Pinto, Fernão Mendes. Peregrinação. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983
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778 pp.; 24 cm. B.
Fernão Mendes Pinto, Montemor-o-Velho, 1510? - Almada, 1583
Um dos escritores portugueses mais apaixonantes do século XVI, autor da Peregrinação (1614), postumamente publicada.
Quase tudo o que sabemos da sua biografia é o que por ele vem narrado na sua obra: nasceu em Montemor-o-Velho, à volta de 1510, pertencendo a uma família modesta a que não faltava talvez certo título de nobreza. Muito moço foi trazido para Lisboa por um seu tio, que o pôs ao serviço de uma senhora «ilustre».
Por inexplicados motivos de segurança pessoal, fugiu de casa, embarcou numa caravela que se dirigia a Setúbal e foi assaltada por um corsário francês. Lançado numa praia alentejana, volta para Setúbal, onde entra ao serviço de um nobre, Francisco de Faria, da casa de D. Jorge, o filho bastardo de D. João II. Daí parte para a Índia, talvez em 1537.
As aventuras que o saltearam ao longo da costa portuguesa multiplicam-se assim que chega ao Índico. Participa, em 1538, num cruzeiro ao mar Vermelho. Pouco depois, fica cativo de muçulmanos que o vendem a um grego e, depois de passar por outras mãos, é resgatado em Ormuz. Para Malaca segue com Pedro de Faria, que ocupava o cargo de governador, sendo este possivelmente aparentado com o Faria setubalense. Malaca torna-se o centro das novas aventuras que o levam a percorrer a costa da Birmânia, Sião, o arquipélago de Sunda, Molucas e Japão. São vinte e um anos de uma experiência espantosa, em que conheceu grandezas e misérias, em que foi náufrago, treze vezes cativo e dezasseis ou dezassete vendido, e emissário em embaixadas de grande pompa oriental.
Dados mais exactos acerca da biografia de Fernão Mendes Pinto são-nos fornecidos por cartas suas e dos jesuítas com quem conviveu, incluindo S. Francisco Xavier, assim como pelo que dele nos conta Francisco de Sousa no seu Oriente Conquistado. Sabemos, assim, que teve uma crise de consciência e que parte para o Japão, em 1554, como noviço da Companhia de Jesus. Desencantado, porém, com esta experiência, regressa ao reino, onde em vão tenta obter uma tença pelos seus serviços à coroa, tarde lhe sendo dada uma magra recompensa. Tendo-se retirado para Val de Rosal, em Almada, aí passou o resto dos seus dias escrevendo a Peregrinação, como obra de ensinamentos até que a morte o veio surpreender em 8 de Julho de 1583.
A Peregrinação é, obviamente, uma obra de imaginação, mas baseada na experiência de um Oriente vivido e sentido, que traz ao leitor europeu, do seu e do nosso tempo, o fascinante elemento do exotismo. Discute-se ainda hoje o género literário em que ela se integra. Encontram-se nela características evidentes da narrativa picaresca, mas há no livro uma preocupação moral e satírica, uma irónica denúncia de falsos valores pelo exemplo, que fazem da obra uma sátira de costumes e ideias, na linha do que será um dia o conto filosófico de Voltaire.
A Peregrinação não tardou a ser traduzida nas principais línguas europeias. Há ainda, de Fernão Mendes Pinto, coligidas por Rebecca Catz, Cartas de Fernão Mendes Pinto e Outros Documentos, Lisboa, 1983.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989