Bandarra, Gonçalo Anes de. Profecias do Bandarra: Sapateiro de Trancoso. Vega, Lisboa, s/d
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87 pp. ; 21 cm
Gonçalo Anes Bandarra, Trancoso, 1500? - ?, 1556?
De Bandarra, «çapateiro de correia» sempre precedido da fama de vidente, poucos factos se conhecem além do processo que lhe foi movido pela Santa Inquisição, em 1541 [proc. nº. 7197, pasta 8], em razão do alvoroço que andavam provocando umas suas Trovas, ditas proféticas e judaizantes, entre a comunidade de cristãos-novos portugueses. O próprio Gonçalo Anes, citado no processo, apenas afirma ter «uma veia de fazer trovas» e também «grande memória». Sabe-se que em Trancoso existia importante feira e comunidade judaica, que poderá ter utilizado as Trovas com uma conotação que originalmente não teriam. Tudo além do processo são especulações. O Bandarra foi condenado a «abjurar de todas as interpretações feitas e não escrever nem explicar quaisquer textos das Sagradas Escrituras, podendo apenas ler o Flos Sanctorium e os Evangelhos».
O chamado «carácter messiânico» das trovas, verdadeiro «evangelho do Sebastianismo», segundo Lúcio de Azevedo, ressurgiu reforçado a cada crise da nacionalidade, tendo-se tornado bandeira dos messianistas coevos, dos sebastianistas e dos adeptos da Restauração ou dos profetas do Quinto Império. A figura do Encoberto já foi associada a D. Sebastião, D. João IV e D. Pedro IV, só para citar alguns casos, tendo bastas vezes tido um papel positivo ao agregar a população em torno de um sentimento de unidade.
As Trovas de Bandarra foram publicadas em várias versões nem sempre concordantes, editadas e comentadas à medida de cada época. Desconhece-se, pois, qual a sua forma inicial. Constaram sucessivamente dos índices de livros proibidos pela Inquisição, em 1547, 1581, 1661 e 1768, o último dos quais já da responsabilidade da Real Mesa Censória pombalina.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
01/2000