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//Novidades// Política/ Diplomacia

Leal da Câmara, A Marselhesa e a Corja, Semanários de caricaturas, 1897-1898

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Exemplares encadernados num só tomo.

Contém a totalidade dos números que tiveram a participação de Leal da Câmara até à sua fuga para o estranjeiro. De "A Marselhesa" publicaram-se mais alguns números após a saída de Leal da Câmara para A Corja, só alguns desses números fazem parte do presente lote.

Tomás Júlio Leal da Câmara (1876-1948) – Nasceu em Pangim, Nova Goa, a 30 de Novembro de 1876, filho de um oficial do exército, Eduardo Inácio da Câmara, e de Emília Augusta Leal. Em 1880, terminado o serviço que o pai prestava, como oficial, na Índia Portuguesa, a família regressou à capital da metrópole, Lisboa, onde o jovem Leal da Câmara iniciará os primeiros estudos num colégio. Passou depois para o Liceu da Lisboa, onde publicou os seus primeiros trabalhos no jornal estudantil O Lyceu Illustrado (1887). Estava revelado o artista, pois daí em diante nunca lhe faltaram convites para colaborar como ilustrador. Naquele ano ainda publicou em O Pucha, A Comédia e O Castanheiro. 

Por pressão do pai, que o pretendia ver médico, fez estudos preparatórios de Medicina na Politécnica, mas acabou por ingressar no curso de Agronomia e Veterinária. De qualquer forma, Leal da Câmara nunca arruma o lápis, nem deixa o ambiente boémio das belas-artes. Entretanto, os acontecimentos, quer no plano da vida privada de Leal da Câmara, quer no plano mais lato do país, evoluíram num sentido que acabou por favorecer o seu ensejo de se dedicar à ilustração. De facto, após o falecimento do pai em Timor, em 1895, Leal da Câmara desenvolve um percurso artístico que o desperta para a causa republicana, pela qual se baterá com a arma do humor gráfico inteligente e impiedoso, mesmo perante instituições ou personagens que se tinham por intocáveis. Numa primeira fase, foi sobretudo colaborador de periódicos, como o Inferno. Jornal de Arte e de Letras (Lisboa, 1896), o suplemento literário d’A Nação (Lisboa, 1847-1928), a revista Branco e Negro (Lisboa, 1896-98), o D. Quixote. Jornal quinzenal (Lisboa, 1896), do qual chegou a assumir a direcção artística, e Os Ridículos (Lisboa, 1894-1984). A actividade foi crescente, mas não se quedou pela imprensa, estendeu-se ao livro também. Importa aqui sublinhar, como testemunho da capacidade de ajustar a sua linguagem gráfica a diferentes públicos, as ilustrações que criou para os contos infantis que Ana de Castro Osório começou a publicar em fascículos a partir de 1897, nomeadamente Os Dez Anõezinhos da Tia Verde-Água, Casa de Meu Pai, Esperteza de um Sacristão e Princesa Muda. 

No final daquele ano ainda, em Novembro, de parceria com João Chagas, lança A Marselhesa: supplemento de caricaturas (Lisboa, 1897-1898), do qual se virá a desvincular para fundar A Corja. Semanário de Caricaturas (Lisboa, 1898). Foi um período particularmente prolífero da sátira nacional, que ficou a dever grande parte da sua pujança a Leal da Câmara e a Celso Hermínio. Cada um per si ou colaborando no mesmo projecto editorial, o trabalho dos dois autores assinala a primeira ruptura estética com a escola bordaliana, inflexão que se viria a consolidar, na primeira década do século XX, por acção das diversas correntes que consubstanciaram o Modernismo português. 

Quanto à apreciação positiva da sátira por parte do público e, consequentemente, da sua eficácia como arma política, pode avaliar-se pela atenção que a censura dispensava ao artista e aos seus periódicos. Uma perseguição que atingiu o seu ponto máximo com A Corja, no tempo da qual o ritmo das “querelas” accionadas pela censura acompanhava, praticamente, o das edições. O semanário conheceu mesmo algumas suspensões, quer como resultado da acção directa da polícia, quer por motivo dos proprietários das tipografias se recusarem a imprimir o jornal, com medo das represálias que daí poderiam resultar. 

Em Outubro de 1898, Leal da Câmara alertado por amigos de que a polícia fazia tensão de o prender e deportar, escapa-se para Madrid, onde permaneceu algum tempo. Passou também por França, Inglaterra, Holanda e Bélgica, mantendo sempre palpitante de humor a sua veia artística. A presença das suas “charges” em periódicos como La Vida Literária, El Mundo Cómico, Revista Cómica Y Taurina, Rire, L’Assiétte au Beurre, Indiscret, Caricature, Le Rire Belge, entre muitos outros, conferem a Leal da Câmara a dimensão de um embaixador da sátira nacional. Refira-se ainda que, embora distante fisicamente, o mestre continua atento ao desenrolar dos dias em território pátrio e não faltam jornais e revistas dispostos a publicar as ilustrações que envia por correio. 

Após a implantação da República, Leal da Câmara regressou ao país e fixou- se no Porto. Tomou então parte do movimento modernista português que esboçava as suas primeiras manifestações. Alinhando com os que ansiavam por fazer a revolução no campo das artes e da literatura, Leal da Câmara dirigiu um projecto inovador no campo da imprensa humorística: O Miau (Porto, 1912), que se afirmava órgão de um grupo de artistas que ficou conhecido por “Os Fantasistas”. Para lá dos aspectos gráficos ou estéticos, importa sublinhar que esta nova geração de desenhadores e humoristas privilegiava a caricatura social, em detrimento da caricatura política. 

Ainda no campo da imprensa, é possível encontrar o traço de Leal da Câmara em periódicos como Os Grotescos: semanário humorístico e literário (lisboa, 1912), A Águia: revista quinzenal ilustrada de literatura e crítica (Porto, 1910- 1932), O Mundo (Lisboa, 1900-1936), O Riso da Vitória: quinzenário humorístico (Lisboa 1919-1920), ABC a Rir: senanário humorístico e de actualidades (Lisboa, 1921-22), Brasil-Portugal: revista quinzenal ilustrada (Lisboa, 1899-1914), na Seara Nova: revista quinzenal de doutrina e crítica (Lisboa, 1921-82), entre muitas outros3. O seu trabalho enquanto artista desdobrou-se também pela ilustração de livros, pela exposição de trabalhos, e por conferências sobre a caricatura, a arte em geral e a publicidade. O seu perfil polémico e combativo não se diluirá, pelo que por mais de uma vez sustentou polémica para defender as suas propostas mais arrojadas, como foi o caso dos desenhos com que pretendia ilustrar a Velhice do Padre Eterno, de Guerra Junqueiro. Mas dentro e fora de fronteiras encontrou sempre quem lhe reconhecesse mérito como artista e lhe encomendasse trabalho. Entre 1913-15 fixou novamente residência em Paris. Em 1922, esteve no Brasil, sendo recebido entusiasticamente. Idêntica recepção encontrou em Madrid que visitou em 1945. Ilustrou contos para crianças e decorou o Jardim-Escola João de Deus. Ainda em vida viu o seu nome consagrado pela Sociedade de Belas- Artes. Faleceu na sua casa em Rinchoa, a 21 de Julho de 1948, sendo sepultado no Cemitério de Belas. 

Aquilino Ribeiro deixou firmada na obra Leal da Câmara (vida e obra), publicada em 1952, a admiração e a amizade que o unia ao homem e ao artista. 

Rita Correia (13/10/2010) 

In: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/RecursosInformativos/Biografias/Textos/LealdaCamara.pdf

 

 

 


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