João de Barros, Panegíricos, Sá da Costa, Lisboa, 1945, 1 vol.
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Texto restituído, prefácio e notas pelo professor, M. Rodrigues Lapa
João de Barros
Historiador, João de Barros nasceu cerca de 1496, provavelmente em Viseu. Filho do corregedor de entre Tejo e Guadiana, Lopo de Barros, foi, ainda muito jovem, servidor do Paço real e "moço de guarda-roupa" de D. João III. Nomeado por este, após ter tomado posse do trono, para cumprir uma missão no castelo de S. Jorge da Mina, João de Barros segue, a partir de 1525, uma carreira de funcionário, começando por ser tesoureiro das casas da Índia, da Mina e de Ceuta e depois, entre 1533 e 1562, feitor da Casa da Índia.
Autor de uma variadíssima obra, começa por escrever a novela de cavalaria O Imperador Clarimundo, obedecendo às leis deste género e enformando já um esboço épico da História de Portugal.
Em 1532, escreveu o colóquio Ropicapnefma, texto de prosa filosófica, onde combina habilmente uma apologética cristã e uma sátira à sociedade portuguesa; em 1533, compôs o Panegírico do Rei D. João III, onde desenha o retrato do Príncipe Perfeito. De 1539 a 1545, publicou uma vasta obra: Cartilha para Aprender a Ler, publicada juntamente com Gramática da Língua Portuguesa, Diálogo de Preceitos Morais e Diálogo da Viciosa Vergonha, Diálogo Evangélico sobre os Artigos da Fé contra o Talmud dos Judeus e Panegírico da Infanta D. Maria.
Fiel aos princípios do Humanismo, João de Barros deixa transparecer nos seus textos uma antipatia pela forma como eram tratados os cristãos-novos, manifestando o desejo de uma evangelização pacífica dos mesmos. Estas posições, nomeadamente as que defende no Diálogo evangélico sobre os artigos da fé contra o Talmud dos Judeus, levaram à sua perseguição por parte da Inquisição.
Conhecedor das obras dos humanistas europeus, não se abstém de louvar O Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdão, um dos principais representantes deste movimento na Europa.
No último período da sua vida, levou a cabo uma notável obra sobre a expansão ultramarina dos Portugueses em três aspetos: conquista, navegação e comércio. Em vida, só apareceram as três primeiras Décadas da Ásia (1552, 1553, 1563). A quarta Década da Ásia foi publicada posteriormente em 1615. A insuficiência do conhecimento dos locais e ambientes da expansão e a dureza da censura cortesã impediram-no de construir uma obra de inteira verdade. Mas as Décadas contêm notáveis passos narrativos e descritivos.
João de Barros concebeu uma história do mundo centrada na expansão portuguesa, dividida em quatro partes abrangendo os quatro continentes: Europa, Ásia, África e Santa Cruz. Deste grandioso plano apenas ficou a Ásia, dividida, como já se disse, em quatro Décadas. Pretendeu o Autor justificar a expansão ultramarina com argumentos espirituais, apresentando-a como uma cruzada religiosa contra os Mouros. Adotou um estilo grave, semeado de hipérboles que anunciam Os Lusíadas, em longos períodos alatinados.
in: Infopédia