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Novidades Artes Decorativas/ Artes Gráficas

Manoel de Sousa Pinto, Rafael Bordalo Pinheiro, Livraria Ferreira, Lisboa, 1915, 155 pp.

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Obra de referência sobre Bordalo Pinheiro.

 

Raphael Augusto Bordallo Prestes Pinheiro nasceu a 21 de Março de 1846 no nº 47 da Rua da Fé, em Lisboa. Apaixonado pelo lado boémio da vida lisboeta e avesso a qualquer disciplina, matriculou-se sucessivamente na Academia de Belas-Artes (desenho de arquitectura civil, desenho antigo e modelo vivo), no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática, para logo de seguida desistir. Estreia-se como actor no Teatro Garrett e no luxuoso Theatro Thalia na costa do Castelo.

Preocupado com o futuro do filho, Manuel Maria arranja-lhe um lugar na Câmara dos Pares (1863) onde recebia 25 mil reis mensais. Se Rafael ainda estava indeciso, depressa descobriu a sua verdadeira vocação a partir das intrigas políticas nos bastidores, óptimo campo aberto à veia humorística.

Casado desde 1866 com Elvira Ferreira de Oliveira, contra a vontade dos pais da noiva, procura primeiro ganhar a vida como artista plástico, influenciado pelo ambiente familiar. Em Setembro de 1968 inscreve-se como membro da Sociedade Portuguesa concorrendo com regularidade, entre 1868 e 1874, às exposições promovidas pela Sociedade Promotora de Belas-Artes com composições realistas. Na 7ª exposição (1868) apresenta 8 aguarelas inspiradas nos costumes e tipos populares, com preferência pelos campinos de trajes vistosos.

Começou a fazer caricatura por brincadeira. Mas é a partir do êxito alcançado pel'O Dente da Baronesa (1870), folha de propaganda a uma comédia em 3 actos de Teixeira de Vasconcelos, que Bordalo entra definitivamente para a cena do humorismo gráfico. "Comecei a sentir um formigueiro nas mãos e vai pus-me a fazer caricaturas", explica em tom irreverente o artista para quem o propósito das "caricaturas é estragar o estuque de cada um com protesto do senhorio". Em 1870 publica o álbum Calcanhar de Aquiles, a 1ª série da colecção A Berlinda e a revista O Binóculo.

No ano seguinte, o quadro de vastas dimensões desenhado numa simples folha de papel - "Bodas de Aldeia" -, inspirado numa cena ribatejana, é premiado na Exposição Internacional de Madrid e, no ano seguinte, conclui o ciclo de desenhos a carvão com "O Enterro na Aldeia". Ao mesmo tempo que concorre às exposições da Promotora, desenvolve paralelamente a faceta de ilustrador e decorador, compondo desenhos para almanaques, anúncios e revistas estrangeiras como "El Mundo Comico" (1873-74), "Ilustrated London News", "Ilustracion Española y Americana" (1873), "L'Univers Illustré" e "El Bazar".

Até à Lanterna Mágica publicada em 1875, berço de origem do Zé Povinho, são numerosos os trabalhos. Em 1872 entra no universo da histórias aos quadradinhos a partir de uma sátira à viagem de D. Pedro II pela Europa -"Apontamentos sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa - que teve três impressões. Seguiram-se os frontispícios do jornal de Artes e Letras (1872) e do Almanach das Artes e Letras (1874). Publicou 2 fascículos de M. J. ou a História Tétrica d'uma Empreza Lyrica(1873), os 2 volumes do Almanaque de Caricaturas (1873-74), colecção de portraits-charge de vários actores, e a admirável colecção de litografias Os Theatros de Lisboa (1875).

A 19 de Agosto de 1875 parte para o Brasil onde trabalha nos jornais O Mosquito, Psit!!! e O Besouro e desfruta dos prazeres do Rio de Janeiro com os seus companheiros da "República das Laranjeiras". Do lado de lá do oceano Atlântico continua a enviar a sua colaboração para jornais e revistas, exemplo disso é o Álbum de Phrases e Anexins da Língua Portuguesa (1876) e o Almanaque da Senhora Angot (1876-77). As saudades da Pátria e as constantes ameaças contra a sua vida fazem-no regressar a Portugal, onde chega em Maio de 1879, para começar logo a trabalhar n'O António Maria (1879). Seguiu-se o Álbum das Glórias (1880), No Lazareto de Lisboa (1881), Pontos nos iis (1885) e, finalmente, A Paródia (1900).

Em 1884, paralelamente à sua actividade como caricaturista e ilustrador, experimenta o barro nas oficinas de Gomes de Avelar e, pouco tempo depois, continua durante 21 anos na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

Em 1885 homenageia os companheiros do Grupo do Leão com um painel decorativo no Café Leão de Ouro.  E ainda tem tempo para, juntamente com os seus irmãos Columbano e Maria Augusta participar na redecoração do interior do Palácio do Beau Séjour. Pela decoração do Pavilhão de Portugal na Exposição de Paris de 1889 recebe a Legião de Honra. É distinguido internacionalmente em 2 publicações parisienses de J. Grand Na madrugada de 23 de Janeiro de 1905 não resiste a uma lesão no coração e morre em Lisboa, no nº 28 da Rua da Albegoaria (actual Largo Rafael Bordalo Pinheiro). O desenhador e aguarelista, ilustrador de obra vasta dispersa por largas dezenas de livros e publicações, precursor do cartaz artístico em Portugal, decorador, caricaturista político e social, jornalista, ceramista e professor, morreu no princípio do séc.XX mas a actualidade da sua obra faz com que seja intemporal.

in: C.I.T.I


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