Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa : na Officina da mesma Academia, 1793
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Descrição completa:
Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa; Fonseca, Pedro José da, 1737-1816, co-autor; Macedo, Agostinho José da Costa de, 1745-1822, co-autor; Gorge, Bartolomeu Inácio, 17---18--, co-autor; Academia das Ciências de Lisboa, impr. Lisboa : na Officina da mesma Academia, 1793
Descrição Física: CC, [1, 1 br., 2], 543, [1 br., 1, 1 br.] pp.; 2º (45 cm); Foi impresso apenas o Tomo I; Na página de de título, escudo da Academia das Ciências de Lisboa. Texto a 2 col.
Encadernação coeva, lombada e cantos em pele. Encadernação consolidada, guardas novas.
e
Costa de Macedo, Agostinho José da. Catalogo dos livros, que se haõ de ler para a continuaçaõ do diccionario da lingua Portugueza: mandado publicar pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Na Typographia da Mesma Academia, 1799.
Encadernação da época, lombada refeita.
Inocêncio, Dicionário Bibliográfico português:
DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUEZA, publicado pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. Tomo I. Lisboa, na Offic. da mesma Academia 1793. folio gr. De ccvi—544 pag. — Contém apenas a letra A, e finda na palavra Azurrar.
“A proposito d’este Diccionario diz o sabio academico José Corrêa da Serra: «N’elle se descobrem a cada pagina provas da actividade, da paciencia e do bom gosto dos seus auctores. Bem longe de se limitarem á significação de cada uma das palavras, elles se applicaram a verificar as modificações ainda as mais fugitivas, dadas pelos escriptores a esta significação primitiva, ou seja na disposição das phrases, ou seja na associação de uma palavra principal com outras palavras. Os criticos mais escrupulosos não têem podido queixarse senão da superabundancia dos exemplos ; porém este defeito, se o é, abona um Diccionario de exemplo de todos os mais defeitos.»
O erudito philologo José Vicente Gomes de Moura tambem não duvida affirmar: «que se este Diccionario se acabasse, competiria com os mais ricos das linguas vivas da Europa.»
Grande louvor cabe por certo aos tres benemeritos academicos e distinctos professores, que principalmente se deram a este trabalho improbo com incalculaveis fadigas, empregando n’elle as horas de descanso que lhes ficavam livres dos encargos do magisterio nas respectivas cadeiras. Assim conseguiram para a Academia a gloria de publicar, decorridos apenas quatro annos depois da sua fundação aquellas primicias monumentaes, a que só a maledicencia, ou a inveja pódem negar o devido apreço. E o mais é, que deixaram ainda elaborados e promptos numerosos subsidios para os volumes seguintes, os quaes a incuria deixou perder de todo, sem que hoje se saiba o destino que levaram, com quanto não reste duvida de que existiram, pelo testemunho auctorisado dos que affiançam tel-os visto.
Entre os tres collaboradores principaes, ou quasi unicos do Diccionario, merece mais distincta e especial menção o laboriosissimo Pedro José da Fonseca, a quem se deve, além da parte que lhe tocou na letra A, todas as peças accessorias que a esta precedem no volume; isto é, a Dedicatoria, Planta, e Catalogo dos auctores, tudo trabalhos de notavel erudição, e exclusivamente seus, como verifiquei em grande parte pelos autographos, que vi da sua propria letra. As vigilias e fadigas que isto lhe custou arruinaram de todo a sua já deteriorada saude, reduzindoo ao estado valetudinario em que houve de arrastar ainda por bastantes annos os restos de uma vida atribulada. Seus companheiros, Agostinho José da Costa de Macedo e Bartholomeu Ignacio Gorge perderam um e outro a vista ao fim de alguns annos, para mais não a recuperarem. E o premio de seus trabalhos? Foi um exemplar do Diccionario, que cada um d’elles recebeu, como qualquer dos outros socios! “ Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico português, ii, p. 137
“DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUEZA, publicado pela Academia Real das Sciencias, etc. (v. Dicc., tomo ii, pag. 137).
Cumpre corrigir até certo ponto o que se diz no final d’este artigo, com respeito á falta de premio dado aos tres academicos, que mais efficazmente collaboraram na composição e coordenação do volume publicado. Na acta da sessão da Academia de 9 de Março de 1793, registrada no livro respectivo, acha-se exarada a seguinte disposição: «Determinou-se que a cada um dos socios Pedro José da Fonseca, Bartholomeu Ignacio Gorge e Agostinho José da Costa, com os louvores da Academia se désse uma medalha de ouro pela acertada execução do tomo I do Diccionario». Vê-se pois que houve, quando menos, o projecto de uma distincção honorifica ; mas se a determinação chegou a pôr-se por obra, ou ficou meramente em palavras escriptas, é o que não saberei dizer.
Como specimen curioso, de que bem poucos haverão conhecimento, deixarei aqui o conceito que do tomo do Diccionario publicado fazia ha mais de cincoenta annos um homem de letras d’aquelle tempo, e menos mau philologo, o muitas vezes citado Nuno Alvares Pereira Pato Moniz. A pag. 93 do tomo III do periodico Observador portuguez, impresso em 1819, diz elle a proposito do assumpto: «Falando com a ingenuidade e clareza que são proprias de homens de letras, temos por bem lamentavel cousa que compondo-se a nossa Academia de tantos homens illustrados, e tractando de uma de suas tarefas mais importantes, tractando de compor um Diccionario da lingua, fossem as opiniões tão controversas, desvairando em tão longos e intempestivos debates, que alfim adoptaram um dos peiores systemas, e compuzeram somente o primeiro volume de um diccionario, que a haver-se por aquelle teor de se completar, precisaria quem o quizesse de apromptar cincoenta moedas, e um carro para o levar para casa, vindo assim mesmo a ficar com um muito imperfeito diccionario da lingua! Porém que ha de ser se, não sei porque força do destino, ha ainda cabeças tão empoeiradas, que em seu juizo Francisco Manuel é um auctorzinho, e Bocage é uma peste!» —Será desnecessario observar, que o auctor d’estes periodos morreu sem ser academico.”
In: Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico português, ix, pp. 115-116;
"O Dicionário da Academia Real das Ciências (1793)
A Academia Real das Ciências de Lisboa, motivada, desde a sua instituição (1779), para os estudos da língua, determinou como um dos seus “utilissimos intentos, que a composição de hum Diccionario da mesma lingoa fizesse parte dos seus primeiros trabalhos”. Em sessão de 4 de Julho de 1780 foi apresentada a "Planta para se formar o Diccionário", e o primeiro tomo, que haveria de ficar único (com a nomenclatura começada por A-, terminando em “Azurrar”), foi publicado em 1793.
Entre os académicos que mais eficazmente participaram na sua composição, destacam-se três professores do Colégio dos Nobres: Pedro José da Fonseca (1737?-1816), que fora já o dicionarista encarregado de produzir os dicionários que deveriam substituir a Prosodia, suprimida pela reforma escolar pombalina, Bartolomeu Inácio Jorge (professor de filosofia e estudioso da literatura portuguesa e latina), e Agostinho José da Costa de Macedo (1745-1822). O primeiro escreveu os textos introdutórios, onde se explicita o “desenho, a ordem, contextura e materia do Diccionário”, e foi também o principal coordenador da selecção e do tratamento do “corpus”; o último foi o responsável “in totum” pela compilação e redacção do Catálogo dos autores e obras que se lerão e de que se tomarão as autoridades para a composição do Diccionario da Lingoa Portugueza. Trata-se de uma abundante recolha e apreciação bibliográfica (prolonga-se por 150 páginas “in folio”) sobre os autores “classicos" portugueses e as suas obras, até ao final do séc. XVII. Segundo o testemunho de Inocêncio, são “triviaes os erros, lacunas e confusões de toda a espécie” neste Catálogo, e o seu autor limitou-se “a extrahir servilmente da Bibliotheca de Barbosa os nomes dos escriptores e indicações das obras” (I. Silva 1858, vol. 2, 55).
O Diccionario da Academia dá testemunho de um saber lexicográfico moderno, apoiado em boa reflexão teórica, esclarecida pela experiência portuguesa e estrangeira. Oferece, além da copiosa nomenclatura de “vocabulos puramente Portuguezes” (Base VIII), rigorosamente alfabetados, uma boa estruturação dos artigos correspondentes a cada entrada. Compõem-se da classificação gramatical, com informações complementares sobre o género, o número, as irregularidades e as regências dos verbos; indicação sobre o uso ou variedade (“facultativa, forense, mechanica, de provincia, vulgar, comica, proverbial, antiga ou antiquada”); a “definição, explicação ou descrição”; a etimologia; as variantes ortográficas (incluindo as variantes diacrónicas); a textualização autorizada; a abonação de epítetos para os substantivos, e de advérbios de modo (em -mente) para os verbos; e, “no fim de cada vocabulo”, acrescentam-se "os Adagios ou Proverbios, que lhe tocarem" (Base XVII). (Casteleiro 1981)
O Dicionário da Academia é o mais significativo empreendimento da exercitação normativa sobre a língua portuguesa, foi suscitado num momento de teorização linguística intensa, de teor nacionalista. O purismo, a defesa e o enriquecimento do idioma pátrio dominam o pensamento linguístico do final do séc. XVIII. O bom uso e as boas palavras portuguesas polarizam o convívio arcádico e ocupam as actividades da Academia das Ciências que promove) a propósito, vários concursos, não só para a elaboração da gramática filosófica, mas também para a pesquisa lexical e lexicográfica que devia acompanhar a elaboração do grande Dicionário. Sirva de exemplo, o trabalho de António das Neves Pereira (+1818) Ensaio critico - “Sobre qual seja o uso prudente das palavras de que se servirão os nossos bons Escritores do Seculo XV, e XVI; e deixarão esquecer os que depois a seguirão até ao presente.” (Pereira 1793)
Pereira, António das Neves. Ensaio Critico Sobre qual seja o uso prudente das palavras de que se servirão os nossos bons Escritores do Século XV, e deixarão esquecer os que depois a seguirão até ao presente [1793], Memorias de Litteratura Portugueza da Academia das Ciências 4 (1793), 339-466, 5 (1793), 152-252."
in: Telmo Verdelho, Dicionários portugueses, Breve história.