Helder, Herberto, O Corpo O Luxo A Obra, Lisboa: & Etc., 1978
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1ª edição.
250 exemplares.
19, [2] p. : 1 grav. ; 18 cm
Herberto Helder , Funchal, 1930 - Cascais, 2015
Poeta e tradutor (mas assumindo-se sobretudo como autor), Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira iniciou a sua formação liceal na ilha da Madeira (Colégio Lisbonense), tendo-a concluído, a partir de 1946, na Escola Luís de Camões, em Lisboa. Já na Universidade de Coimbra, cursa o 1º. ano de Direito (1948), tendo frequentado, entre 1949 e 1952, o curso de Filologia Românica na mesma instituição.
Inicia a publicação dos seus primeiros poemas nas antologias Arquipélago (1952) e Poemas Bestiais (1954), ambas do Funchal, e no jornal A Briosa (1954, Coimbra).
Interrompido o curso universitário, exerce diversas profissões, na Caixa Geral de Depósitos e no Anuário Comercial Português (angariador de publicidade) entre 52 e 54, no Serviço Meteorológico Nacional (Funchal, 1954), delegado de propaganda médica (1955-58); e, durante os anos em que viaja pela Europa (França, Holanda e Bélgica), entre 1958 e 60, teve diversos empregos (criado, operário, policopista, carregador e guia de marinheiros pelos bairros de Amesterdão). De regresso a Lisboa, trabalha como encarregado nas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian (1960-62), é redactor de noticiário internacional na Emissora Nacional (1964-66), colabora em programas da RTP e faz publicidade (1967-68). Em 1969 torna-se director literário da Editorial Estampa, onde começa a publicar a obra completa de Almada Negreiros. Depois de viajar novamente pela Europa (1970-71), vai para Angola, onde, sob diversos nomes, faz reportagens para a revista Notícia (Luanda), e volta a Lisboa, sendo revisor tipográfico na Editora Arcádia (1973) e redactor de notícias na RDP (1974).
Herberto Helder frequentou, cerca de 1958, o Café Gelo, então ligado ao grupo surrealista, tendo já anteriormente colaborado nas revistas Re-nhau-nhau (1955) e Búzio (1956), editada por António Aragão e com a colaboração de Edmundo de Bettencourt. Desde então ligado às vanguardas e à procura de novas vias na poesia portuguesa, colaborou nas Folhas de Poesia (1957), com Helder Macedo e António Salvado, mas não deixou no entanto de estar em contacto com poetas de outras gerações (por exemplo, com colaboração na revista Graal, dirigida por António Manuel Couto Viana). Tendo estado ligado à organização da revista Poesia Experimental (1964 e 1966) e tendo participado na «Exposição Visopoemas» (1965), Helder retirou do Surrealismo e da Poesia Experimental sobretudo o postulado da «liberdade, liberdades» para o seu próprio percurso poético. Colaborou em outros jornais e revistas (Jornal de Artes, Jornal do Fundão, Diário de Notícias, Cronos – nesta com Fernando Luso Soares e Eduardo Prado Coelho) e esteve envolvido num processo judicial (1968) desencadeado com a publicação da tradução de Filosofia na Alcova, de Sade (como intermediário entre tradutor e editor), no qual foi condenado a pena suspensa. Também nesta data, o seu livro Apresentação do Rosto foi apreendido pela Censura, nunca tendo sido reeditado.
Na década de 70 Helder colabora quer em catálogos de pintura (Maria Paulo, SNBA, 1971), quer na revista Caliban (com Grabato Dias, Knopfli e Sena), no caderno antológico Novembro (com Gastão Cruz, Eugénio de Andrade e Ruy Belo) e em Nova: Magazine de Poesia e Desenho.
Considerado unanimemente um dos mais importantes nomes da poesia portuguesa contemporânea, foram atribuídos a Herberto Helder diversos e relevantes prémios literários – Prémio Europália e Prémio Pessoa (1994), entre outros –, tendo o autor recusado todos eles, bem como a concessão de entrevistas ou mesmo a participação em eventos culturais ou literários.
A sua obra poética encontra-se, desde 1973, reunida nas sucessivas edições de Poesia Toda. Decorrente de um gesto de religação de toda a poesia, este é o livro fundamental da poética helderiana, «toda, / de estrela a estrela da obra.», sobretudo na medida em que esse é o lugar em que, reversivelmente, se fundam poesia e poética – «um baptismo atónito, sim uma palavra / surpreendida para cada coisa». Obra excluída (por razões editoriais, mas acima dessas as autorais, porque se conclui ser impossível «apresentar o que está presente», sobretudo na medida em que «a ausência é que devia apresentar-se, pois tarda na ausência»), a «autobiografia activa» Apresentação do Rosto é explícita quanto à instauração não tanto de um sujeito de escrita, mas, acima de tudo, de um autor que se celebra o acto enunciativo como o gesto criador: «sou o Autor, diz o Autor», aquele que gera (no poemacto) «uma coisa poética, [...] o acto iluminante do génesis». Por cada nova edição da sua poesia e da prosa, sobretudo Os Passos em Volta (seis edições com reescrita de fragmentos), o autor faz correcções no sentido de um maior rigor e apuro, da rasura de marcas de sujeito, num processo a que chama «emenda sucessiva» e «alteração de composição».
Outro dos livros essenciais é Photomaton & Vox, que contém textos cuja classificação genológica é difícil, na medida em que inclui «ramificações autobiográficas» e «notas pessoais» (alguns dos fragmentos de Apresentação do Rosto são aqui reescritos), «artes poéticas» e metatextos em que se reflecte sobre a representação: pintura, escultura e cinema. Se, por um lado, a sua poesia é aqui concebida como um «corpo orgânico [...], um cosmos explícito, "objectual"», por outro, «a superação do caos exprime-se pelo encontro de uma linguagem» que por estes ensaios se procura.
A investigação das possibilidades da linguagem tem um seu corolário na «mudança» de poemas, com a tradução de poesia ameríndia (Maias e Aztecas) ou de povos africanos (Pigmeus), na procura da genealogia da «dicção mítica» (Ouolof).
Herberto Helder tem poesia sua traduzida em diversas antologias, de entre as quais as publicadas em Itália (La Parola Interdetta: Poeti Surrealisti Portoghesi, Antonio Tabucchi, org.), em Inglaterra (Contemporary Portuguese Poetry, Helder Macedo, org.) e em Espanha (Antología de la Poesía Portuguesa Contemporánea, Angel Crespo, org.), para além das traduções de obras suas (França, Itália, etc.). Diversos estudiosos portugueses e estrangeiros se têm dedicado ao estudo da sua poesia, de entre os quais se destacam Maria de Fátima Marinho, Maria Lúcia Dal Farra e Juliet Perkins.
Os dois «ensaios poéticos» «Poesia Toda» (in A Phala, nº. 20, Out.-Dez. 1990) e «A propósito de Photomaton & Vox [3ª. ed.] ou de qualquer outro texto do autor» (in A Phala, nº. 46, Out.-Dez. 1995) são indispensáveis para o conhecimento da poética helderiana e para a (auto) definição da sua poesia: «o poema é um objecto carregado de poderes magníficos, terríveis: [...] promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo acaba e começa», principalmente se se aceitar o repto para que se «arrisque [...] sobretudo o nome pessoal para ouvir [...] o nome de baptismo como o coroado nome da terra». Esta é uma poesia como experiência de excesso e violência, pois «a paixão é a moral da poesia» (1990).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998