Ferreira de Castro, José Maria. Emigrantes: romance. Lisboa: Portugália Editora, 1966
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Ilustrações de Júlio Pomar.
Edição comemorativa dos cinquenta anos de vida literária de Ferreira de Castro, 1916-1966.
300, [5] p., [12] f. il. : il., [12] estampas color. ; 28 cm. Com a caixa protectora.
Ferreira de Castro, Ossela, Oliveira de Azeméis, 1898 - Porto, 1974
Ficcionista e jornalista.
Emigrou para o Brasil com 13 anos, aí vivendo, durante alguns tempos, num seringal, na Amazónia, experiência que será mais tarde poderosamente transmutada na sua obra-prima, o romance A Selva (1930).
Com 19 anos, e depois de uma experiência como jornalista, no Pará, regressa a Portugal, onde luta por ingressar no jornalismo, trabalhando, sobretudo, como outsider. Virá a pertencer ao grupo anarco-sindicalista de A Batalha, em cujo suplemento literário – e revista Renovação (1925-1926) – colabora intensamente, assim como na revista ABC de Rocha Martins. Em 1928, é, com o escritor portuense Campos Monteiro, um dos fundadores do magazine Civilização.
Publica, entretanto, o seu primeiro livro em Lisboa, Mas... (1922), «estudos literários e sociológicos e novelas», e pequenas novelas, que, mais tarde, deixará de incluir na sua bibliografia: Carne Faminta (1922); O Êxito Fácil (1923); Sangue Negro (1923); A Boca da Esfinge (1924 de colaboração com Eduardo Frias); A Metamorfose (1924); A Morte Redimida e Sendas de Lirismo e de Amor (1925); A Peregrina do Mundo Novo (1926); A Casa dos Móveis Dourados e O Voo nas Trevas (1927). Em 1926, as crónicas ou reportagens de A Epopeia do Trabalho, com desenhos de Roberto Nobre. Por fim, em 1928, dá a lume a obra que ficará como um marco de maturidade e um romance de importância reconhecidamente universal: Emigrantes. Com este romance, nas palavras de Jaime Brasil, «era a primeira vez no Mundo que um escritor trazia à novelística o tema novo do homem despaisado e errante saudoso da terra natal e receoso de voltar a ela por vergonha de ter falhado na sua determinação de vida nova». Por outro lado, esta obra virá a ser reconhecida como verdadeiramente precursora do movimento neo-realista.
Dois anos depois, publica o seu livro de maior repercussão internacional, A Selva, que alcançou ser traduzido para 15 línguas, sendo o seu tradutor francês o insigne Blaise Cendrars.
Em 1935, durante algum tempo, dirige o semanário O Diabo, no qual lhe sucedeu Rodrigues Lapa.
Viageiro infatigável, ficaram-se-lhe também a dever, neste sector, livros em que deu conta minuciosa e fotograficamente documentada das suas andanças pelo Mundo.
Se no campo dos valores estilísticos se lhe podem pôr reservas, nem por isso a obra deste grande humanista poderá deixar de ser considerada como das mais importantes da literatura portuguesa do século XX. Curiosamente, é de alguns ficcionistas conotados com o movimento neo-realista – não de esclarecidos críticos do mesmo sector, como Óscar Lopes e Mário Sacramento – que têm vindo, nas últimas décadas, alguns dos seus julgamentos mais radicalmente severos acerca da eventual perenidade da obra do autor de A Selva. Não parece, no entanto, provável que o futuro lhes dê razão: se há um público verdadeiramente popular, esse é, no melhor sentido, o de Ferreira de Castro impressionante exemplo português de autodidactismo, no domínio da novelística.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994