Andrade, Miguel Leitão de, Miscellanea do sitio de N. Sª. da Luz do Pedrogão Grande... 1629
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Encadernação em pergaminho da época, guardas modernas. Tem as duas gravuras da batalha de Álcacer-Quibir, frontispício e folha com o retrato do autor. Primeiras folhas com marcas de trabalho de xilófagos, não afectando o texto.
Marginália da época.
Rarissímo quando completo.
(Exemplar com as gravuras da batalha de Álcacer-Quibir).
Descrição completa:
Miscellanea do sitio de N. Sª. da Luz do Pedrogão Grande : apparecimto. de sua sta. imagem, fundação do seu Convto. e da See de Lxa... com mtas. curiozidades e poezias diversas / por Mighel Leitão dªAndra... - Em Lxa. : por Matheus Pinheiro, 1629. - [8], 7 [i.é 8] f., p. 9-635 [i.é 639], [1] p., front., retr., 2 grav. desdobr. : il. ; 4º (17 cm)
[ ] 1 ¶8 A-Z8 2A-2R8 2S4.
Referências bibliográficas:
Barbosa Machado 3, 475
Inocêncio 6, 239
Figaniére 175
Samodães 1, 1742
UCBG Res. 274
Pericão, M.G. Bibliogr. mariana port. séc. XVII e XVIII 719
Soares, E. Hist. grav. (ed. 1971) 1, 190 não menciona grav. das cenas da batalha de Alcácer Quibir
«MIGUEL LEITÃO DE ANDRADA, Comendador da Ordem de Christo. Cursou na Universidade de Coimbra a faculdade de Cânones, porém não chegou a formar-se, partindo para a jornada de África com el-rei D. Sebastião.
Aí ficou cativo dos mouros na batalha de Alcacer-Quibir em 4 de Agosto de 1578, conseguindo evadir-se no fim de algum tempo. Seguiu depois as partes de D. Antonio, prior do Grato, pelo que foi perseguido e esteve preso durante muitos, anos; por ordem de Filipe II .
- N . na villa de Pedrogão; bispado de Coimbra, em 1555: e vivia ainda em Lisboa no ano de 1629, contando então 74 de idade.—E.
1771) (C) Miscellanea do sítio de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão grande, apparecimento de sua santa imagem, fundação do seu convento, e da see de Lisboa, expurgnação d’ella, perda de elrei Sebastiam. E que seja Nobreza, Senhor, Senhoria, Vassallo delRei, Rico-homem. Infanção, Corte, Cortesia, Mizura, Reverência, e Tirar o chapéu, e prodígios. Com muitas curiosidades e poesias diversas. Lisboa, por Mattheus Pinheiro, 1659. 4.º de xvi (inumeradas) - 635 pág.
— Este título é aberto a buril, e como tal ortografia, aí uma portada gravada pelo artista português João Baptista; além do frontispício Ana obre o retrato do autor, e duas estampas descritivas da batalha de Alcácer.
É a miscelânea um dos livros raros e curiosos que possuímos. Escrito em forma dialogística e contendo ao todo 20 diálogos, a sua linguagem de mistura com algumas vozes antiquadas e outras vulgares, conserva geralmente aquela pureza e propriedade que caracterizam os escritos contemporâneos. No estilo, ainda que pouco castigado e ás vezes duro, não deixa de apresentar de vez em quando formosura, viveza e elegância, qualidades que melhor se distinguiriam se a edição, por mal cuidada e incorrecta, não as desfigurasse e confundisse. Quanto ás peças em verso; que aí aparecem intercaladas na prosa, são tidas por inferiores a esta em merecimento, e alguns críticos as julgam destituídas de gala e suavidade poética. Advirta-se porém, que em o numero nessas peças entram muitas alheias, das quais Leitão foi mero compilador; a cujo respeito pôde ler-se uma nota que em sua defesa e justificação escreveu Antonio Ribeiro dos Santos, a qual se acha transcrita no Jornal da Sociedade dos Amigos das Letras, n." 4 (Julho 1836), a pag. 98, contra os que pretenderam acusá-lo de querer usurpar para si as obras de outros. Entre essas composições alheias ha algumas que se atribuem ao cantor dos Lusíadas, e andam incluídas nas obras do grande poeta. Tais são, por exemplo, a canção: «Oh pomar venturoso» (Miscellanea, pag. 9) que é com leves variantes a xm de Camões; outra que começa: «Quem com solido intento» (Miscell., pag. 431) cantada como a xiv de Camões; e a outra: «Que é isto? sonho ou vejo a ninfa pura» (Miscell., pag. 435), que é nas respectivas edições a xv. — Também a pag. 377 um soneto: «De quantas graças tinha a natureza» havido pelo cxxxi entre os de Camões, e a pag. 435 outro: «Si gran gloria me vino de mirar-te,» que é o CCLXX, com a diferença de aparecer na Miscellanea traduzido em castelhano, etc, etc.
Ao sr. visconde de Juromenha em sua novíssima edição das Obras de Camões ocorreu mencionar no tomo II a identidade das referidas canções: porém não vejo que diga cousa alguma quanto á dos dois sonetos.
No que nos relata da batalha de Alcácer, Leitão gostou sempre do credito de historiador fidedigno, como testemunha presencial dos sucessos. Contudo o autor da Dedução Cronologia e Analítica, firme e tenaz no propósito de achar na Companhia de Jesus a origem de todos os males e desgraças de Portugal, atribuindo aos seus membros toda a sorte de maquinações e falsidades para levarem por diante os seus tenebrosos projectos, lá foi descobrir não sei-aonde (ao menos assim o affirma na parte 1.ª, divisão vi § 200, isto é, a pag. 105 da edição de 8.°) que a Miscellanea «fora obra mandada estampar pelos jesuítas, com o fim expresso de manterem o povo na persuasão de que D. Sebastião escapara vivo da batalha, fingindo (são palavras suas) uma historia verdadeiramente daquelas, a que o vulgo chama de mouros encantados»!!! Apesar porém d'esta estranha afirmativa, tão destituída de provas, não creio que Leitão haja desmerecido em autoridade no conceito dos que o reputam historiador verídico e sincero dos factos que observara.
A Miscellanea paga-se desde muitos anos por avultado preço. Sei que D. Rodrigo de Sousa Coutinho, depois conde de Linhares, comprara no principio d'este século um exemplar por 8:000 réis. Monsenhor Ferreira Gordo deu por um que possuía 5:760 réis. Outros em tempos mais recentes foram vendidos por 6:400 réis, isto é, quando bem tratados e completos com rosto e estampas, que em alguns costumam faltar. Na livraria que foi de Joaquim Pereira da Costa, existem não menos de dois, a que os respectivos avaliadores puseram no inventario o preço total de 6:000 réis, em verdade bem diminuto, mas que não deve servir de motivo para admiração, á vista de tantas e tão disparatadas irregularidades como a cada passo se notam naquele inventario, em que os peritos tamanha imperícia mostraram! (…)»
in: Silva, Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico Português, Lisboa, Imprensa Nacional, 1858
Notas sobre a obra:
“[Miguel Leitão de Andrada] Publicou o seu livro da Miscelânea aos setenta e quatro anos, incluindo na prosa dos seus diálogos muitas poesias de Camões, com variantes que correspondem a urna elaboração reflectida de um mesmo sentimento.” Teófilo Braga, História da literatura portuguesa — II, Renascença. Porto 1914, p. 508.
“Este livro, quase totalmente ignorado pelos historiadores da literatura portuguesa e pelos críticos, como a maioria das obras literárias publicadas durante a chamada Monarquia Dual, pode dizer-se que quase só é evocado em referencia ao Sebastianismo e a pretexto da sua visível relação com o cânone da lírica de Camões, processo que, polemicamente iniciado no tempo de Faria e Sousa, o maior camonista de todos os tempos, se prolongou através dos séculos e prossegue em nossos dias, nele tendo tomado parte, entre outros, D. Antonio Alvares da Cunha, o Visconde de Juromenha, Teófilo Braga, D. Carolina Michaelis, o Padre José María Rodrigues, Hernáni Cidade, Costa Pimpão, Herculano de Carvalho, Aguiar e Silva, Leodegário Azevedo Filho, Cleonice Berardinelli, Jorge de Sena, para só nos referirmos aos principais.”
António Cirurgião, Leituras alegóricas de Camões (...), INCM, Lisboa, 1999, pp. 148-159
O livro é composto de 20 diálogos sobre vários assuntos. Vila de Pedrogão, ponte de Pedra em Sacavém, tomada de Lisboa aos mouros, costumes para melhorar as estalagens em Portugal, mosteiro de Santa Clara de Figueiró e de Jesus em Aveiro, Jornada de África do Rei Sebastião, cativeiro do autor, linhagem dos Andradas ou Andrades, reino e corte do rei Arouce, lenda da princesa Peralta, etc.
Nota sobre o VI diálogo:
Dos assuntos da Miscelânea, que são muitos e curiosos, é de nota a descrição da batalha de Álcacer-Quibir.
Relato singular, na primeira pessoa, da invasão fracassada liderada pelo jovem rei de Portugal, dom Sebastião, ao norte de África, da sua derrota e morte. Contém as muito raras xilogravuras com a representação da batalha de Álcacer-Quibir. Aquela que veio a ser conhecida pela Batalha dos Três Reis ou batalha de Wadi al-Makhazin em Marrocos, um raro acontecimento digno de memória e sem precedente histórico, na medida em que três reis morreram na batalha: os dois príncipes marroquinos da dinastia saadiana em conflito, Abd al-Malik e Mohammed al-Mutawakkil e, aliado a este último, o malogrado rei português D. Sebastião, rei de Portugal de 24 anos, que invadiu Marrocos em 1578 com um exército de 18.000 homens.
O assunto da batalha, que provocou grandes convulsões na sociedade portuguesa, gerou também uma espécie de negação do acontecimento. Segundo rumores, que rapidamente se espalharam por Portugal, dom Sebastião teria fugido incólume com alguns fidalgos. A esperança desta notícia e o medo que se generalizou pela perda da soberania para a coroa espanhola levou ao fenómeno de psicose generalizada, aquilo que veio a ser conhecido, pelo sebastianismo. Um fenómeno que se enraizou no inconsciente colectivo português, da literatura e da poesia, à musica, à política, etc.
O facto de não existirem notícias e relatos impressos em Portugal nos anos que sucederam à batalha, e os rumores de que o jovem rei teria sobrevivido, teve uma intenção política, pois era fundamental ganhar tempo para evitar a crise sucessória e a inevitável união entre as duas coroas ibéricas. Charlatães, místicos, videntes, mas também homens da política, do clero e das letras, alimentaram a psicose sebástico-messiânica. É principalmente por esta razão de que são muito escassas as publicações nas primeiras décadas que sucederam ao desastre da batalha de Álcacer-Quibir. Uma imensidão de boatos davam o rei vivo, ora escondido em Veneza, ora preso em Nápoles; em França e na Alemanha começaram a surgir algumas publicações, de Itália surgiam cartas que noticiavam a volta do rei milagroso.
Inclui a letra e a partitura do célebre romance, um romance musicado português, em castelhano, que descreve os eventos da batalha de Alcácer-Quibir de 4 de agosto de 1578. Única partitura impressa de música profana conhecida deste período.
Puestos están frente a frente
Puestos estan frente a frente
Los dosvalerosos campos:
Uno es del Rey Maluco,
Otro de Sebastiano
El lusitano.
Quando los Moros sin cuenta
Su hueste la van cercando
Que pera uno de los suvos
Son mais deziocho tantos.
Ardiendo en fuego su pecho
Ravia por ponerlos mano,
Piensa que todos son nada,
Manda a pelea echar bando
El lusitano.
Empuxan picas los moros,
Ya huyen rotos rodando,
Los ventureros victoria
Pregonan con grande aplauso,
Que mataram el Maluco,
Y lo ha llevado el diablo,
Porque junto a sua litera
Lo passaron de un balazo.
Pero por peccados nuestros
La gozamos poco espacio;
Que a socorrer retroguardia
La delantera ha parado.
Todo lo anda el buen Rey,
Dando muertes muy gallardo,
La espada tinta de sangre,
Laça rota, y sin cavallo.
Busca la muerte en dar muertes,
Busca la muerte Sebastiano el lusitano,
Diziendo: Aora és la hora.
Que un bel morir, tutta la vita honorada.
Música e Letra: Miguel Leitão de Andrada (?)