Eduardo Lourenço, Montaigne ou la vie écrite. Chauvigny. L' Escampette, 2004
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1ª edição.
"Ce texte est l’un des plus pertinents et des plus lumineux jamais écrits sur Montaigne et l’invention de la littérature."
Eduardo Lourenço, São Pedro de Rio Seco, Almeida, 1923 - Lisboa, 2020
Ensaísta e professor universitário.
Vindo de uma pequena aldeia e de uma família conservadora, encontrou em Coimbra um ambiente mais aberto e propício a uma reflexão cultural que sempre haveria de prosseguir. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas (1946), permaneceu na Universidade de Coimbra como assistente de Filosofia entre 1947 e 1953, tendo ocorrido igualmente em Coimbra a publicação do seu livro de estreia intitulado Heterodoxia I (1949). Apesar de nas suas amizades dessa época se contarem alguns neo-realistas de formação marxista, a sua posição recusava, de facto, qualquer ortodoxia política ou outra, podendo considerar-se, no entanto, contrário ao regime do Estado Novo.
Foi professor de Cultura Portuguesa entre 1954 e 1955 na Alemanha (em Hamburgo e Heidelberg), exercendo depois a mesma actividade na Universidade de Montpellier (1956-58). Após um ano passado na Baía ensinando Filosofia, viveu, a partir de 1960, em França, leccionando nas Universidades de Grenoble (até 1965) e de Nice (1965-1987). O prolongado afastamento geográfico não correspondeu, porém, a qualquer corte com a realidade portuguesa, servindo, pelo contrário, para reforçar a atenção, a disponibilidade e o espírito crítico de que foi dando provas ao longo de inúmeras intervenções que a distância nunca impediu e se multiplicaram ainda mais a partir da mudança política de Abril de 1974, transformando-o num observador privilegiado e respeitado da cena política, social e cultural do país.
Inicialmente influenciada quer pela leitura de Husserl, Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger ou Sartre, quer pelo conhecimento das obras de Dostoievsky, Kafka ou Camus, a sua mundividência foi associada à de um certo existencialismo, sobretudo por volta dos anos cinquenta, altura em que colaborou na Árvore e se tornou amigo de Vergílio Ferreira. Eduardo Lourenço nunca se deixou enfeudar, todavia, a qualquer escola de pensamento, já que, embora favorável a ideias de esquerda, nunca abandonou uma atitude crítica perante essa esquerda, facto sobejamente explícito em opiniões manifestadas no conturbado período pós-revolucionário (cf. p. ex. O Fascismo Nunca Existiu, 1976) e em reflexões de grande fôlego e alcance sobre a cultura portuguesa (cf. O Labirinto da Saudade: Psicanálise Mítica do Destino Português, 1978).
A sua inteligência tem-lhe granjeado cada vez maior autoridade moral, processo que veio a culminar na atribuição da Ordem de Santiago de Espada em 1981 e do Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (concedido em 1988 por ocasião da sua obra Nós e a Europa ou as Duas Razões) no ano em que foi colocado em Roma como adido cultural português.
Outra faceta muito importante, contudo, veio a ser o exercício da crítica e do ensaísmo literários, virados predominantemente para a poesia. Além de um ensaio tão interessante como polémico («Presença ou a Contra-Revolução do Modernismo Português?», in O Comércio do Porto, 1960) e de um estudo sobre o neo-realismo (Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista, 1968), resultaria decisiva a aproximação à modernidade, em geral, e à obra de Pessoa, em particular, a propósito da qual deu à estampa o volume Pessoa Revisitado (1973), cujas fecundas, lúcidas e originais interpretações viriam a ser reformuladas no mais recente e ainda melhor Fernando Rei da Nossa Baviera (1986).
Indiferente à sucessão de correntes teóricas, e fugindo tanto ao historicismo como a pretensas análises objectivas, a perspectiva de E. L. influenciou já outros autores (p. ex. Eduardo Prado Coelho) e encontra-se enunciada num livro central, Tempo e Poesia (1974). Aí se defende um conceito criativo da crítica entendida não como apropriação da obra, mas sim como infinito e indefinido diálogo com ela e a partir dela. Desse estatuto dialogante continuam ainda a dar vivos sinais os ensaios de Eduardo Lourenço, que pelo fulgor da intuição ou pela vasta amplitude cultural justificam a noção que hoje se tem do A. como um dos principais ensaístas e pensadores portugueses.
A atribuição do Prémio Camões em 1996 veio coroar com toda a justiça o percurso brilhante de Eduardo Lourenço, projectado internacionalmente como um dos maiores intérpretes das grandes questões da cultura portuguesa e universal.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998