António da Cunha Correia Júnior, Trovas do meu bailado, edição do autor, Karachi, 1957
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Exemplar com dedicatória autógrafa.
«Filho primogénito de António da Cunha Correia, que foi amanuense da Câmara Municipal e também funcionário dos Correios e Telefones, e de D. Zélia Maria de Medeiros Tânger, dona de casa, António da Cunha Correia Júnior nasceu na Matriz da Horta a 25 de Agosto de 1912. Certamente, por razões que se prendiam com a profissão do pai, iniciou o ensino secundário em Angra, tendo-se matriculado no Liceu da Horta já no 3.º ano em 1930, logo de se destacando pela sua actividade literária.
Ele foi, com efeito, um dos fundadores do jornal Mocidade Académica, “quinzenário do Liceu Manuel de Arriaga” que, à época, leccionava apenas os primeiros cinco anos, o que nos leva a deduzir ser aquela publicação feita por jovens de 15 e 16 anos de idade. Tinha como directores os estudantes António Cunha Correia Jr., Frederico A. Machado e Francisco S. Amaral, como editor o Dr. Agostinho da Silva e era impresso na Tipografia Faialense, onde hoje existe o Café Volga. Durou quase três anos, foram publicados 59 números e, sem aviso prévio, terminou a 24 de Maio de 1934, deixando marcas profundas em muitos dos que nele colaboraram e que bastante se distinguiram pela vida fora. Alguns deles:
Frederico Machado, trocou o culto das letras pela área científica, diplomou-se em engenharia civil no Instituto Superior Técnico (IST), foi director de Obras Públicas, vulcanólogo eminente, o primeiro português doutorado em engenharia civil no IST, catedrático das Universidades dos Açores e de Aveiro, onde se jubilou; pela sua vida e obra, é, justamente considerado, um faialense de mérito e um cientista superior;
Francisco Amaral, tal como Frederico Machado, cedo terá abandonado as lides poéticas, dedicando-se à docência do ensino secundário no Liceu de Guimarães;
Silva Peixoto, não obstante a sua licenciatura em Direito e toda uma vida profissional dedicada à magistratura, foi o mais fecundo e activo jornalista açoriano daquela época;
Raul Xavier, “o mais talentoso de quantos pertenceram à nossa geração, jornalista por temperamento e intuição que só a sorte não quis que ocupasse lugar de relevo em qualquer diário da Capital” 1;
Franco Nogueira, o diplomata e ministro que também foi brilhante crítico literário nas páginas do “Diário Popular” (1941 a 1946) e do jornal “A Semana” (de 1950 a 1953) e que, depois de cessar funções governativas, publicou vários trabalhos sobre o Estado Novo, de que se destacam a biografia “Salazar”, “Diálogos interditos”, “História de Portugal de 1933 a 1974”, “Um político confessa-se” e “Juízo Final”;
Manuel Alexandre Madruga, foi desde a primeira hora o artista plástico da Mocidade Académica, “um temperamento de verdadeiro mestre na sua incomparável habilidade de abrir gravuras em madeira”, aí descobrindo a sua vocação para as Belas Artes em cuja faculdade concluiu a licenciatura, sendo depois competente professor e reitor do Liceu da Horta e director da Escola do Magistério Primário.
Outros jovens passaram pelas colunas da “Mocidade Académica”: Manuel Tânger Correia, licenciado em Filologia Românica, professor, escritor e diplomata, foi director do Teatro Moderno da Faculdade de Letras de Lisboa e, quando começou a RTP, seu primeiro director de programas; Adelina da Costa Nunes de Queirós, revelou-se no conto e na crónica e, mesmo da cidade brasileira de Petrópolis onde vivia, manteve, durante largos anos, regular e fecunda colaboração na imprensa faialense; Simão Cordeiro, o romântico poeta de “Ecos da Alma”, prematuramente falecido, além de outros que deixaram marcas na advocacia, no professorado, nas letras e nas artes.
De todos eles, porém, o que mais se salientou, pelas obras publicadas e pela sua dedicação ao jornalismo, foi António da Cunha Correia Jr. Concluído o ensino secundário, exerceu o cargo de guarda-livros em Santa Cruz das Flores (1936) e foi apontador interino das Obras Públicas da Horta em 1937. Logo após o fim da Mocidade Académica, fundou, sozinho, o quinzenário Ilha Azul, colaborando, desde então e pela vida fora, em muitos órgãos de informação portugueses, com destaque para O Telégrafo, Correio da Horta, A Horta Desportiva, O Feminino, As Flores e Correio dos Açores.
Por alturas do Primeiro Congresso Açoriano, em 1938, abalou do Faial para se fixar em Lisboa, procurando concretizar o sonho de uma realização profissional como jornalista e escritor. Primeiro, trabalhou como revisor de várias publicações – Diário de Notícias, Jornal do Comércio, Diário de Lisboa – e depois fez parte do corpo redactorial da Gazeta dos Caminhos de Ferro e da revista Viagem. Todavia, pelas dificuldades por que passou, depressa concluiu que o jornalismo não lhe permitia ter a vida digna que ambicionara. Conseguiu ingressar no quadro de funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros, trabalhou nas legações em Haia e Nova Deli e nas embaixadas de Karachi e do Rio de Janeiro.»
Publicou vários livros de poesia e prosa: “Musa incipiente” (1934), “Rústicos” (1935), “Pó” (1936), “Planeta Caos” (1936) “Ilhas Maravilhosas” (1940), “Via Láctea” (1941), “Trovas do meu bailado” (1957) “Bazar de miniaturas” (1959), e ainda “Sonetos”, “Dois poemas sem rumo”, “Cantigas de embalar”, “Crónicas de longe e de perto”, “O crime dos baldios”, “O Verão há-de chegar” e a opereta “Manta de Retalhos” levada à cena na cidade da Horta.
António da Cunha Correia Júnior casou em Goa, a 12 de Janeiro de 1945, com D. Maria Eulinda Beatriz da Piedade Reis e foi pai de Mário Reis Correia, de Ricardo Reis da Cunha Correia, de Carlos Reis da Cunha Correia e de D. Fátima Reis Correia, os dois primeiros nascidos em Nova Delhi (União Indiana) e os outros em Karachi (Paquistão).
Faleceu no Rio de Janeiro a 18 de Março de 1992 2.
1 Peixoto, J. da Silva, “Correio da Horta”, de 17 Outubro 1981
2Vd. Forjaz, Jorge e Mendes, António Ornelas – Genealogias das Quatro Ilhas, Lisboa 2009, vol. I, p.651
Fernando Faria
in: http://tribunadasilhas.pt/index.php/opiniao/item/11119-antonio-da-cunha-correia-junior-poeta-e-jornalista