Francisco Manuel Alves, Memórias arqueológico-históricas do Distrito de Bragança, Porto. Tipografia a Vapor da Empresa Guedes, 1909-1947
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Descrição completa:
Francisco Manuel Alves, Memórias arqueológico-históricas do Distrito de Bragança, ou, Repositório amplo de notícias corográficas, hidro-orográficas, geológicas, mineralógicas, hidrológicas, bio-bibliográficas, heráldicas, etimológicas, industriais e estatísticas interessantes tanto à história profana como eclesiástica do Distrito de Bragança, Porto: Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1909-1947
11 v. : il. ; 24 cm;
Muito Raro, peça de coleção com interesse histórico.
Com milhares de anotações e correções inéditas do autor.
Todos os exemplares em 1ª edição, completo.
- 1.º v.: Porto, Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1909. (401 pp.)
*- 2.º v.: Porto, Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1910. (512 pp.)
*- 3.º v.: Porto, Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1910. (466 pp.)
- 4.º v.: Coimbra, Imprensa da Universidade, 1911-1918. (703 pp.)
- 5.º v.: Os judeus no distrito de Bragança. Bragança, Tipografia Manuel António Pissarro, Filhos, 1924 (211 pp.,) e Bragança, Tip. Geraldo da Assunção, 1925. (CXIV pp.) (2 volumes no mesmo tomo.)
- 6.º v.: Os fidalgos. - Porto: Tipografia da Empresa Guedes, 1928. (808 pp.)
- 7.º v.: Os notáveis. - Porto: Tipografia da Empresa Guedes, 1931. (820 pp.)
- 8.º v.: No Arquivo de Simancas. - Porto: Tip. Empresa Guedes, 1932. (xviii, 131 pp.)
- 9.º v.: Arqueologia, etnografia e arte. - Porto: Tip. da Empresa Guedes, 1934. [5 pp.]; (718 pp.); (índice e errata, 31 pp.)
- 10.º v.: Arqueologia, etnografias e arte. - Porto: Tip. da Empresa Guedes, 1934 (impresso em 1938) (845 pp.; índice e errata 24 pp.)
- 11.º v.: Arqueologia e etnografia. - Porto: Tip. Empresa Guedes, 1947 (804 pp.)
NOTAS:
A descrição dos números das páginas dos volumes 2 e 3 não coincidem com a numeração impressa, pois incluem os aditamentos manuscritos e têm a numeração sequencial, também manuscrita, feita pelo autor.
— O 2.º volume pertenceu ao autor, contém centenas de anotações manuscritas inéditas.
Na página três, refere o seguinte: “Comecei a corrigir as primeiras provas para a impressão deste livro a 2 de maio de 1910. A redação de parte deste volume deve ficar muito mal porque quando remeti o manuscrito estava doente e não o revi.” Ass.: Pe. Francisco Manuel Alves
— O 3.º volume, também pertenceu ao autor, contém centenas de anotações manuscritas inéditas, assim como um índice e uma errata manuscritos. Escreve o autor, em nota manuscrita no frontispício do volume: “Corrigi as primeiras provas para a impressão deste livro a 4 de março de 1910. Tem a assinatura de posse do autor e a data manuscrita 1912. Na página que sucede o frontispício tem uma fotografia colada do amigo Abílio Bessa que faleceu em 1910 quando tentava entrar no combóio em andamento.
— O 6.º volume tem uma dedicatória do autor.
— Os volumes 8 e 9 estão encadernados num só tomo. O volume 8 tem uma dedicatória do autor.
— O volume 10 tem uma dedicatória do autor.
Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, 1865-1947
Autobiografia:
«Tenho 1,74 m de altura; tez morena; olhos castanhos; barba espessa e preta; cabelo preto e crespo; mãos delgadas; dedos compridos; unhas pequenas e bravas. Sou muito peludo por todo o corpo, de musculatura forte; pouco carregado em carnes, tendendo mais para o magro do que para o gordo. Em 1900 pesava 65 quilos; em 5 de setembro de 1916 pesei 79 quilos e o mesmo em 22 de maio de 1934. Em 1903 pesei 76 quilos, 80 em 1909; 82 e 100 gramas em 1927; 80 em 22 de junho de 1932 na estação de Vilarinho (Tua). Foi quando tinha 30 anos que me senti pela primeira vez fraquejar. Comecei a usar óculos para ler à noite aos 48 anos e, pouco depois, a menos de um ano, já lhe achava vantagem para ler de noite e de dia. Agora, agosto de 1917, embora ainda algo possa ler sem óculos com dificuldade, já uso sempre deles, de graduação nº24, isto é, quase sem graduação; são apenas de vista cansada. Isto aos 52 anos de idade. Caiu-me a primeira mó do lado direito de cima, a segunda a contar do dente canino, em dezembro de 1883, ou seja, aos 18 anos. Caiu aos bocados, pouco a pouco, sem nunca me doer, porque o sangue brotava naturalmente das gengivas e assim desabafavam. Tive de tirar a ferros a 2ª mó, por me martirizar com dores durante dois anos, a qual ficava exatamente em correspondência à primeira, mas do lado de baixo, em janeiro de 1893, ou seja, quando tinha 28 anos. Desta vez as gengivas não deitavam sangue. Caiu-me a 3ª mó, sem nunca me doer, a 1 de setembro de 1911. Era a última do maxilar superior, lado direito. Caiu-me o dente canino do maxilar inferior, lado esquerdo, sem nunca me doer, a 12 de agosto de 1917. Desta vez, isto é, desde 1893, as gengivas vinham de tempos a tempos deitando sangue e a este desabafo atribuo a carência de dor. Havia três meses que me começara a abanar. Guardo numa caixinha os dentes que me vão caindo, apenas faltando dois, porque o primeiro me caiu aos pedaços e o segundo perdeu-se-me na mudança de Mairos para Baçal.
Neles escrevo a data em que me caíram. Caiu-me uma mó do maxilar superior, lado direito, a 20 de dezembro de 1930. Fica guardada na caixa junto dos outros. Caiu-me um dente do maxilar inferior a 20. 8. 1931. Caiu-me outro dente do maxilar inferior, lado direito, a 25. 1. 1932. Caiu-me outro dente do maxilar inferior a 22. 4. 1933. Ficam todos guardados na caixinha. Caiu-me uma mó do maxilar inferior, lado esquerdo, a 4 de outubro de 1934. Caiu-me um dente incisivo do lado de cima a 24. 7. 1935, sem nunca me doer. Fica guardado juntamente com os outros. Caiu-me uma mó do lado direito de cima a 21. X. 1936. Fica guardada com os mais. Caiu-me um dente do lado esquerdo, de cima, a 10 de fevereiro de 1937. Fica guardado com os mais. Caiu-me outro dente do lado de cima a 15 de agosto de 1933. Fica guardado com os outros. Caiu-me outro dente do lado de cima a 19 de outubro de 1937. Fica guardado com os outros. Caiu-me outra mó do lado de cima a 4. 4. 1938. Fica guardada junto dos outros. Caiu-me outro dente do lado de cima a 7. 4. 1938. Fica guardado junto dos outros. Caiu-me outra mó do lado de baixo a 15. 7. 1938. Já só me ficam dois dentes e meio. Cai-me outra mó do lado de baixo a 5. 4. 1939. Só me fica dente e meio. Caiu-me outra mó do lado de baixo a 3. 4. 1943. Caiu-me hoje, 31. 1. 1946, o que me restava da única mó, de maneira que fico sem dente nenhum nem mó. Fica guardado junto aos outros dentes.
Neles escrevo a data em que me caíram. Caiu-me uma mó do maxilar superior, lado direito, a 20 de dezembro de 1930. Fica guardada na caixa junto dos outros. Caiu-me um dente do maxilar inferior a 20. 8. 1931. Caiu-me outro dente do maxilar inferior, lado direito, a 25. 1. 1932. Caiu-me outro dente do maxilar inferior a 22. 4. 1933. Ficam todos guardados na caixinha. Caiu-me uma mó do maxilar inferior, lado esquerdo, a 4 de outubro de 1934. Caiu-me um dente incisivo do lado de cima a 24. 7. 1935, sem nunca me doer. Fica guardado juntamente com os outros. Caiu-me uma mó do lado direito de cima a 21. X. 1936. Fica guardada com os mais. Caiu-me um dente do lado esquerdo, de cima, a 10 de fevereiro de 1937. Fica guardado com os mais. Caiu-me outro dente do lado de cima a 15 de agosto de 1933. Fica guardado com os outros. Caiu-me outro dente do lado de cima a 19 de outubro de 1937. Fica guardado com os outros. Caiu-me outra mó do lado de cima a 4. 4. 1938. Fica guardada junto dos outros. Caiu-me outro dente do lado de cima a 7. 4. 1938. Fica guardado junto dos outros. Caiu-me outra mó do lado de baixo a 15. 7. 1938. Já só me ficam dois dentes e meio. Cai-me outra mó do lado de baixo a 5. 4. 1939. Só me fica dente e meio. Caiu-me outra mó do lado de baixo a 3. 4. 1943. Caiu-me hoje, 31. 1. 1946, o que me restava da única mó, de maneira que fico sem dente nenhum nem mó. Fica guardado junto aos outros dentes.
Começou a notar-se-me a careca aos 30 anos; agora, 1917, estou muito calvo e muito mais ruço da barba do que da cabeça. A barba começou a pôr-se-me grisalha antes do que a cabeça. Desde os 52 anos por diante o cabelo da cabeça parou de me cair. Em verdade que estas cousas todas conjugadas com os 52 anos feitos, que já tenho, com os 79 quilos de peso, mais 14 em dezasseis anos, do que quando tinha 35, me parecem campainhadas no chocalho da eternidade ferindo os primeiros avisos para sinal de partida e, no entanto, sinto-me bem; apenas tive uma pneumonia aos 17 anos, desde então para cá nada a não ser defluxos, a que sou muito atreito – cinco ou mais por ano à mais leve alteração de temperatura – e me incomodam durante três dias ficando logo bom e com restos de tosse, que à medida da idade se me vai enquistando a ponto de ter sempre agora resquícios dela. Esta tosse era de fumar, pois desde 1927 até hoje, julho de 1945, não voltei a fumar e nunca mais tive tosse. Também de longe em longe tenho sofrido dores reumáticas de pouca duração. A 9. 4. 1945 tive um ataque de gripe e pneumonia em Sacoias onde fora dizer missa por ser domingo. Estive de cama em casa do Abílio Pires até ao dia 17 em que vim para Baçal, a pé, já bom de saúde. De alimento tudo me serve e me faz bem, pois tenho magnífico estômago. Os intestinos é que são um pouco ruins, atreitos a hemorróidas. Como pouco, sobretudo carnes, se bem que junto com os outros, mais animado, talvez me exceda; prefiro vegetais, legumes e frutas; azeite, peixe não gorduroso. Ando sempre a pé, tanto para o serviço da freguesia, como para as funções eclesiásticas, embora distantes – uma e duas léguas -, e para o Museu Regional de Bragança, onde vou todas as semanas desde 1925, em que fui nomeado diretor, até 9. 4. 1935, em que deixei o cargo por ter atingido o limite de idade – setenta anos. Tenho vida ativa pois, além do muito que estudo e leio, trato, por distração, das hortas, sachando-as, mondando, regando, estacando as vinhas, podando, e de outros pequenos serviços – plantação e limpa, enxertia, viveiros de árvores, etc., etc., não esquecendo as flores, de que muito gosto. Segundo cálculos muito aproximados que vão exarados no fólio 107, desde 9 de abril de 1865, em que nasci, até 9 de abril de 1947, ou seja, ao completar 82 anos de idade, tenho andado a pé 32 211 léguas de cinco quilómetros cada uma, ou seja, 161 055 quilómetros.
Só bebo vinho no tempo frio de inverno e primavera e quase nunca no verão, a não ser animado em algum jantar, na companhia de amigos, de maneira que passo os sete meses de mais ou menos inverno bebendo só vinho e nunca água e o contrário ou quase nos cinco restantes. Comecei a beber vinho aos 28 anos, até então, posto que não me provocasse náusea, no o podia sofrer, nem alimento algum com ele preparado, como salpicões, chouriças, etc., no entanto, bebia aguardente, embora pouca, vinho fino, e sabiam-me bem. Depois que comecei a beber vinho, isto é, depois dos 28 anos, deixei de beber aguardente por achar detestável de sabor, e usei com algum excesso de bebidas brancas – anis, cognac, genebra, vinho fino, rum, absinto, se bem que nunca me embriaguei. Depois larguei pouco a pouco essas bebidas, além de outros danos provocavam o hemorroidal – bebo vinho, mas só de inverno, e nunca vinho fino, e nas manhãs de inverno e, de quando em quando, das de verão, mato o bicho com aguardente bagaceira, fraca. Pelos anos de 1920, ou seja, aos 55 anos, principiei a sofrer da bexiga, necessidade de urinar constantemente e pouco de cada vez; atribuí à aguardente, que já bebia não só de manhã mas pelo dia acima, embora pouca, e depois de comer. Deixei-a completamente e hoje nem vê-la. Fumo muito cigarro e também charutos, que aprecio, mas não engulo o fumo. Deixei de fumar em 1927 por causa da tosse e realmente desapareceu-me. Até hoje, 3. 6. 1934, não mais voltei a fumar, nem tenciono. Tomo rapé, de tabaco moído, e acho que me faz bem, apesar de ser mui sebento, ou por isso mesmo. Desde que tomo rapé cessaram os defluxos. Tomava muito café – espevitava-me o espírito e expulsava-me a modorrice dos sentidos para estudar, mas a Grande Guerra, desencadeada em 1914, dificultou por tal forma a vinda dos géneros coloniais e do estrangeiro, que chegou a faltar açúcar em Bragança por algum tempo, o que me levou a deixar o café e hoje (1917) já nada sinto a sua falta.
Só bebo vinho no tempo frio de inverno e primavera e quase nunca no verão, a não ser animado em algum jantar, na companhia de amigos, de maneira que passo os sete meses de mais ou menos inverno bebendo só vinho e nunca água e o contrário ou quase nos cinco restantes. Comecei a beber vinho aos 28 anos, até então, posto que não me provocasse náusea, no o podia sofrer, nem alimento algum com ele preparado, como salpicões, chouriças, etc., no entanto, bebia aguardente, embora pouca, vinho fino, e sabiam-me bem. Depois que comecei a beber vinho, isto é, depois dos 28 anos, deixei de beber aguardente por achar detestável de sabor, e usei com algum excesso de bebidas brancas – anis, cognac, genebra, vinho fino, rum, absinto, se bem que nunca me embriaguei. Depois larguei pouco a pouco essas bebidas, além de outros danos provocavam o hemorroidal – bebo vinho, mas só de inverno, e nunca vinho fino, e nas manhãs de inverno e, de quando em quando, das de verão, mato o bicho com aguardente bagaceira, fraca. Pelos anos de 1920, ou seja, aos 55 anos, principiei a sofrer da bexiga, necessidade de urinar constantemente e pouco de cada vez; atribuí à aguardente, que já bebia não só de manhã mas pelo dia acima, embora pouca, e depois de comer. Deixei-a completamente e hoje nem vê-la. Fumo muito cigarro e também charutos, que aprecio, mas não engulo o fumo. Deixei de fumar em 1927 por causa da tosse e realmente desapareceu-me. Até hoje, 3. 6. 1934, não mais voltei a fumar, nem tenciono. Tomo rapé, de tabaco moído, e acho que me faz bem, apesar de ser mui sebento, ou por isso mesmo. Desde que tomo rapé cessaram os defluxos. Tomava muito café – espevitava-me o espírito e expulsava-me a modorrice dos sentidos para estudar, mas a Grande Guerra, desencadeada em 1914, dificultou por tal forma a vinda dos géneros coloniais e do estrangeiro, que chegou a faltar açúcar em Bragança por algum tempo, o que me levou a deixar o café e hoje (1917) já nada sinto a sua falta.
Voltei a tomar café em 1925 e suspendi em maio de 1934 por causa do nervoso que muito me impede de escrever. Desde 1936 tomo leite, quase um litro por dia. Anteriormente não o tomava por me encerrar os intestinos e agora ainda algo, mas pouco; basta deixar de tomar um dia para continuar regularmente. Aos 71 ½ anos deixei de ter força para expelir a urina e agora cai só pela força da gravidade, de maneira que, se não me escanchar, mijo nas calças e nos sapatos. Também na mesma idade, isto é, aos setenta e um anos e meio, comecei a sentir falta de ouvir e a cansar-me ao andar.
A 22 de outubro de 1945 fui ó Porto consultar o Dr. Joaquim José Cardoso, rua da Alegria, 541, especialista de doenças de ouvidos. Examinando-me disse que para a idade que tinha (81 anos incompletos, a completarem-se dia 9 de abril de 1946) ouvia bastante e segui o seu conselho, indo, todavia, a casa de um que tinha aparelhos modernos, que concordou com o dizer do médico, pois nada adiantava na audição com os aparelhos que me pôs na cabeça para ouvir melhor. Na altura que fui ó Porto agravou-se-me um golpe na cara ao fazer a barba e esteve mais de dois meses sem cicatrizar, purgando algo e, por esta purgação ou não sei porquê, desapareceram-me do canto esquerdo da testa as manchas pretas, índices de arterioesclorose que há anos tinha.» Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal