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Godinho, Vitorino Magalhães. Les Découvertes, XVe-XVIe une révolution des mentalités. Paris: Ed. Autrement, 1992

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89 pp.; Il.; 25 cm.

 

Vitorino Magalhães Godinho, Lisboa, 1918 - Lisboa, 2011

Historiador e professor universitário de renome europeu.

Licenciou-se em História e Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa, em 1940. Em 1955, diplomou-se em Ciências Económicas e Sociais (6ª. secção) na École Pratique des Hautes Etudes, de Paris. Com a mais alta menção (tese principal e tese complementar) fez o doutoramento de Estado na Sorbonne, Paris, em 1959.

Referindo-se ao seu labor de investigador, o historiador britânico C. R. Boxer define assim o seu perfil: «A obra imponente de V. M. G. apresenta um contraste impressionante e reanimador com as obras de moldes antiquados, mesmo se eruditas, de Hamman e Aquarone. Membro destacado da escola dos Annales, o autor deu-nos um livro [L' Économie de l' Empire Portugais: XVe. XVIe. Siècles] digno daqueles a quem reconhece como mestres, Lucien Febvre e Fernand Braudel» (in The American Historical Review, vol. XLXV, nº. 6).

Professor associado da Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Clermont-Ferrand (França), na sua formação exerceram notável influência, entre os portugueses, António Sérgio, Jaime Cortesão, Newton de Macedo, Duarte Leite e a obra de Veiga Simões; entre os estrangeiros destacam-se, Lucien Febvre, Fernand Braudel, Marcel Bataillon, C. E. Labrousse, G. Gurvitch. São consideradas personalidades influentes da sua formação as obras de Henri Pirenne, Marc Bloch, Brunschvicg, Pierre Janet, Jean Piaget, H. Wallon, Goblot, Federico Enriques.

V. M. G. procura então contribuir para forjar uma metodologia historico-estruturalista, que tem raízes em Karl Marx e na corrente de pensamento dos Annales, de Bloch e L. Febvre. De resto, uma das personalidades desta corrente, F. Braudel, reconhece no discípulo pontos de convergência incontestáveis: «Tous ces problèmes du destin portugais n'échappent pas à l'impérialisme de notre jeune collaborateur et ami V. M. G. Il les reprend à son compte, les transforme, les éclaire, avec un gout que ses devanciers n'ont presque jamais eu pour les réalités économiques et sociales.» (in Annales: Économies, Sociétés, Civilizations, Abril-Junho, 1949).

De 1942 a 1944 foi professor extraordinário contratado na Faculdade de Letras de Lisboa, cargo que foi forçado a abandonar, dadas as incompatibilidades entre a sua intervenção cívica no seio da oposição democrática e o regime político de ditadura então existente. De 1947 a 1960, encarregado de investigações do Centre National de la Recherche Scientifique, Paris, com sucessivas promoções até à inclusão na lista de candidatos a «maître de recherches». Em Janeiro e Fevereiro de 1950 substitui o Prof. Fernand Braudel num curso na École Pratique des Hautes Études. Nos anos lectivos de 1950/1951 a 1953/1954, foi encarregado de cursos na 6ª. Secção da École Pratique des Hautes Études. De Julho a Novembro de 1954, professor visitante na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (Brasil), integrado na Missão Universitária Francesa (com Maurice Lombard e Pierre Monbeig).

Sócio fundador da Société Marc Bloch pour l’Histoire des Civilisations, em 1949 fundava, com Jorge Borges de Macedo, a Sociedade Portuguesa de História da Civilização, ramo português da referida sociedade. De 1960 a 1963 foi professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, de Lisboa. Demitido em razão da crise académica de 1962, ganhou um primeiro recurso, mas acabou por ser condenado, por unanimidade, pelo plenário do Supremo Tribunal Administrativo, obviamente por razões políticas.

Membro da British Academy (Londres) e doutor honoris causa pela Universidade de Clermont-Ferrand, foi ministro da Educação a seguir a 25 de Abril de 1974 e, desde Março de 1975, professor catedrático contratado da área de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Grande prémio da Academia de Marinha de França, pela obra L' Économie de l' Empire Portugais (1970), Vitorino Magalhães Godinho dirigiu a colecção de história, integrada nas ciências humanas, de «A Marcha da Humanidade», edição portuguesa de «Destins du Monde», colecção de história universal fundada por Lucien Febvre e dirigida por F. Braudel; a colecção de ciências humanas, «Coordenadas» e a colecção «O Ponto das Questões».

Co-dirigiu (com o Engº. Manuel Rocha e o Prof. Celso Cunha) a edição portuguesa de Focus: Enciclopédia Internacional (4 vols., Lisboa, 1964-1969), com trabalhos seus publicados nas secções de ciências humanas. Fundou e dirigiu, a partir de 1979, a Revista de História Económica e Social.

A vasta obra de V. M. G., cujo recurso a uma fundamentação teórica de recorte marxista a torna inelidível, está todavia aberta à importação de outras contribuições teóricas que não são oriundas do marxismo. Encontrar-se-ão, forçosamente, ascendentes intelectuais diversos na obra de V. M. G., particularmente António Sérgio, porque na realidade foi o mentor de toda uma geração intelectual, que teve a sua juventude nos anos 40 e no princípio de 50, e que se torna, a partir de certa altura, exemplo de uma cidadania activa. Segundo o próprio V. M. G.: «Mestre incontestado, e nem por isso menos discutido nas suas proposições, de quantos mentalmente nos formámos antes de 1940, embora muitos de nós seguíssemos itinerários que por vezes punham em causa algumas das suas directrizes.» (in Seara Nova, nº. 1507, Maio de 1971).

Director da Biblioteca Nacional em 1984, V. M. G. veio a demitir-se deste cargo por incompatibilidades de metodologia e procedimento com o organismo da tutela, mantendo-se todavia activo como investigador e uma das mais proeminentes personalidades da historiografia portuguesa, duma riqueza informativa ímpar e de vasta problemática no que respeita à história moderna, que ele domina de forma singular, quase desencorajando qualquer veleidade de inédito de todos aqueles que se debruçam sobre este período.

São marcantes deste período as suas obras Os Descobrimentos e a Economia Mundial (1963-1971), os estudos reunidos nos Ensaios (1967-71), os capítulos escritos para a New Cambridge History (vols.V e VI, 1969-1970), a obra A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa (1971) e a série de artigos escritos para a publicação que dirigiu entre 1978 e 1990, Revista de História Económica e Social.

Vitorino Magalhães Godinho dirigiu ainda o Centro de Estudos de História e de Cultura Portuguesa do ex-Instituto Português de Ensino a Distância, actual Universidade Aberta.

Foi Prémio Balzan (atribuído pela Fondazione Internazionale Premio Eugenio Balzan) em 1991 «Pour avoir réussi à écrire une histoire globale des explorations, des conquêtes coloniales et de leurs effets sur l’histoire de l’humanisme, des sciences et des sociétés; pour avoir su lier avec une méthode sûre et sans artifice l’histoire politique, économique et intellectuelle.»

Foi ainda sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997 [revisto em 2011]


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