Agustina Bessa-Luís, As fúrias, Guimarães, Lisboa, 1977
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Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu a 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e morreu a 3 de junho de 2019 no Porto.
O Douro, onde viveu a sua infância e aonde voltava durante as férias escolares da adolescência, marcou indelevelmente o seu imaginário romanesco. Começou a escrever muito cedo, ainda adolescente, mas publicou a sua primeira obra de ficção, a novela Mundo Fechado, apenas em1948. A partir de 1950 fixou residência no Porto, onde publicou o seu primeiro romance, os Super-Homens.
Embora sempre ligada à produção literária, exerceu o cargo de diretora do jornal O Primeiro de Janeiro e depois de diretora do Teatro Nacional D. Maria II. Pertenceu à Academia de Ciências de Lisboa, Classe das Letras, tornou-se membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres de Paris e da Academia Brasileira de Letras.
As suas obras revelam uma profunda reflexão sobre a condição humana. É o caso do romance A Sibila (1954), que obteve um êxito considerável, tendo sido objeto de sucessivas edições e vários prémios, como o Prémio Delfim Guimarães (1953) e o Prémio Eça de Queirós (1954), que a consagra como nome cimeiro da novelística contemporânea.
Tendo merecido desde as suas primícias o reconhecimento de autores e críticos como José Régio, Óscar Lopes, Eugénio de Andrade, Vitorino Nemésio ou Jorge de Sena, a sua obra viria a ser distinguida com os mais importantes prémios literários nacionais: Prémio Nacional de Novelística, em 1967; Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em1966 e em 1977, Prémio PEN Clube e D. Dinis, em 1980, Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1984 e Prémio Cidade do Porto.
Os vários romances publicados por Agustina entre os anos cinquenta e oitenta, onde, predominantemente, a terra duriense, espaço mítico e cosmogónico, serve de palco para o desnovelar de "gestos e histórias de criaturas que a romancista colhe sempre em estado de auto destruição" e onde só "as criaturas apoiadas no obscuro e no indisputável de tradições ou carácter, gémeas da presença opaca da Terra, conservam o dom de resistir ao lento esfarelamento da sua realidade" (LOURENÇO, Eduardo, op. cit., pp.170-171).
Abrindo uma grande linhagem na novelística da segunda metade do séculoXX, para Silvina Rodrigues Lopes, "A especificidade do romance de Agustina Bessa-Luís pertence à afirmação decisiva da impureza do romance, que é o romance como crise permanente, desencadeada pela manifestação de uma avalancha incontrolada de acontecimentos e reflexões que o indivíduo não domina mas recebe, das múltiplas realizações da linguagem, literárias e orais", ao mesmo tempo que, "na relação com uma essência da épica, que é a memória, não admira que o ritmo desta escritora seja um ritmo pessoal, determinável pela memória própria e por uma relação com a memória dos outros, através de uma atenção ao saber, hábitos, ritos ou lendas da tradição, e de uma atenção ao memorizável, cuja condição é, no entanto, o esquecimento, a possibilidade de repetir em interpretações inéditas."(LOPES, Silvina Rodrigues - Agustina Bessa-Luís - As Hipóteses do Romance, Porto, Asa, s/l, 1992, p. 21). Prosseguindo a rota desconcertante encetada no início dos anos 50, ao longo de uma obra com já mais de cinco dezenas de títulos, e que se multiplica, de forma multímoda, entre a ficção, o teatro, a crónica, os guiões, a literatura infantil, a bibliografia ficcional de Agustina integra ainda uma série de ensaios romanescos de inspiração histórico-biográfica, como SantoAntónio, Florbela Espanca, Fanny Owen (resultado de um trabalho de pesquisa, fundado em montagens sobre textos de Camilo), Sebastião José,Longos Dias Têm Cem Anos - Presença de Vieira da Silva, Adivinhas de Pedro e Inês, Um Bicho da Terra, A Monja de Lisboa, Martha Telles ou As Meninas, tendo este último sido escrito juntamente com Paula Rego.
Publicou ainda, entre muitos outros títulos, O Manto (1966), Canção diante deUma Porta Fechada (1966), As Fúrias (1977), O Mosteiro (1981), que ganhou o prémio D. Dinis da Casa de Mateus, e Os Meninos de Ouro (1983), que recebeu o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores. O conjunto das ua obra mereceu o Prémio Nacional de Novelística, em 1967, e o Prémio União Latina, em 1997. Vários dos seus romances (entre eles Fanny Owen, de1979) foram adaptados ao cinema por Manoel de Oliveira. Em maio de 2002, recebeu pela segunda vez o Prémio da AssociaçãoPortuguesa de Escritores relativo ao ano de 2001, atribuído à obra Joia deFamília (2001). Esta sua obra também foi adaptada ao cinema por Manoel deOliveira, dando origem ao filme O Princípio da Incerteza. Na sequência da trilogia literária iniciada com esta obra, a autora, em 2002, editou um novo romance, desta vez com o título A Alma dos Ricos.
Agustina Bessa-Luís foi distinguida com o prémio Vergílio Ferreira 2004, atribuído pela Universidade de Évora pela sua carreira como ficcionista, e o Prémio Camões 2004. Nesse mesmo ano, 2004, editou mais uma obra, com o título Antes do Degelo. A 22 de março de 2005 foi distinguida, juntamente com o poeta Eugénio de Andrade, com o doutoramento "Honoris Causa",atribuído pela Universidade do Porto durante a cerimónia do 94.º aniversário da sua fundação.