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João Miguel Fernandes Jorge, À beira do mar de junho, Regra do Jogo, Lisboa, 1982

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Com dedicatória do autor.

 

João Miguel Fernandes Jorge

n. 1943, Bombarral. Poeta, prosador e crítico artístico, licenciado em Filosofia, desenvolveu também a actividade docente. Estreia-se na poesia com o volume Sob Sobre Voz, onde joga, de forma inquietante, com a não referencialidade de uma palavra que se situa na contiguidade com o indizível. Ou seja, nas palavras de Joaquim Manuel Magalhães, a perturbação gerada na leitura da sua poesia decorre da nossa formação ocidental, pela qual se torna "difícil de abdicar de um real para o qual as palavras não apontem" ("alguns descobriram que dizer barco não é arrastar à palavra um barco ou dizer aos outros que um barco está ali, mas revelar um local onde um barco não está, onde a memória dele se tornou uma música de fonemas em que desaparece o barco e o homem descobre a solidão que é dizer barco sem um barco ser. Este trabalho silencioso de captação da ausência percorre a obra de João Miguel Fernandes Jorge." (cf. MAGALHÃES, Joaquim Manuel - Os Dois Crepúsculos, Lisboa, A Regra do Jogo, 1981, pp. 224-225), ou, nas palavras do próprio autor: "O que me faz escrever este poema/não são as coisas: terra céu astros./A saber: estendo a mão: e/o mundo reconhece-a encontra a/memória onde repousa e se transforma./... Não sonho palavra sonho barco." ("Para outro texto", in Vinte e Nove Poemas, Lisboa, 1978). Confirmadas nos volumes que integram a sua Obra Poética, estas linhas de leitura remetem, segundo Fernando Guimarães, para um processo de "microrrealismo", pelo qual a "linguagem tende a testemunhar a evidência do conhecimento", ao mesmo tempo que as imagens ou metáforas se constituem como "núcleos de natureza conceptual": "João Miguel Fernandes Jorge parece fazer apelo à possibilidade de a linguagem se afastar de dois caminhos, o da metáfora e o da imagem, em que a poesia moderna tanto se fixou desde os finais do séc. XIX, privilegiando, antes, os caracteres apagadamente distintivos dos "sinais" ou, se se quiser, dos signos (...)", o poema fragmentando-se "através de múltiplas reminiscências, de uma linguagem desfocada, de uma disponibilidade subjectiva nem sempre previsível, de uma visão fluida da realidade e da natureza, de uma dispersão de significados às vezes percorridos por referências culturais ou de índole meramente circunstancial que, apesar de um descritivismo a que não raro se mantém fiel, se tornam dificilmente reconhecíveis. (...) A linguagem torna-se dispersiva, residual, e a consciência de que ela é inquestionável ou opaca a um possível significado" (GUIMARÃES, Fernando - A Poesia Portuguesa Contemporânea e o Fim da Modernidade, Lisboa, Caminho, 1989, pp. 113-114). A publicação de Crónica, em 1977, inaugura na sua bibliografia uma outra estratégia discursiva, que parte da colagem de textos e motivos históricos com acontecimentos reais e míticos e com conteúdos subjectivos.


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