Duarte Galvão, Crónica de el-rei D. Afonso Henriques. Coimbra; Imprensa da universidade, 1934
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Edição especial de 793 exemplares, sendo este o exemplar n.º 375; Organização de Tomás da Fonseca.
O miolo da obra foi impresso na Imprensa da Universidade de Coimbra em 1934 sob a responsabilidade de Tomás da Fonseca. Esta impressão acabaou por não chegar ao público, pois a Imprensa da Universidade de Coimbra seria extinta por ordem do Ministro da Educação do Estado Novo em 1936, precisamente antes da conclusão da obra. Os 793 exemplares impressos acabaram por ser integrados na IN-CM sem a capa.
A militância política de Tomás da Fonseca contra o Estado Novo tornara a edição desta importante obra impossível de publicar, tendo preciitado o fim da imprensa universitária em Portugal e a instauração da censura.
Em 1986 por iniciativa de José Mattoso (que prefacia o texto) faz-se o acabamento da edição de 1936 (capa, prefácio, colófon) e sai, finalmente ao público, cinquenta anos depois.
XV, 216 pp.;
Tomás da Fonseca, Laceiras, Mortágua, 1877 - Lisboa, 1968
«É o escritor anticlerical português de maior renome», conclui Lopes de Oliveira – como ele natural de Mortágua e seu companheiro, pelo menos desde a revista Risos e Lisos (Coimbra, 1897) – ao prefaciar-lhe um livro, em 1949.
Poeta, ficcionista, historiógrafo, jornalista, militante e panfletário republicano, deputado e professor, Tomás da Fonseca é conhecido sobretudo pelas suas obras de vincada feição anticlerical, sendo ignorada quase por completo toda a sua intervenção noutros domínios, nomeadamente a infatigável acção que desenvolveu em prol da instrução e da cultura ao longo de várias décadas.
Oriundo de uma família de pequenos proprietários rurais, mais rica em prole do que em fazenda (era o segundo entre sete irmãos), para frequentar a escola primára móvel, implantada havia pouco na sua região, era obrigado todos os dias a fazer uma caminhada de ida e volta de 10 quilómetros. Aos 17 anos, peito largo e musculatura rija adquiridos ao leme do arado e do alvião coube a Tomás da Fonseca ser o escolhido pelos progenitores, de entre os quatro filhos varões, para seguir a vida eclesiástica, assim se restabelecendo a tradição da linhagem de contar com um padre na família. Deste modo, entrou para o Seminário de Coimbra, o qual viria a abandonar em 1903, após um prolongado e doloroso debate no interior de uma consciência seduzida pela grandeza da doutrina mas revoltada com a perversidade e a mesquinhez da sua pátria quotidiana.
Seguindo, resolutamente, a exortação do geógrafo e racionalista Elisée Reclus, a quem se dirigrira para lhe expor o dilema religioso com que se debatia e a pedir-lhe conselho. T. da Fonseca renunciou por fim aos propósitos que então o animavam («ordenar-me e depois insurgir-me contra tudo quanto a Igreja tem de absurdo e revoltante, dando assim realidade ao personagem de Zola, o abade Pierre Frement», conforme logo após confessou no seu livro Evangelho dum Seminarista), assumindo como norma imperativa da sua vida o conselho recebido daquele sábio e libertário francês: «Sois um homem do povo, ficai com os homens do povo, combatei ao seu lado, camarada sem título nem insígnia, um igual e um livre, ao lado dos iguais e dos livres.»
Participante activo – pela pena e pela palavra, nos jornais, nos comícios e em conferências – na ininterrupta acção política que iria conduzir alguns anos depois ao derrube da Monarquia portuguesa; deputado e mais tarde senador pelo distrito de Viseu, desde as Constituintes até 1917; chefe de gabinete do ministro do Fomento do Governo Provisório, Dr. António Luís Gomes; preso político na Penitenciária de Coimbra durante dois meses, em consequência das posições tomadas por si e por outros republicanos de Santa Comba Dão contra o consulado sidonista; resistente até ao final da vida ao regime do Estado Novo, que, em 1947, o encarcerou na prisão do Aljube, em Lisboa, por ter protestado contra a continuidade do Campo do Tarrafal – nada disto impediu, porém, o seu constante labor de paladino da instrução e da cultura do povo português, durante anos a fio, desde que à instrução e à educação decidiu dedicar a maior parte da sua longa vida.
A par dos seus escritos sobre a educação e o ensino, das visitas de estudo que empreendeu a escolas, museus e bibliotecas francesas, belgas e inglesas e da polémica travada no jornal O Mundo com João de Deus Ramos (1917) acerca do ensino religioso nas escolas, a par disto, Tomás da Fonseca consagrou-se com idêntico ardor à acção pedagógica directa. Na verdade, grande impulsionador do movimento das escolas móveis, percorreu o distrito do Viseu a pregar a boa nova da alfabetização pelo método de João de Deus (Cartilha Maternal); interveio na reforma do ensino primário e normal empreendida pelos governos republicanos (1912); apresentou ao Parlamento em 1916 um projecto de lei sobre a instrução primária (Lei n.º 429); incentivou e dinamizou, no âmbito das suas funções de deputado, a criação das comissões «Amigos da Escola», nomeadamente no seu distrito, cujos concelhos de Mortágua e Tondela percorreu em 1914, deslocando-se a todas as escolas móveis para instalar as referidas comissões; elaborou, em 1922, a instâncias do ministro da Instrução Pública, Dr. Augusto Nobre, o livro História da Civilização Relacionada com a História de Portugal; exerceu o magistério, primeiro como professor e depois como director da Escola Normal de Lisboa (dela foi demitido em 1918, pelo sidonismo, por visitar presos políticos na Penitenciária de Lisboa) e, tempos depois, da Escola Normal de Coimbra, da qual viria a ser afastado compulsivamente em 1934.
A sua acção pedagógica não se confinou, no entanto, ao ensino oficial; em 1925 fundou em Coimbra, com outros mestres (Álvaro Viana de Lemos, Aurélio Quintanilha, Joaquim de Carvalho e Manuel dos Reis) e alguns estudantes e trabalhadores manuais, a Universidade Livre.
É vasta e permanece dispersa a sua colaboração em jornais e em revistas. Escreveu, entre outros, nos seguintes periódicos: A Pátria (do Porto), O Mundo, A Vanguarda, Voz Pública, O Norte, República, O Povo, A Batalha, Lanterna (do Brasil), Luz e Vida, Alma Nacional, Arquivo Democrático (de que foi director), O Diabo e a República Portuguesa, um periódico por si fundado e de que era proprietário. Colaborou também no Guia de PortugalGrande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e ainda na obra dirigida por Lopes de Oliveira As Grandes Figuras da História da Humanidade : História Geral da Civilização. Há vários prefácios seus a livros de outros autores.
Pai do escritor «presencista», Branquinho da Fonseca (1905-1974).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994