António Caetano de Sousa, Historia genealogica da Casa Real Portugueza, Lisboa, 1735-1749
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António Caetano de Sousa, Historia genealogica da Casa Real Portugueza: desde a sua origem até o presente (...) e offerecida a El Rey D. João V (...), Lisboa Occidental: na Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real, 1735-1749
«D. ANTÓNIO CAETANO DE SOUSA, Clerigo Regular Theatino, duas vezes Preposito na Casa de S. Caetano, Deputado da Junta da Bulla da Cruzada, um dos primeiros cincoenta Academicos da Acad. Real da Historia Portugueza, etc. - N. em Lisboa a 30 de Maio de 1674, e m. na mesma cidade a 5 de Julho de 1759. - V. a sua vida que extensamente escreveu D. Thomás Caetano de Bem, no tomo II das Mem. Hist. e Chron. dos Clerigos Regulares de pag. 174 a 199.
— Historia Genealogica da Casa Real Portugueza desde a sua origem até o presente, com as familias illustres que procedem dos Reis, e dos Serenissimos Duques de Bragança, justificada com instrumentos e escriptores de inviolavel fé. Lisboa, por José Antonio da Silva 1735 a 1748. 4.º gr. 12 tomos, tendo no primeiro o retrato do auctor, e no quarto as estampas descriptivas dos sellos reaes, e das medalhas e moedas cunhadas em Portugal desde o principio da monarchia. O tomo XII por mui volumoso costuma ser encadernado em duas partes: ao todo XIII volumes, com 14:203 paginas, sem contar os indices, etc.
— Provas da Historia Genealogica da Casa Real Portugueza tiradas dos instrumentos do Archivo da Torre do Tombo, da Serenissima Casa de Bragança, de diversas Cathedraes, Mosteiros, e outros particulares deste reino. Lisboa, na Reg. Off. Silviana 1739 a 1748. 4.º gr. 6 tomos, com 4:580 paginas Indice geral dos appellidos, nomes proprios, e cousas notaveis que se comprehendem nos treze tomos da Historia Genealogica, e dos documentos comprehendidos nos seis volumes de Provas com que se acha auctorisada a mesma Historia. Ibi, na mesma Off. 1749, 4.º gr. de 435 pag.
Esta obra grandiosa e monumental, dedicada pelo auctor a elrei D. João V, e por este mandada imprimir à sua custa, com quanto pareça pelo seu titulo pertencer sua Casa Real, pode ser verdadeiramente considerada uma historia geral do reino; pois que nas suas vastas dimensões abrange variadissimos assumptos, mais ou menos enladados com a genealogia e acções da familia real desde o principio da monarchia.
Quanto às Provas além dos documentos que encerram, e que são de subida importancia para a historia politica, civil e ecclesiastica do reino, alguns dos quaes se procurariam hoje inutilmente em outra parte por se haverem extraviado, ou consumido com o incendio subsequente ao terremoto de 1755 os originaes donde foram trasladados, entrando nesse numero todos os do Archivo da Casa de Bragança; contém egualmente especies de grande valor para os estudiosos da lingua portugueza, e da historia litteraria do nosso paiz. Entre os que se acham neste caso merecem especial menção: No tomo I a collecção de varias obras miudas del rei D. Duarte (embora algumas não sejam mais que trechos ou capitulos soltos do Leal Conselheiro, que hoje gosamos impresso na sua integra: - no tomo II a Doutrina de Lourenço de Cáceres ao infante D. Luis: - no tomo III a Oração do Senhor D. Duarte em louvor da philosophia: - no tomo V o Itinerario da jornada que fez D. Afonso Conde de Ourem ao Concilio de Basilea: - no tomo VI a traducção de uma Oração dirigida a elrei D. Affonso V por Vasco Fernandes de Lucena, etc. etc.
… certo que entre tantas joias quantas em si encerra este precioso thesouro, ha algumas de mais inferiores quilates, e nem tudo pôde ser indistinctamente julgado por verdadeiro ouro de lei. João Pedro Ribeiro nas Observações Diplomaticas a pag. 69 tractando da obra e do seu auctor, explica-se em termos severos, e asas desabridos, como era do seu costume, dizendo: D. Antonio Caetano de Sousa nas Provas que juntou à sua Historia Genealogica semeou tantos erros, e tão grosseiros, que apenas se pode suppor que elle chegasse a ler alguns monumentos que ahi produziu: tendo-se servido de pessoas inteiramente ineptas para lhe tirar as copias. E em seguida aponta varios exemplos concernentes a comprovar a verdade de suas assersões. Estas censuras porém recahindo sobre pequenas manchas n„o podem privar a obra do conceito e estima que merece, nem seu auctor da glória que lhe compete por tel-a emprehendido e terminado à custa de porfiado estudo, e das fadigas de tantos annos, com a efficacia e perseverança de que não ha entre nós muitos exemplos.
A Historia Genealogica é geralmente conhecida e apreciada dentro e fóra de Portugal. Ainda no Catalogo da Livraria do finado Lord Stuart que em Londres se imprimia em 1855, vem ella qualificada (sob n.º 3408) de obra rarissima; e no manual de Brunet se fez menção de alguns exemplares vendidos em tempos modernos por 210 francos, 190 ditos, e até por 13 lb. st. Em Portugal porém, nem gosa daquella qualificão, nem os seus preços são hoje tão subidos. Os mais perfeitos e bem acondicionados exemplares não têm excedido, que eu saiba, a 28:800 réis. O preço mais regular é de 19:200 até 24:000 réis; porém não é raro achal-os por menor quantia mormente havendo qualquer defeito attendivel, como a desigualdade nas encadernações, o mau estado destas, o demasiado aparo das folhas etc., etc.»
in: Inocêncio Francisco da Silva, Dicionário bibliográfico português. Estudos aplicáveis a Portugal e ao Brasil. Lisboa: Imprensa Nacional, 1858-1923
Gravadores e ilustradores:
Vieira Lusitano, 1699-1783; Guilherme Francisco Lourenço Debrie, ?-1755; Pedro de Rochefort, 1673-1740; Louis Simonneau, 1654/6-1727; Bartolommeo Morganti.
António Caetano de Sousa (Lisboa, 30 de Maio de 1674 — Lisboa, 5 de Julho de 1759) foi um escritor, bibliógrafo e genealogista português que pertenceu ao grupo inicial de académicos da Academia Real de História Portuguesa. Foi clérigo teatino, a ele se devendo a História Genealógica da Casa Real Portuguesa, e o seu Aparato bibliográfico, a continuação do Agiologio Lusitano e um vasto conjunto de obras de carácter histórico e bibliográfico, particularmente ligadas à história eclesiástica de Portugal e seus domínios ultramarinos.
Filho de Miguel de Sousa Ferreira, nascido em São Nicolau, Porto, e de sua mulher (casados em Lisboa, Conceição Nova (extinta)) Maria Craesbeck (Lisboa, Conceição Nova (extinta), 25 de Fevereiro de 1637 - Quinta da Ramada, 19 de Maio de 1709), da família Craesbeck de Lovaina, desde há muito em Lisboa ligada à impressão e edição de livros.
Decidido a enveredar pela vida eclesiástica, em 1690 ingressou no convento de São Caetano de Lisboa, dos teatinos, e nele professou em 1691. Depois de cursar os estudos filosóficos e teológicos necessários à ordenação sacerdotal, enveredou pelo estudo da história eclesiástica. Conhecendo que o Agiologio Lusitano, de Jorge Cardoso, estava incompleto (só fora publicado o III volume, cobrindo o calendário litúrgico apenas até Junho), resolveu continuá-lo. Nesse trabalho deparou-se com graves dificuldades de acesso às fontes reunidas por Jorge Cardoso, as quais estavam parcialmente dispersas e parcialmente na posse de particulares que não permitiam o seu acesso (casa de Arronches). Como forma de sistematização, data desta época a criação do aparato bibliográfico, uma das primeiras listas organizadas de fontes bibliográficas conhecidas em Portugal, introduzindo um método de estudo sistemático das fontes que ainda hoje é considerado relevante.
No seu trabalho contou com o apoio do rei D. João V de Portugal, que lhe concedeu uma pensão de 100$000 réis por ano para permitir a contratação de um secretário.
Dadas as dificuldades de acesso às fontes, acabou por abandonar os estudos de hagiologia para se dedicar a outros estudos, particularmente genealógicos e de história eclesiástica. Da parte hagiológica da obra de António Caetano de Sousa resultou o volume que tem o título Agiologio Lusitano dos santos e varões illustres em virtude do Reino de Portugal e suas conquistas, tomo IV, que comprehende os mezes de Julho e Agosto e com seus commentarios, claramente incompleta, publicado postumamente em Lisboa no ano de 1774.
Em 1720 foi fundada em Lisboa a Academia Real de História Portuguesa, tendo D. António Caetano de Sousa sido um dos seus primeiros 50 membros.
Nos âmbito dos trabalhos académicos da novel instituição, António Caetano de Sousa, agora voltado para a história eclesiástica, foi encarregado de escrever as memórias eclesiásticas dos bispados ultramarinos portugueses, incluindo os de Ceuta e de Tânger, até ao tempo em que esses territórios deixaram de pertencer ao domínio português. Desta incumbência resultou uma valiosa sequência de trabalhos sobre os bispados ultramarinos que foram sendo publicados nos tomos I e II da Colecção dos Documentos e Memórias da Academia Real de História.
Nos debates académicos rapidamente se notabilizou pela sua erudição e pelo cuidado posto no estudo das fontes, sendo um dos membros mais colaborantes da Academia. Dado acervo bibliográfico que tinha obtido no âmbito dos seus estudos de hagiologia, a excelência do seu aparato e o conhecimento das fontes, a ele se deve o fornecimento de numerosas notícias e documentos que depois foram utilizadas por outros académicos.
Quando em 1723 foi enviada para parecer da Academia uma árvore genealógica da casa real portuguesa, que fora elaborada pelo bispo de Sarsina, António Caetano de Sousa foi um dos académicos nomeados para a estudar, tendo elaborado um parecer dizendo que achara aquela árvore genealógica tão escassa, que tivera de fazer outra, porque o bispo de Sarsina nem ao menos parecia ter conhecimento da obra de Jacob Guilherme Inchoff, intitulada Stemma regium Lusitanicum seu Historia Genealogica Familiae Regiae Portugalliae, que fora publicada em Amesterdão no ano de 1708.
Em todas as sessões dava conta do progresso que fazia nos seus estudos acerca da história das dioceses ultramarinas, mas na sessão de 25 de Janeiro de 1725 informou que parara esse trabalho por lhe faltarem notícias importantes que esperava do ultramar, e que entretanto se aplicara a outro estudo, nomeadamente ao desenvolvimento da árvore genealógica da casa real, por considerar inadequadas as obras existentes sobre a matéria. Desse estudo resultaram 37 mapas genealógicos, que o autor pediu que fossem reduzidos a um pequeno volume para uso dos académicos.
Ao conhecer o interesse do rei D. João V nos seus estudos sobre a casa real, abandonou os trabalhos sobre as dioceses ultramarinas, que se encontravam dificultados pela falta de fontes, para se ocupar exclusivamente na elaboração de uma História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Partindo de um projecto inicial que previa elaborar 3 volumes de texto e um volume de documentos, graças ao acervo documental que tinha reunido, a obra foi crescendo até atingir, na sua conclusão, 13 volumes de texto, com 14.203 páginas, e 6 volumes de provas documentais, com 4.580 páginas, para além de um índice com 435 páginas. O primeiro volume foi impresso em 1735 e o último em 1749. A obra foi dedicada ao rei D. João V, que a mandou imprimir à sua custa. Apesar do título dar a entender que se trata de uma genealogia da casa real portuguesa, a obra pode ser considerada uma história geral de Portugal, pois que nas suas vastas dimensões abrange múltiplos assuntos, mais ou menos enlaçados com a genealogia e acções da família real, desde o princípio da monarquia.
Quanto às Provas, cujos 6 volumes se publicaram de 1739 a 1748, incluem documentos que são de grande importância para a história política, civil e eclesiástica de Portugal, muitos dos quais se encontram hoje desaparecidos por se terem extraviado ou por terem sido consumidos pelos incêndios subsequentes ao terramoto de 1755.
O índice foi impresso em 1749, com o título Indice geral dos appellidos, nomes proprios, e cousas notaveis que se comprehendem nos treze tomos da Historia Genealogica, e dos documentos comprehendidos nos seis volumes das Provas com que se acha autorisada a mesma Historia, constituindo um importante estudo analítico do conteúdo daquelas obras[3].
A partir dos estudos feitos sobre a casa real, António Caetano de Sousa publicou a obra intitulada Memorias historicas e genealogicas dos Grandes de Portugal, impressa em 1739. Como seria de esperar, a obra foi tão popular que se fizeram reedições em 1742 e 1755[4], a última das quais muito aumentada e corrigida pelo autor.
D. João V, além da pensão de 100$000 réis que lhe dera, nomeou António Caetano de Sousa deputado da Junta da Bula da Santa Cruzada e deu o foro de fidalgo a um seu sobrinho. Posteriormente, o monarca aposentou-o no lugar de deputado da Junta da Bula, com o ordenado de 350$000 réis, e deu 100$000 réis de pensão pelas capelas que vagassem a seu sobrinho, para além de 12$000 réis de tença a um seu segundo sobrinho.
Faleceu em Lisboa a 5 de Julho de 1759, deixando numerosos trabalhos por publicar. Os manuscritos foram legados a D. Tomás Caetano do Bem, que publicou uma sua biografia e se encarregou da edição póstuma do Agiologio.
in: wikipédia