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Lisboa, Irene. Voltar atrás para quê? Lisboa. Bertrand, 1954

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207 pp.; 19 cm.

Irene Lisboa, Casal da Murzinheira/Arruda dos Vinhos, 1892 - Lis­boa, 1958

Irene Lisboa, nome com que a partir de 1942 passou a assinar os seus livros, frequentou a Escola Normal e foi durante muitos anos professora primária. Fez estudos de pedagogia na Suíça, França e Bélgica e, sob o pseudónimo de Manuel Soares, publicou vários textos pedagógicos, iniciando em 1926 a sua obra literária com 13 Contarelos, seguidos de dois livros de poemas (Um Dia e Outro Dia..., de 1936, e Outono Havias de Vir, de 1937, ambos com o pseudónimo de João Falco, que ainda usaria nos volumes em prosa Solidão, de 1939, e Começa Uma Vida, de 1940).

Para João Pedro de Andrade os poemas de Irene Lisboa, em verso livre, «são quase sempre meditações ou divagações sobre temas concretos em que, por assim dizer, surge e constantemente se renova uma espécie de pasmo original, como o de quem vê nascer o mundo em cada pequena e humilde manifestação de vida.»

Têm sido assinaladas pela crítica as influências de Virginia Woolf e de Katherine Mansfield em Irene Lisboa, mas importa considerar também as de Camilo Pessanha, Raul Brandão e Fernando Pessoa, menos aparentes porventura mas não menos decisivas.

Escritora de vocação confessional, transpõe em muitas das suas personagens femininas a sua solidão profunda, o seu lento viver dilacerado, a sua amorosa atenção aos seres e às coisas de um quotidiano «insignificante». Nos seus contos e crónicas, de que avultam Esta Cidade!, Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma, Voltar atrás para Quê?, O Pouco e o Muito, Queres Ouvir? Eu Conto, Título Qualquer Serve, perpassam figuras do dia-a-dia, ora dolorosas ora insones, operários, empregados, vendedeiras, mulheres-a-dias, as serviçais de então, os parentes pobres; e nas cenas de um amargo pitoresco em que esse pequeno mundo se agita vibra um sentimento de solidariedade social que encontra o seu melhor paralelo em certos poemas de José Gomes Ferreira.

Dispersiva e fragmentária, espalhando versos e artigos por diversos jornais e revistas, entre eles Presença, Sol Nascente e Seara Nova, Irene Lisboa marcou o seu tempo, nele deixando fortes sinais de independência, de coragem, de crítica aguda ao microcosmo pequeno-burguês.

João Gaspar Simões no «Suplemento» do Diário de Lisboa; José Régio, na Presença, e Vitorino Nemésio, na Revista de Portugal, foram os primeiros a proclamar criticamente a excepcionalidade literária de Irene Lisboa.

Paula Morão, na sua tese de doutoramento, Irene Lisboa. Vida e Escrita, valoriza em Irene Lisboa, como antídoto para a dilaceração interior, a tentativa de teorizar pela escrita o modo como se apreende o mundo. Deve-se à mesma estudiosa a organização, em 1991, das Obras de Irene Lisboa (ed. Presença), iniciadas com a reedição, em um só volume, dos seus poemas, o qual inclui estudo crítico de José Gomes Ferreira.

De indispensável consulta o Catálogo do centenário da escritora (exposição comemorativa na Biblioteca Nacional, 1992).

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994


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