Catarina Micaela de Sousa César e Lencastre, Fábulas. [manuscrito inédito, sd]
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Peça única.
Manuscrito inédito, obra há muito dada como perdida.
50 poemas com a forma de tercetos, quadras, quintilhas, etc.
Encadernação coeva em tecido vermelho, lombada danificada e folha de guarda em falta. Cabeça, canelura e pé dos cadernos, dourados a ouro fino. Carimbo de biblioteca com as armas reais portuguesas.
52 pp.; 21,5 cm x 16 cm.
Francisco Freire de Carvalho, na obra "Primeiro ensaio sobre historia litteraria de Portugal desde a sua mais remota origem até o presente tempo, seguido de differentes opusculos, que servem para sua maior illustração, e offerecido aos amadores da litteratura portugueza em todas as nações. Typographia rollandiana, 1845", a p. 256 refere: "occorre-nos todavia o termos visto em a nossa mocidade uma collecção de Fábulas desta Senhora, dignas de muito louvável estimação, assim como depois outras poesias miúdas, todas respirando fecundidade de ingenho, e escriptas com pureza e amenidade de estilo."
Na base de dados da FCUL, Centro de Estudos Classicos, "Escritoras em português antes de 1900", refere-se que a presente obra (Fábulas) se encontra perdida. https://escritoras-em-portugues.com/en/xviii/catarina-micaela-de-sousa-cesar-e-lencastre-1a-viscondessa-de-balsemao/
M. Luísa Malato Borralho refere: "Denominada pelos coevos como a «Safo portuguesa», não se limitou à lírica amorosa, sendo muito ellogiada as suas fábulas, bem como algumas composições de ardor patriótico..." Biblos, Enciclopédia verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, Balsemão, Viscondessa de., cols. 514-515, vol. 1.
Manuscrito realizado pelo falsário, Domingos dos Santos Sarmento, professor de caligrafia do Real Colégio da Feitoria. Anos mais tarde será "condenado à morte com amputação das duas mãos" por ter feito cópias manuscritas de Apólices do Real Erário. https://lusojornal.com/o-maior-falsario-da-historia-portuguesa-domingos-dos-santos-de-morais-sarmento-e-as-relacoes-com-o-regime-de-napoleao/
Biografia:
"Catarina Micaela de Sousa César e Lencastre (1749-1824), Viscondessa de Balsemão
Nascida em Guimarães, a 29 de Setembro de 1749, Catarina Micaela de Sousa César e Lencastre foi uma proeminente poetisa portuguesa, que recebeu o título nobiliárquico de Viscondessa de Balsemão, em decorrência do decreto de 14 de Agosto de 1801, em favor de seu marido, Luís Pinto de Sousa Coutinho, nomeado Visconde de Balsemão, pelo Príncipe-Regente D. João, em nome de sua mãe D. Maria I de Portugal.
Era filha de Francisco Philipe de Souza da Silva Alcoforado e D. Roza Maria Viterbo de Alencastre. Segundo o estudo de Maria Luísa Malato Borralho (2008, p.26), “os nomes de Lobera e os de Alcoforado, da genealogia dos Senhores de Vila Pouca, sustentavam ainda mais nobres parentescos literários (assumidos uns, outros vagamente atribuídos) com os irmãos Lobeira, Luís Vaz de Camões, ou até com soror Mariana Alcoforado.”
Outros nomes menos conhecidos fazem parte da veia literária da família de Catarina Lencastre, como o próprio pai, que pertencia à Academia Vimaranense, juntamente com o tio da poetisa, Sebastião Corrêa de Sá. O avô materno, Diogo Corrêa de Sá, era membro ativo da Academia dos Generosos, enquanto que o primo Martim Corrêa de Sá pertencia a várias academias, entre as quais Academia dos Ocultos, e Diogo Pereira Frojaz Coutinho, também primo da poetisa, era membro da Academia dos Aplicados Elvenses.
Além das Academias, vale salientar o papel dos conventos na contribuição da teia literária que compunha os laços familiares de Catarina de Lencastre. A conhecida escritora Maria do Céu, religiosa no Mosteiro da Esperança, uma das mais célebres vozes da Literatura conventual portuguesa, tia-avó da mãe de Catarina de Lencastre. Destacamos ainda sua madrinha de batismo, D. Catherina Bernarda de Minotes e Souza, religiosa no convento de Santa Clara de Villa de Conde, de acordo com o Livro de assentos de nascimentos, do arquivo de Guimarães. Como ressalta a pesquisadora Borralho, os frequentes outeiros poéticos realizados no convento resultou na intervenção do arcebispo de Braga, em 1758, ordenando à “Rª Abadessa que convocada a comunidade […] menos lhe consisnta fazerem bailes e entremezes e musica com letra profana [..] onde se originavam dissenções, pendências emulações” (F. Martins, Um Friso de Vimaraneneses Ilustres, p.7, apud. Borralho, 2008, p.24).
Inserida nesse contexto de vitalidade literária, Catarina de Lencastre inicia seus passos na Literatura nos saraus que frequentava ainda solteira. Porém é a partir da conjuntura de seu casamento com Luís Pinto de Sousa Coutinho, então governador da capitania de Mato, e posteriormente embaixador na Inglaterra, que levou a poetisa definitivamente ao mundo das Letras e das Luzes. Pois a instalação em Londres, centro notável de livres-pensadores e literatos, a impulsionou a “traçar um plano intellectual, de forma disciplinada e intensive. Aquele ano, ocupá-lo-ia Catarina de Lencastre a estudar inglês, francês e italiano, e a ler os mais conhecidos autores daquelas literaturas.[…] Só depois abre os seus salões. Convida membros da embaixada portuguesa, das embaixadas estrangeiras, senhores da aristocracia e intelectuais ingleses.” (Borralho, 2008, p.60).
De regresso a Portugal, em 1788, Catarina de Lencastre relaciona-se com outras escritoras célebres que se destacam na intelectualidade portuguesa da época, como D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, mais conhecida por Marquesa de Alorna, ou pelo pseudônimo poético de Alcipe, e a escritora Teresa Josefa de Mello Breyner, ou a Condessa do Vimieiro, com pseudônimo de Tirce. Assim, como suas contemporâneas, Catarina de Lencastre adoptou o pseudônimo anagramático Nathércia.
Pela relevância que teve a figura de Safo na obra da Viscondessa, através de traduções e imitações de poemas sáficos, e as várias referências à poetisa da Antiguidade, recebeu o cognome de Sapho Portugueza. De um modo geral, os Sapho e os outros poetas antigos, os motivos, os temas, os deuses da mitologia greco-latina e, todo o universo mítico da Antiguidade, estão notavelmente presentes no conjunto de sua obra. Porém, a diversidade de tópicos abordados pela autora como a Razão, o Amor, a Natureza, a Felicidade, o Pessimismo, o Caos, faz a pesquisadora Borralho pensar que, “Catarina de Lencastre revelou-se uma autora exemplar nessa percepção da continuidade e da ruptura na história literária”, questionando assim a classificação que lhe foi atribuída de “pré-romântica”.
A obra da Viscondensa de Balsemão foi objecto de duas teses de doutoramento:
CUNHA, Zenóbia Collares Moreira, O pré-romantismo português: subsídios para a sua compreensão [Texto policopiado] (Lisboa 1992). Tese de doutoramento apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.
BORRALHO, Maria Luísa Malato da Rosa, D. Catarina de Lencastre (1749?1824): libreto para uma autora quase esquecida [Texto policopiado] (Porto 1999) 2 vols. Tese de doutoramento apresentada na Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
Dentre os generos literários cultivados pela autora encontramos: odes, sonetos, quintilhas, canções, apólogos, fábulas, imitações de Safo, peças de teatro e cartas."
Texto e referências Luciane Deplagne: