a sua liberdade de jornalista – não poderia «publicar notícias com o mesmo fim».
Viu quatro livros da sua autoria serem apreendidos: “Para um Diálogo com o Sr. Cardeal Patriarca” (1968), “Horizontes Fechados” (1969), “Diário Político” (1969) e “Os Políticos e o Poder Económico” (1969).
3. Depois do 25 de Abril, Raul Rêgo continuou bastante activo em termos profissionais, cívicos e políticos. Aceitou ser ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório, depois de ter recusado o convite do general Spínola para Primeiro-ministro. Regressou depois à direcção do jornal República. Em Maio de 1975, problemas internos, ligados à agitação política da época, levaram à suspensão do jornal. Fundou, então, o jornal de cariz socialista A Luta (1975-1979).
Foi deputado na Assembleia Constituinte e, depois, até ao fim da VII Legislatura. Embora com funções suspensas desde 1997, por motivos de doença, a sua última intervenção pública ocorreu no Parlamento onde foi para votar a favor da despenalização do aborto.
Manteve-se ligado à Comunicação Social colaborando com diversas publicações: o “Correio do Minho”, o “Diário de Lisboa”, o “Diário de Notícias”, o “Diário Popular” e o “Jornal de Notícias”.
Foi membro da Sociedade Portuguesa de Escritores e do Centro Nacional de Cultura.
Ingressou na Maçonaria em 1971 e viria a ser Grão-Mestre entre 1988 e 1990.
4. Deixou vasta obra nos domínios da política, da história, da literatura e do jornalismo (5). Além de múltiplos crónicas e artigos publicados, essencialmente no “Diário de Lisboa” e no “Jornal do Comércio”, publicou numerosas obras, de carácter literário, político e histórico, designadamente: Diário Político (Lisboa, 1969), Horizontes Fechados (Lisboa, 1969), Os Políticos e o Poder Económico (Lisboa, 1969), O Último Regimento da Inquisição Portuguesa (Lisboa, 1971), Depoimento ou Libelo (Lisboa, 1975) e História da República, 5 vols. (Lisboa, 1986-1987).
Sobre a sua vida profissional e política, Natália Santos defendeu, na Universidade de Coimbra, em 2007, uma tese de mestrado intitulada “Raul Rêgo – O Jornalista e o Político”.
5. Enquanto jornalista, Raul Rêgo foi distinguido com o prémio Bayer (1969) e, em 1976, recebeu, em Itália, a Pena de Ouro da Liberdade, atribuída pela Federação Internacional dos Directores de Jornais, precisamente pela sua luta pela liberdade de imprensa.
Foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade (1980) e com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (1998).
Em 2013, na celebração do centenário do seu nascimento, foi homenageado na Biblioteca Nacional; e, em 2014, na sua terra natal, Macedo de Cavaleiros, foi homenageado numa iniciativa da Nordeste Global - Associação Cívica, Cultural, Social e de Desenvolvimento Regional.
A Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe homenagem ao atribuir o seu nome a uma rua na freguesia da Charneca, no Alto do Lumiar (2005, no dia Mundial da Liberdade de Imprensa)
Notas:
(1) Dele, Raul Rêgo diria, mais tarde, ter sido a pessoa que mais o influenciou (pessoal e intelectualmente) em toda a sua vida: um verdadeiro exemplo de honestidade, pureza, humildade, rectidão e de defesa de valores como os da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da reconciliação e da tolerância.
(2) Colégio de João Soares
(3) Devido a artigo publicado no jornal dos estudantes, pelo qual era o responsável, tornando-se o primeiro professor do ensino particular a ser demitido.
(4) A estrutura que em 1963 passou a designar-se por Acção Democrato-Social manteve-se em actividade até 1974, promovendo acções de formação cívica e exposições e protestos ao Presidente da República e ao Presidente do Conselho. Além de Raul Rêgo, foram seus fundadores: Acácio Gouveia, Cunha Leal, Carlos Sá Cardoso, Carlos Pereira, Moreira de Campos e Nuno Rodrigues dos Santos.
(5) Na condição de historiador, fez a introdução à obra de Ribeiro Sanches (por si editada) “Christãos Novos e Christãos Velhos em Portugal” (1956); recolheu, publicou e editou “Inéditos de Camilo: Anotações de Camilo à «História de Portugal nos Séculos XVII e XVIII» de Rebelo da Silva” (1959); traduziu uma obra de André Bisso, “Como foi Salvo um Milhão de Judeus” (década de 60); redigiu o “Elementos para a História da Freguesia de S. José de Godim” (1961); prefaciou, actualizou ortograficamente, pontuou e anotou “O Processo de Damião de Goes na Inquisição” (1971); introduziu e actualizou “O Último Regimento da Inquisição Portuguesa”, publicado pelas Edições Excelsior (1971); publicou “Os Índices Expurgatórios e a Cultura Portuguesa” (1982); fez a leitura e o prefácio de “O Último Regimento e o Regimento da Economia da Inquisição de Goa” (1983); publicou cinco volumes dedicados à “História da República” (1986-1987) e prefaciou o livro de José Brandão “A Noite Sangrenta” (1991), entre outros.
A faceta de homem devotado às Letras, à Arte e à Cultura, por seu turno, ficou devidamente espelhada em iniciativas várias, com destaque para as seguintes: publicou “Duas Cartas Inéditas de Alexandre Herculano” (1955); foi o autor da nota introdutória do “Doze Sonetos por Varias Acciones”, de D. Francisco Manuel de Melo, publicado pelo Mundo do Livro (1960); apresentou o catálogo de Maria Fernanda Amado, “Óleos e Pinturas” (1965); prefaciou o “Descrição Bibliográfica de uma Preciosa e Única Colecção de Livros Portugueses em Tiragens Especiais em 20 anos Reunida pelo Livreiro-antiquiário João Lopes Holtreman”, de Manuel Ferreira (1982); e escreveu a introdução de uma obra oitocentista de José Agostinho de Macedo intitulada “Os Burros” (1993).
Biografia da autoria de Helena Pato
Fontes:
- Biografia da autoria da historiadora Natália Santos, publicada no Grupo Fascismo Nunca Mais (redigida a partir de uma tese de mestrado da historiadora, publicada em 2007)
- Candidatos da oposição à Assembleia Nacional do Estado Novo
https://www.parlamento.pt/ArquivoDocumentacao/Documents/Candidatos_Oposicao.pdf
- https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/Biografia.aspx?BID=615
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Rêgo