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Novidades Literatura portuguesa

Correia, João de Araújo. Noite de Fogo e outros contos. Inova, Porto, 1974

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Colecção duas horas de leitura, volume 27 

1ª edição.

96 pp. ; il. ; 23 cm

 

João de Araújo Correia, Canelas do Douro, Régua, 1899 - Régua, 1985 
 
Médico, contista, cronista, poeta. Depois de estudos secundários feitos em Vila Real e no Porto, matriculou-se na Faculdade de Medicina desta cidade, tendo concluído o curso (interrompido cerca de seis anos por grave doença) em 1927.
 
A sua vida dividiu-se entre o exercício da profissão de médico rural e o cultivo das letras («Amo a leitura, mas nenhuma obra-prima vale para mim tanto como o homem de carne e osso»). Convivendo desde criança com os clássicos, tanto estrangeiros (Cervantes, Tchekov, Shakespeare) como, principalmente, os nossos (Fernão Lopes, Bernardes, Eça, Camilo, Trindade Coelho), pode ele mesmo ser considerado um clássico, pelo cuidado constante com que trata a língua, tanto escrita como falada, pela procura aturada do termo mais expressivo e genuíno, pelo vigor e castigado da frase – podada até ao despojamento e à secura.
 
Colaborando regularmente desde o seu regresso do Porto na imprensa local, foi um dos principais impulsionadores do Jornal da Régua, além da colaboração prestada a outros jornais e revistas. Opúsculos, conferências, entrevistas e artigos dispersos foram, mais tarde, reunidos no volume Palavras fora da Boca.
 
O livro com que se estreou, Sem Método, 1938, conjunto de crónicas, contarelos, fragmentos de prosa poética, reflexões, etc., anunciava já as suas qualidades de ficcionista, amplamente confirmadas na colectânea Contos Bárbaros, publicada no ano seguinte. Desde essa altura até ao ano da sua morte nunca mais deixou de escrever sobre as pessoas e os acontecimentos que, de qualquer modo, o impressionaram. A sua sensibilidade, tecendo secretas e essenciais correspondências com o seu pequeno país, «o país vinhateiro», é, como ele, rude, agreste, indomável, mas como ele também humanizada, e de uma doçura sem nome quando frutifica em vinho o mel. Participando, por uma espécie de instinto, de uma sabedoria dos lugares e das gentes, a sua narrativa entra directamente no cerne das coisas, da captação do instante fundamental – daí as características quer do género literário que Araújo Correia elege – o conto, a crónica –, quer as que definem o seu próprio estilo: conciso, incisivo e dinâmico.
 
Numa linguagem visual fortemente impressiva pinta o universo físico da região duriense, mas sobretudo a paisagem humana. A sociedade que aparece em todos os seus contos é uma pequena sociedade rural, extremamente hierarquizada, com as suas convenções, vícios, grandezas e pequenas ambições. Esses homens e mulheres vulgaríssimos, em que se mistura «o melhor e o pior da criação», desfilam aos nossos olhos como uma galeria de tipos, no sentido vicentino. Acentuando e diversificando mais vivamente os personagens rurais, não deixa de nos dar também retratos fortes e melancólicos dos personagens do topo da escala: fidalgos, capitalistas, bispos. Este universo é-nos quase sempre apresentado como desarmónico e difícil e a felicidade nele é palavra quase desconhecida. A natureza dura, hostil, sofredora, torna-se paradigmática do homem duriense, bárbaro, taciturno e contido.
 
Cultivando uma distanciação quase científica relativamente aos seus personagens, João de Araújo Correia procura não distorcer a realidade emitindo juízos de valor, e é pelo viés da ironia e do humor que se aproxima, sem demasiadamente a desfigurar, da grandeza e da miséria humanas. Não podemos deixar de salientar, neste autor, a capacidade em captar a linguagem popular, retratando também neste aspecto, a realidade circundante: adoptando os vocábulos próprios da gente da sua região, diversificando-os em função da situação social dos personagens, utiliza os erros de vocabulário e de pronúncia, a linguagem do imaginário popular, para caracterizar realisticamente essa paisagem humana, principal centro da sua atenção.
 
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994


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