Francisco de Holanda. Da pintura antiga e Diálogos em Roma. Lisboa: Livros Horizonte, 1984
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Primeira parte - Da pintura antiga;
128 pp., [8] pp. lâminas.; Il.; 24 cm.
Segunda parte - Diálogos de Roma.
159 pp.-[8] pp. lâminas. : ill. ; 24 cm.
Francisco de Holanda, Lisboa, 1517? - Lisboa?, 1584
Grande pintor e teorizador da arte do Renascimento português.
Filho de António de Holanda, ilustre iluminador, que, segundo a indicação do próprio nome, se considera originário dos Países Baixos. António de Holanda foi também um retratista, cuja obra se perdeu, mas, apesar de ter propiciado ao filho um ambiente adequado ao gosto pelas artes, ele não o influênciou na sua formação artística. Nada se sabe da mãe e conhecem-se-lhe dois irmãos e uma irmã. Ignora-se tudo dos primeiros anos da vida de Francisco de Holanda. Foi moço do infante D. Fernando (1507-1534) e, pouco depois, do cardeal infante D. Afonso, bispo de Évora. Daí se infere que passou a sua juventude nesta cidade, lugar de antiguidades romanas e centro de estudos humanísticos.
Em 1537 ou 1538 partiu para Itália, por mandado de D. João III, a fim de estudar Arte e visitar monumentos antigos. Dirige-se para Valhadolid, segue daí para o Sul da França (Provença, Avinhão, Antibes) e encaminha-se para Roma. Em 1539 relaciona-se com Vittoria Colonna (1490 1547), cujo círculo cultural frequenta, tendo encontrado ainda Miguel Ângelo. De 1540 a 1547 viaja na Itália e estuda Arte em Roma, estando de regresso a Portugal em 1548.
Desta ausência de nove anos traz Francisco de Holanda um largo conhecimento da obra artística da Antiguidade Clássica e do que ela representa no surto e desenvolvimento da arte do Renascimento. Em 1540 conclui, em Lisboa os dois livros do tratado Da Pintura Antiga, oferecidos a D. João III. Nesse mesmo ano traça, no Porto, o plano de outra obra, Do Tirar pelo Natural, composta em forma de diálogo, que completara em 3 de Janeiro de 1549, em Santarém, onde seu irmão, João Homem de Holanda, era provedor.
Pela documentação existente, sabemos que Francisco de Holanda recebe honorários da rainha D. Catarina (1550 e 1554) por serviços prestados, incluindo a pintura de um retrato dela, e uma pensão vitalícia de 20 000 réis anuais que lhe é dada por D. João III (1 de Janeiro de 1551), pensão renovada e aumentada por motivo de obras entregues, até atingir, em 1583, por ordem de Filipe II de Espanha e rei de Portugal, o montante de 100 000 réis, juntamente com pagamentos em espécie. Esta pensão é definitivamente confirmada, tornando-se transmissível à viúva do artista, Luísa da Cunha Sequeira, por um alvará datado de 19 de Agosto de 1584, onde se declara que Francisco de Holanda havia falecido em 19 de Junho do mesmo ano. O infante D. Luís também atribuiu ao artista uma pensão anual de 10 000 réis por serviços que este lhe tinha prestado (1556). Do rei D. Sebastião recebeu igualmente Francisco de Holanda uma pensão (1567 1568), o que mostra que a coroa apoiou sempre o artista.
Em Julho de 1571 termina este a redacção do seu estudo, Da Fábrica Que Falece à Cidade de Lisboa, dirigida a D. Sebastião, que inclui, na segunda parte, o tratado Da Ciência do Desenho.
A divulgação e publicação dos textos de Francisco de Holanda deve-se a Joaquim de Vasconcelos. Deu a lume: Da Fábrica Que Falece à Cidade de Lisboa (Porto, 1879); Da Pintura Antigua (Porto, 1890 e 1892), posteriormente editada em volume (Porto, 1918), e parcialmente publicado, sob o título de Diálogos de Roma (Lisboa, 1955), por outros editores; Da Sciência do Desenho (Porto, 1879) e Do Tirar pelo Natural (Porto, 1915). A maioria destas obras foi inicialmente publicada por Joaquim de Vasconcelos em revistas, sob a forma de folhetim (por exemplo: «Da pintura antigua», in A Vida Moderna).
Em Espanha, Elias Tormo deu à estampa Os desenhos de antigualhas que viu Francisco D'Ollanda, pintor português (1539-1540), Madrid, 1940. Ángel González García fez a edição crítica do texto de 1548 Da Pintura Antigua (Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1984). O seu notabilíssimo livro de desenhos, De Aetatibus Mundi Imagines, identificado em 1953 por Francisco Cordeiro Blanco na Biblioteca Nacional de Madrid, contém cento e cinquenta e dois desenhos, datados de 1545 a 1573, e foi publicado, numa magnífica edição fac-similada, sob os auspícios do Banco Totta & Açores (Lisboa, 1983). Nessa impressionante série de desenhos. Francisco de Holanda trata temas extraídos do livro do Génesis. Pelo rasgo de concepção e pelo trago, eles aproximam-se muito daqueles que fará William Blake dois séculos e meio mais tarde. Na sua doutrinação sobre arte e o papel do artista na sociedade, Francisco de Holanda revela um conhecimento dos filósofos da antiguidade greco latina – época a que ele dá meramente a designação de «antiga» – que é produto de uma reflexão própria da obra de Platão e de Plotino, entre outros.
Em Da Pintura Antigua, Francisco de Holanda examina uma complexa problemática: o carácter singular do artista e a sua aparente misantropia, a posição do artista na era de Quinhentos e a preeminência entre as diferentes artes, tema que se relaciona na Península Ibérica com uma questão de impostos aplicáveis aos cultores das artes mecânicas. Francisco de Holanda, a exemplo de outros teóricos, sustenta que as três artes plásticas eram artes liberais e, por isso, deveriam estar isentas das exigências do fisco. Analisa ainda a atitude da nobreza peninsular perante as artes, concluindo que a sua pobre educação estética não lhe permite apreciá-las devidamente. O termo «pintura» tem uma conotação difusa nos escritos de Francisco de Holanda, assumindo uma pluralidade de sentidos, o que torna impossível atribuir-lhe uma designação genérica. A ambiguidade dissipa-se, no entanto, em parte, quando se considera que a pintura é, para Francisco de Holanda, um acto idêntico ao da criação divina. E este é um postulado fundamental em que assenta a obra e o pensamento de Francisco de Holanda.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989