Fernando Pessoa, Distância Constelada, Parnasso, Jardim de Poesia, Porto, 1955
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Edição de 500 exemplares numerados e assinados pelo editor. Peça de colecção.
Edição especial, numerada e assinada.
Edição de Pedro Veiga (Petrus)
"Um grande pessoano esquecido, ele próprio ainda hoje com toda uma biobibliografia por estudar e fixar devidamente, nasceu Pedro Veiga, a 5 de Maio de 1910, em Moimenta da Beira; e morreu no Porto (onde viveu desde a infância e tem, hoje, uma rua com o seu nome), a 13 de Julho de 1987. Advogado, tradutor, escritor e editor, Pedro Veiga viria a tornar-se figura de charneira da investigação e divulgação de Fernando Pessoa, sob o pseudónimo de Petrus.
Petrus foi um pioneiro dos estudos sobre o criador do “drama em gente”, ao lado dos já referidos João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro, mas também de Agostinho da Silva, Jorge de Sena, António Quadros, Teresa Rita Lopes, Georg Rudolf Lind, Jacinto do Prado Coelho, Joel Serrão e Eduardo Lourenço, entre outros.
Estudou em Coimbra e Lisboa, tendo-se licenciado em Direito e em Letras. O seu percurso académico brilhante granjeou-lhe mesmo um convite do Cardeal Cerejeira, Professor de Letras, para seu assistente – um convite que o jovem se apressou a declinar, argumentando que queria dedicar a sua vida a estar em casa a fazer livros e a procurar coisas pelas bibliotecas."
Ricardo Belo de Morais, Petrus, o Mais Excêntrico dos Pessoanos
“[…] um dia que se escreva um trabalho sobre a mentalidade de certos bibliófilos e roedores de livros e de certos literatos de botica, poetastros e critiquelhos que, como toupeiras, passam a vida a forragear ideias ou mesmo simples motivos poéticos, guardando sigilo das fontes inspiradoras – ver-se-á como esses parasitas são os principais responsáveis de tantos delitos de lesa-arte cometidos em Portugal com a obra de escritores prematuramente desaparecidos, sacrificada umas vezes às toleimas ou avareza da família, outras aos prejuízos da sociedade, às ideias feitas ou ao desinteresse.“, Distância Constelada, numa nota de fecho do livro, À Margem de um Prefácio Impertinente, Porto, 1955
Fernando Pessoa
Poeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador, FernandoPessoa nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1888 e aí faleceu a 30de novembro de 1935.
É, inequivocamente, a mais complexa personalidade literária portuguesa e europeia do século XX.
Com apenas sete anos e após a morte do pai, partiu para a África do Sul onde o seu padrasto ocupava o cargo de cônsul interino.Durante os dez anos que ali viveu, realizou com distinção os estudos liceais e redigiu alguns dos seus primeiros textos poéticos, atribuídos a pseudónimos, entre os quais se salienta o de Alexander Search.
Com dezassete anos, abandona a família e regressa a Portugal,com a intenção de ingressar no Curso Superior de Letras. EmLisboa, acaba por abandonar os estudos, sobrevive como correspondente comercial de inglês e dedica-se a uma vidaliterária intensa. Desenvolve colaboração com publicações(algumas delas dirigidas por si) como A República, Teatro, A Águia,A Renascença, Eh Real, O Jornal, A Capital, Exílio, Centauro,Portugal Futurista, Athena, Contemporânea, Revista Portuguesa,Presença, O Imparcial, O Mundo Português, Sudoeste, Momento.
Com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros,leva a cabo, em 1915, o projeto de Orpheu , revista que assinala a afirmação do modernismo português e cujo impacto cultural e literário só pôde cabalmente ser avaliado por geraçõesposteriores.
Tendo publicado em vida, em volume, apenas os seus poemas ingleses e o poema épico Mensagem , a bibliografia que legou à contemporaneidade é de tal forma extensa que o conhecimento da sua obra se encontra em curso, sendo alargado ou aprofundado à medida que vão saindo para o prelo os textos que integram um vastíssimo espólio. Mais do que a dimensão dessa obra, cujos contornos ainda não são completamente conhecidos, profícua em projetos literários, em esboços de planos, em versões de textos, em interpretações e reflexões sobre si mesma, impõe-se, porém, a complexidade filosófica e literária de que se reveste.
Dificilmente se pode chegar a sínteses simplistas diante de um autor que, além da obra assinada com o seu próprio nome, criou vários autores aparentemente autónomos e quase com existência real, os heterónimos, de que se destacam - o seu número eleva-se às dezenas - Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, cada um deles portador de uma identidade própria; de uma arte poética distinta; de uma evolução literária pessoal e ainda capazes de comentar as relações literárias e pessoais que estabelecem entre si.
A esta poderosa mistificação acresce ainda a obra multifacetadado seu criador, que recobre vários géneros (teatro, poesia lírica e épica, prosa doutrinária e filosófica, teorização literária, narrativa policial, etc.), vários interesses (ocultismo, nacionalismo, misticismo, etc.) e várias correntes literárias (todas por si criadas e teorizadas, como o paulismo, o intersecionismo ou o sensacionismo).
Elevando-se aos milhares de milhares as páginas já publicadas sobre a obra de Fernando Pessoa, e, muito particularmente, sobre o fenómeno da heteronímia, uma das premissas a ter em conta quando se aborda o universo pessoano é, como alertaEduardo Lourenço, não cair no equívoco de "tomar Caeiro, Campos e Reis como fragmentos de uma totalidade que convenientemente interpretados e lidos permitiriam reconstituí-la ou pelo menos entrever o seu perfil global. A verdade é mais simples: os heterónimos são a Totalidade fragmentada [...]".
Por isso mesmo e por essência não têm leitura individual, mas igualmente não têm dialéctica senão na luz dessa Totalidade deque não são partes, mas plurais e hierarquizadas maneiras de uma única e decisiva fragmentação. (p. 31) Avaliando a posteriori o significado global dessa aventura literária extraordinária revestem-se de particular relevo, como aspetos subjacentes a essas múltiplas realizações e a essa Totalidade entrevista, entre outros, o sentido de construtividade do poema (ou melhor, dos sistemas poéticos) e a capacidade de despersonalização obtidapela relação de reciprocidade estabelecida entre intelectualização e emoção.
Nessa medida, a obra de Fernando Pessoa constitui uma referência incontornável no processo que conduz à afirmação da modernidade, nomeadamente pela subordinação da criação literária a um processo de fingimento que, segundo FernandoGuimarães, "representa o esbatimento da subjetividade que conduzirá à poesia dramática dos heterónimos, à procura da complexidade entendida como emocionalização de uma ideia e intelectualização de uma emoção, à admissão da essencialidade expressiva da arte" bem como à "valorização da própria estrutura das realizações literárias" (cf. O Modernismo Português e a sua Poética , Porto, Lello, 1999, p. 61).
Deste modo, a poesia de Fernando Pessoa "Traçou pela sua própria existência o quadro dentro do qual se move a dialética mesma da nossa Modernidade", constituindo a matriz de uma filiação textual particularmente nítida à medida que a sua obra, e a dos heterónimos, ia, ao longo da década de 40, sendo descoberta e editada, a tal ponto que, a partir da sua aventura poética, se tornou impossível "escrever poesia como se a sua experiência não tivesse tido lugar." (LOURENÇO, Eduardo, cit.por MARTINHO, Fernando J. B. - Pessoa e a Moderna PoesiaPortuguesa - do "Orpheu" a 1960 , Lisboa, 1983, p. 157.)