Padre António Vieira, Cartas, Coordenadas e anotadas por J. Lúcio de Azevedo, Imprensa nacional, Lisboa, 1970 (3 vol. )
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António Vieira
Nasceu em Lisboa a 6 de fevereiro de 1608, sendo baptizado no dia 15 desse mês na sé metropolitana da mesma cidade; faleceu na Baía a 18 de julho de 1697. Era filho de Cristóvão Vieira Ravasco, fidalgo de nobre ascendência, e de D. Maria de Azevedo.
Nos fins de 1615 partiu com a sua família para a Baía, não se sabe bem, porque motivo, supondo com grande fundamento João Francisco Lisboa que foi por seu pai ter sido nomeado secretário do governo da Baía, lugar que efectivamente por muito tempo exerceu. A 20 de janeiro de 1616 iam naufragando nos baixos da Paraíba, e quase milagrosamente se salvaram. Ainda depois teve António Vieira uma gravíssima doença, de que escapou para glória do seu nome e da sua pátria, que tanto havia de ilustrar com o seu maravilhoso engenho.
Começou a estudar no colégio da Companhia de Jesus, mostrando, contudo, no princípio dificuldades em aprender. É de crer que os padres jesuítas, vendo o grande talento que o seu juvenil discípulo manifestava, procurassem o mais possível, como sempre faziam, atrai-lo ao seu grémio. Diz o próprio padre António Vieira, que sentiu uma grande vocação para a vida religiosa numa tarde de março de 1623, quando estava ouvindo o padre Manuel do Carmo pregar, fazendo uma descrição do inferno. É bem possível, que efectivamente, sentindo desabrochar em si próprio o talento oratório, e percebendo que só no púlpito o poderia manifestar dum modo prestigioso, se sentisse arrastado para a carreira que tais triunfos lhe proporcionaria. Um dia manifestou a seus pais a vontade que tinha de professar, e eles opuseram-se terminantemente. Procuraram por todas as formas dissuadi-lo desse desejo, mostrando lhe todos os seus inconvenientes, e tentando chamá-lo à razão, mas nada conseguiram. Cristóvão Ravasco manteve-se firme na recusa, e o filho esperou que o tempo o tornasse menos intransigente. Como assim não acontecesse, na noite de 5 de maio de 1623 fugiu da casa paterna e foi para colégio dos jesuítas. Parece que os padres não seriam estranhos a essa resolução, porque, conforme dissemos, eles procuravam por todos os modos chamar para o seu instituto as grandes inteligências, e não desperdiçariam decerto um tal discípulo. Os pais empregaram ainda todos os esforços para o arrancarem do poder dos jesuítas, mas António Vieira não se dissuadiu do seu propósito, e no fim dos dois anos de noviciado fez os primeiros votos, e a 6 de maio de 1625 passou à classe dos escolares, ligando se então por votos secretos e tomando cargo das obrigações do ensino.
Tão precocemente se desenvolvia o seu talento, que aos dezassete anos de idade já era encarregado de escrever em latim as anuas que eram enviadas da província ao geral de Roma, e aos dezoito era mandado lecionar retórica no colégio de Olinda, e depois filosofia dialéctica. Ali se manifestaram também brilhantemente as suas admiráveis faculdades intelectuais, fazendo ele uns comentários a Séneca e a Ovídio, comentários que se perderam, como os que fez, como teólogo, a várias passagens da Escritura. Aos vinte anos frequentava teologia, e os superiores lhe permitiam redigir uma apostilha para as suas próprias lições; aos trinta era nomeado mestre de teologia. Passou ao 3.º grau da Companhia, dos coadjutores espirituais, e depois de ter dito a primeira missa, em 1635, começou a exercer as funções de pregador, inerentes ao referido grau. As suas provas estavam dadas, e só lhe faltava a idade para se elevar a professo e ser admitido ao 4.º voto, pelo qual reconhecia o papa como único poder legítimo na terra. Como pregador, revelou desde logo os prodigiosos dotes oratórios que o distinguiam. Pode mesmo dizer-se que ascendeu, logo nos primeiros sermões, aos mais altos da oratória, porque foi em 1610 que pregou o seu famoso sermão contra os holandeses. As circunstâncias eram terríveis. A Baía já fora ameaçada pelas armas de Maurício de Nassau, e os desastres sucediam-se uns aos outros com a maior rapidez. Foi então que na catedral da Baía se começaram a fazer preces pelo sucesso das armas portuguesas que tão infelizes andavam. Num dos dias de preces coube ao padre António Vieira a vez do pregar. Tomou por texto do sermão a frase: Exurge, quare obdormis, Domine? Dirigindo-se a Deus, não como suplicante mas como censor, num rapto sublime de patriotismo e de dor, dirigiu à Providencia essa famosa apostrofe, que é um dos trechos mais belo os da tribuna sagrada ou profana de todos os países, apostrofe em que a acusa amargamente de ter abandonado os seus fiéis portugueses que pela fé tantos sacrifícios fizeram, para proteger os hereges da Holanda, que eram os seus inimigos. E rematando com uma ironia sublime, diz a Deus que há-de ser bem pago daquelas complacências, que da sua tão favorecida Holanda receberá a condigna recompensa das suas predilecções, porque a Holanda lhe mostrará como lhe há-de dar adorações e culto. Não se conhece rapto algum de eloquência que exceda em força e em energia a este admirável trecho. Devia produzir uma comoção eléctrica nos ouvintes e pôr-lhes em vibrações a fibra patriótica. O que se vê, porém, desse sermão, pregado em princípios de 1610, é que já nesse tempo o padre António Vieira era um orador de primeira ordem, que excedia a todos os do seu tempo em todo o mundo, porque não começara ainda a tornar-se notável o pregador francês Bossuet, o único que se lhe pode pôr a par.
Pouco tempo depois chegou à Baía a notícia da restauração de Portugal e da aclamação de D. João IV. Acompanhou o marquês de Montalvão o movimento nacional, e querendo participar isso para Lisboa, mandou seu filho D. Fernando de Mascarenhas cumprimentar o novo monarca e oferecer-lhe a sua homenagem. Não o deixou, porém, vir só; deu-lhe por companheiros de viagem e mentores o padre António Vieira e o padre Simão de Vasconcelos, cronista da Companhia de Jesus. Os três saíram da Baía a 27 de fevereiro de 1641 e sofreram tão violenta tempestade durante a viagem, que não puderam ir aportar a Lisboa, como queriam, mas sim a Peniche, que era então governada pelo moço conde de Atouguia. Chegaram em fins de abril e tiveram uma recepção hostil. Ao saber-se em terra que vinha a bordo o filho do marquês de Montalvão, o povo amotinou-se. É que a marquesa de Montalvão e os filhos que com ela viviam no continente europeu, tinham seguido o partido de Castela, e portanto eram considerados traidores à pátria tanto este filho que chegava do Brasil, como os dois padres jesuítas que o acompanhavam. O conde de Atouguia quis protege-los contra a fúria do povo, mas não conseguiu evitar que o padre António Vieira fosse agredido e que o filho do marquês recebesse um ferimento na cabeça. Foi metendo este último na cadeia, que o conde de Atouguia conseguiu salvar-lhe a vida, ao passo que o padre António Vieira descobria traças de seguir para Lisboa na dia 30, e nesse mesmo dia falar ao rei, que o recebeu com a maior afabilidade.
Foi no dia 1 de janeiro de 1642 que o padre António Vieira pregou pela primeira vez em Lisboa na capela real.
«Se houvermos de dar crédito, diz o seu biógrafo João Francisco Lisboa, ao testemunho unânime de amigos e inimigos, foi verdadeiramente prodigioso o efeito produzido. O orador sabia perfeitamente moldar-se ao gosto e necessidade do tempo, assim na escolha e preferência dos assuntos, como nos ornatos dó estilo e meneios oratórios, se bem a incontestável superioridade do seu talento corrigisse ou atenuasse em grande parte os vícios mais comuns entre os seus contemporâneos. Ou agitasse as grandes questões políticas como a restauração da independência nacional, a paz, a guerra, os meios de sustenta-la, ou tratasse dos assuntos simplesmente religiosos e morais mais próprios do seu ministério, o estilo, ora grave, solene levantado, ora brando e familiar, segundo a ocasião, a eficácia e nobreza da declamação e do porte, certa novidade no modo de opor e argumentar, que trazia o cunho particular do seu engenho, a facilidade, pureza, copia e energia de linguagem, tudo lhe atraiu e avassalou a multidão, para conter a qual eram ordinariamente insuficientes os templos mais vastos . Acolhido pelo rei como amigo dilecto, exerceu logo a máxima influencia na política do seu tempo. Eram os seus sermões muitas vezes verdadeiros discursos políticos com que procurava fazer triunfar na opinião publica as medidas que se pretendiam adoptar, tal é, por exemplo, o seu notável sermão de Santo António, pregado quando estavam reunidas as cortes em Lisboa, para conseguir que todos, nobreza, clero e povo, contribuíssem com o pagamento dos impostos para se acudir ao perigo geral.
De facto, a ascendência do padre António Vieira sobre o ânimo de D. João IV era a mais completa que possa imaginar-se; ele tinha entrada. franca no paço, assistia às conferências do rei com os ministros, vivia nas secretarias do Estados, e os tribunais e juntas eram obrigados a ir conferenciar com ele, cujo parecer era apresentado por escrito ao rei. Parece que esta sua ingerência nos negócios públicos, ingerência em que os seus sentimentos patrióticos tomaram muitas vezes o passo às suas ideias de jesuíta, lhe causou desgostos no seio da Companhia de Jesus, que parece ter pensado em o expulsar, ao que obstou D. João IV. Também parece que, por essa ocasião, o rei o quis fazer bispo, para o libertar da tutela da companhia e que ele rejeitou a mitra. Mas deixar a política, não o fazia ele, porque tinha uma vocação. incontestável. São admiráveis os seus pareceres a respeito de diversos assuntos, inclusivamente a respeito de assuntos de guerra, sendo a carta em que ele aconselha a guerra defensiva uma das mais sensatas da sua vasta colecção epistolar. A ele se deveu a organização duma companhia de comercio, no género das que tinham feito a gloria e a riqueza da Holanda, e apesar da companhia de comercio portuguesa não chegar a ter nunca o mesmo desenvolvimento, contudo prestou na restauração das nossas colonial relevantes serviços. Nesta sua campanha a favor da companhia do comércio sustentou Vieira algumas ideias notavelmente arrojadas para o seu tempo, e que não contribuíram pouco para a inimizade que a Inquisição lhe votou.
Pregou a doutrina da tolerância com os judeus para que Portugal pudesse reaver a riqueza que se estava acumulando na Holanda, dizia que a troco da, sua participação na companhia do comercio se devia ter com eles a máxima tolerância, e não o disse só, e não o escreveu simplesmente nos seus livros, mas pregou o até nos seus sermões. Em Roma fizeram a tudo isso a maior oposição, ' conseguiram que se revogasse um alvará pelo. qual se concedia que os bens dos que fizessem„ parte da companhia do comércio ficassem isentos de confisco, ressalvando assim os bens dos cristãos novos. Entretanto, cada vez mais confiado na vasta inteligência do padre António Vieira, D. João IV, depois de o nomear pregador da sua câmara e mestre de seu filho o príncipe herdeiro D. Teodósio, deliberou tombem empregá-lo na diplomacia, e mandou-o como seu enviado particular, sem carácter algum oficial, a França e à Holanda, em março de 1646, e nessa primeira viagem, tratou apenas de se informar do que se pensava a nosso respeito no seio dos gabinetes francês e holandês, exercendo uma certa fiscalização sobre os actos dos ministros, coisa que em resultado deu bastantes queixas e protestos. Na segunda viagem, que foi em 1647, tratou já de assuntos importantes em Paris com o cardeal Mazarino, em Haia com os Estados. Em Paris teve grandes contendas com o cardeal Mazarino para impedir a realização de um projecto em que fazia o máximo empenho Mazarino, que era o de casar o príncipe D. Teodósio com mademoiselle de Lougueville, vindo para Portugal o príncipe de Condé, que ficaria regente do reino até o príncipe D. Teodósio, chegar à maioridade, retirando-se D. João IV para o Brasil. Esse projecto concorreu muito o padre António Vieira para que se dissipasse. Em Amsterdão não prestou o padre António Vieira ao seu país idênticos serviços, porque foi, e é essa a grande mácula da vida política deste sábio e perspicacíssimo varão, um dos que supuseram que Portugal não podia resistir às forças da Espanha na Europa, e às da Holanda na América, foi um dos que imaginaram que era preferível ceder à Holanda de vez o que na América se lhe contestava, e se lhe contestava vitoriosamente, abandonando ao seu destino aqueles heróicos rebeldes de Pernambuco, que sem auxilio da pátria, antes renegados por ela, teimavam em querer ser portugueses. Francisco de Sousa Coutinho, ministro português na Haia, chegou e de certo de acordo com o padre António Vieira a assinar em nome do rei de Portugal a cedência da capitania de Pernambuco aos holandeses. Foi, alegava ele depois, o único modo que teve de impedir a saída duma esquadra holandesa, que ia decerto esmagar, debaixo de forças imensamente superiores, a insurreição pernambucana. É certo, porém, que o padre António Vieira, não só nessa ocasião, mas depois em Portugal e em frequentíssimas ocasiões, defendeu a todo o transe a ideia da paz com a Holanda, a troco da cedência de Pernambuco, escrevendo até um parecer, que teve o título de Papel forte, que lhe deu D. João IV. por achar fortíssima a sua argumentação.
Prevaleceu, contudo, a opinião contrária à do rei e à do seu inteligentíssimo conselheiro, ou antes vieram as dilações e demoras da discussão impedir que se fizesse coisa alguma, e entretanto iam correndo em Pernambuco os sucessos tão prósperos, para nós, que, contra a vontade do rei, novamente passou à coroa portuguesa a opulenta província de Pernambuco. O padre António Vieira nunca pôde resignar-se a confessar abertamente o seu erro e a sua culpa, dizendo apenas algumas vezes que ele se guiara pelos lumes falíveis da razão, em vez de confiar nos milagres da Providencia. Numa carta, porém, que escreveu ao conde da Ericeira, para rectificar alguns pontos que lhe pareceram menos, exactos do Portugal restaurado, procurou tornar Francisco de Sousa Coutinho exclusivamente responsável pela política de transigência com os Países Baixos. Era uma pequena traição. O Papel forte bastava para depois demonstrar que o padre António Vieira sempre tivera pouquíssima confiança no resultado da luta com os holandeses, e que opinava abertamente pela política da conciliação e da transigência, à custa dos mais caros interesses de Portugal na América. Em 1650 partiu ele em nova missão diplomática, missão de alta importância, posto que não fosse decerto das mais patrióticas. Tratava-se de se pôr termo à guerra entre Portugal e a Espanha, por meio do casamento do príncipe D. Teodósio com uma filha de Filipe IV.
Era a reconstituição da união ibérica que se planeava assim, fazendo-se de Lisboa a capital de toda essa vasta monarquia, e ficando assim esse trono na Casa de Bragança. Vieira devia ir a Roma tratar esse negócio, todo de interesse da dinastia mas contrário ao interesse nacional, com o embaixador de Espanha junto da Santa Sé, duque do Infantado, mas ao mesmo tempo era incumbido também duma missão contraditória, porque o encarregavam de fomentar a revolução de Nápoles, que rebentara por esse tempo, o que podia ser uma feliz ocorrência para o governo de Portugal. Resultou desta dupla missão o não poder conseguir coisa alguma. Os revolucionários de Nápoles queixaram-se de que o agente português nada fizera por eles, e o duque do Infantado, sabedor do que se tramava, fez saber ao geral dos jesuítas que, se não fizesse sair imediatamente de Roma o padre António Vieira, teria de dar ordem para que o jesuíta português fosse assassinado. Vieira saiu, portanto, muito à pressa de Roma, malogrando-se, felizmente para Portugal, a sua nefasta missão. Regressando a Portugal, encontrou em Lisboa discórdia entre a família real. O príncipe D. Teodósio, discípulo amado dos jesuítas, e muito especialmente do padre António Vieira, apareceu de súbito secretamente no exército do Alentejo, coisa em que o rei seu pai se mostrou muito melindrado, fazendo-o recolher a Lisboa, pouco depois da sua partida. Uma carta que o padre António Vieira escrevera ao príncipe, dando-lhe conselhos, serviu de base à acusação que lhe fizeram de ter sido ele que aconselhara ao príncipe essa expedição que tanto desagradara ao rei. Foi de certo essa acusação que modificou bastante as disposições do rei para com o seu favorito, porque o era incontestavelmente e muito o padre António Vieira. D. João IV protegeu-o por largo tempo contra os seus inimigos, que não eram poucos, entrando principalmente nesse número os seus superiores e confrades. Admira que uma companhia tão desejosa de preponderância, se mostrasse hostil a um dos seus que alcançara do príncipe a mais absoluta privança, que dominava o animo de toda a família, que possuía altíssimos talentos e enorme influencia política Mas é que o padre António Vieira mostrava uma certa independência, que era completamente contrária ao dogma fundamental da companhia, que era o da obediência cega às ordens superiores. O padre António Vieira trabalhava por sua conta, e pensava mesmo em introduzir reformas na companhia, coisa que os mais antigos da ordem lhe levavam muito a mal. Daí resultou que os seus superiores desde 1614 lhe ordenassem positivamente que partisse para as missões do Maranhão. Vieira conseguiu por muito tempo iludir essas ordens sucessivas, protestando ao princípio as suas missões políticas a Madrid e a Sabóia, valendo-se depois de todos os recursos possíveis, e ia ficando. Um dia simulou que obedecia às ordens superiores e embarcou, mas conseguiu que daí a pouco o rei o mandasse desembarcar e voltar ao paço. Entretanto, a paciência da companhia ia se apurando, e o favor do rei para com ele desaparecia, pelos motivos já citados, e a 22 de novembro de 1652 recebeu ordens terminantes de embarcar para o Maranhão, e efectivamente embarcou, porque já lhe era impossível iludir por mais tempo essas ordens. Contava, porém, que a bordo encontraria ou receberia ordem do rei para não seguir viagem e tal não aconteceu.
A sua influência no ânimo do rei estava morta. Teve de partir, pois, e numa carta que de Cabo Verde escreveu ao príncipe D. Teodósio, dizia-lhe que estava aflitíssimo com a sua imprevista partida. Foi esse o justo castigo da sua duplicidade, porque, fingindo sempre que todo o seu desejo era servir a causa da religião católica, e que só muito constrangido obedecia às ordens reiteradas do rei que não podia passar sem ele, afinal foi vitima da sua própria astúcia, e teve de partir profundamente ferido no seu amor próprio, ao ver que D. João IV se desprendera com facilidade dos laços em que julgara tê-lo perpetuamente preso. Foi bastante trabalhosa a viagem. O navio teve de arribar a Cabo Verde, onde sé demorou algum tempo, desembarcando Vieira para pregar, causando tanto sucesso que a população manifestou desejos de que ele ficasse na ilha, tendo Vieira de embarcar quase secretamente para seguir a viagem. No princípio de 1653 chegou ao Maranhão, onde foi recebido com muito jubilo, mas onde teve logo que lutar, como superior do colégio dos jesuítas, com a má vontade do capitão general e também com a má vontade do povo. Defendiam os jesuítas nessa ocasião uma causa justíssima naquela capitania brasileira, a causa da liberdade dos índios. Queriam os portugueses residentes no Maranhão conservá-los escravizados, queria o governo emancipá-los, queria emancipá-los também a companhia e, quando no Maranhão se publicou uma lei mandando restituir à liberdade os índios cativos, houve ali uma verdadeira sublevação, chegando a estar em perigo o colégio da companhia. Valeu então de muito aos seus confrades e aos povos daquela terra a voz prestigiosa e eloquente do padre António Vieira, que muitas vezes, pregando na catedral, amansou e acalmou as inquietações e turbulências populares. Contudo, viu ele bem, porque foi necessário transigir com os que possuíssem índios escravos, que aquele estado de coisas era insustentável e que se tornara indispensável alcançar do governo da metrópole as medidas indispensáveis para garantir a liberdade dos índios.
Encarregou-se o padre António Vieira de ir solicitar em Lisboa essas resoluções e partiu para Portugal, quase às escondidas, em junho de 1659, depois de ter pregado ainda quase na véspera aquele famoso sermão de Santo António pregando aos peixes, que é uma das obras primas da sua eloquência. Seguiu para a Europa, e depois de ter padecido, como sempre lhe acontecia nas suas viagens marítimas, grandes tempestades, aconteceu-lhe também cair nas mãos dum pirata holandês, que, depois de roubar a embarcação, pôs os roubados em terra nas ilhas dos Açores. Algum tempo se demorou Vieira naquele arquipélago, onde foi muito festejado, e na ilha de S. Miguel pregou, perante um auditório entusiasmado o seu admirável sermão de Santa Teresa. Chegou a Portugal no mês de novembro de 1659, e encontrou o rei D. João IV perigosamente enfermo. Logo, porém, que melhorou, o monarca o mandou chamar a Salvaterra, onde estava. O padre António Vieira expôs-lhe então o assunto a que vinha, conquistou a sua adesão, conseguindo que se organizasse uma junta especial de missões, que se tomassem as medidas que ele desejava em relação aos índios e partiu enfim, de novo para o Maranhão a 16 de abril de 1655. Durou seis a sete anos a sua permanência desta vez no Maranhão, e ali fez maravilhas a sua infatigável actividade. Estabeleceu missões para o sul, até na serra Ibiapaba entre os Tobajaras, para o norte entre os Nhecujaibas, visitou as com frequência, correndo perigos e suportando as maiores fadigas. Teve, sobretudo, que sofrer a constante oposição dos portugueses, que afinal sublevando-se, investiram conta os colégios dos padres jesuítas no Maranhão, na Baía e no Pará, sendo nesta ultima cidade preso o próprio padre António Vieira, que foi com os seus companheiros remetido para a Europa, onde chegou nos fins de 1661. Parece, todavia, que nem só do espiritual cuidavam os padres, mas que também entravam muito pelo temporal, invadindo os poderes civis, razão porque lhes aconteceu aquele desagradável facto. Os jesuítas procuravam estabelecer no Maranhão o regime que lograram instituir no Paraguai, pugnava por isso o padre António Vieira, e se bem que os portugueses que se lhe opunham, não tinham em mira senão defender os seus próprios interesses, é certo que nem dum nem doutro lado se defendia com pureza uma causa legitima e sagrada. Ao chegar de novo a Lisboa, o padre António Vieira encontrou a corte totalmente transformada. O rei havia falecido quatro anos antes e o príncipe herdeiro D. Afonso entregava-se já à devassidão que havia de formá-lo tão tristemente celebre como rei e como marido. A rainha regente D. Luísa de Gusmão acolheu o com entusiasmo, como o teria acolhido o falecido monarca. Mas, vendo então que o sonhado império do Maranhão não podia facilmente constituir-se, desistiu de se ocupar de missões e lançou se de corpo e alma na política do seu país, então bastante agitada.
Por esse tempo terminava a menoridade de D. Afonso VI, e terminava expulsando a rainha da corte os Contis, indignos validos de seu filho. O padre António Vieira foi em todo este assunto o braço direito da rainha regente, e tanto confiava no seu valimento ou tão pouco se temia do moço rei, que não hesitou, por indicação da rainha mãe, em ler-lhe uma severa alocução no acto em que ele tomava posse do governo. O padre António Vieira, porém, não contava com o ministro de D. Afonso VI, o conde de Castelo Melhor, que em breve se assenhoreou do poder e não consentiu que se tomassem com o soberano que representava as liberdades que o padre António Vieira entendera dever tomar. A primeira coisa, que fez, foi desterrá-lo para o Porto, em 1662; e depois para Coimbra, em 1663, quando o padre lá imaginava que seria desterrado para o Brasil ou para Angola. Este procedimento do ministro lançou Vieira completamente na oposição, sendo ele um dos que mais trabalharam para que triunfasse a conspiração urdida pelo infante D. Pedro contra o rei seu irmão. Enquanto, porém. não chegava esse triunfo, o padre António Vieira viu-se desamparado do valimento do governo, e esse desamparo em que se encontrou, deu largas aos seus inimigos que o não pouparam. Denunciado à inquisição de Coimbra em 1664, foi preso em 1665; e o santo tribunal lhe intentou um processo, que terminaria desastrosamente para ele, se não fosse a sua imensa popularidade. O padre António Vieira havia muito que incorrera nos ódios da Inquisição; as suas opiniões bem conhecidas a respeito dos cristãos novos, o seu trato com os hereges da Holanda não o tinham posto em cheiro de santidade perante o Santo Ofício Umas tendências extravagantes da sua potente imaginação e do seu subtilíssimo espírito, que se comprazia em adivinhações, necromancias, explicações proféticas das escrituras, agravaram ainda a sua situação. Os livros que serviram de base ao processo, foram o Quinto Império e a Clavis Prophetarum, e o padre António Vieira, longe de confessar o erro e de pedir que lho desculpassem, quis à viva força defender o seu livro, as suas explicações e o seu sebastianismo, porque António Vieira era sebastianista também, e foi um dos grandes propagandistas das trovas do Bandarra. Durou largo tempo o processo, porque a inquisição não se dava por satisfeita e impunha que reconhecesse os seus erros, a que o padre jesuíta se recusou, e talvez se não salvasse da fogueira, se a Companhia o abandonasse à sua sorte, e o papa Alexandre VII não interviesse a recomendar-lhe que se retractasse. A sentença do terrível tribunal foi proferida a 23 de dezembro de 1667. Condenando Vieira a perder a voz activa e passiva, proibindo-lhe a predica, e ordenando lhe que se recolhesse a um colégio de noviços, ele, consumado teólogo; um homem de espírito impressionável poderia ter caído fulminado ao ouvir ler a infamante sentença; ele, não; ouviu-a de pé e imóvel durante duas horas com o olhar fito num crucifixo do tribunal, e isto depois de vinte esete meses de cárcere incomunicável. Triunfou, por fim, a revolução palaciana que tirou a D. Afonso VI a coroa e a mulher, mas Vieira não encontrou no príncipe D. Pedro o favor e o valimento que esperava.
A pena a que havia sido condenado foi lhe primeiramente comutada pela inquisição em seis meses de reclusão e depois completamente perdoada, em 1668, mas não ficou satisfeito, e vendo que continuaria a pesar sobre ele a influência da inquisição, entendeu que devia sair de Lisboa. A pretexto de que ia tratar da canonização de quarenta santos da companhia, partiu para Roma, mas o seu fim único era conseguir que o papa anulasse a sentença. Em Roma foi recebido pelos jesuítas com as máximas honras e as maiores distinções. Pregou alguns dos seus mais admiráveis sermões na igreja portuguesa, e como muitas personagens dos mais notáveis em Roma lamentavam que tão notável orador pregasse numa língua que nem todos entendiam, António Vieira, depois de se habilitar convenientemente, pregou em italiano. Era uma empresa difícil, por pregar em língua estranha, sobretudo quando um dos principais méritos do orador era a vernaculidade incomparável da sua linguagem. Pois foi extraordinário o seu triunfo, e uma das pessoas que mais se deixaram cativar pelo talento assombroso do jesuíta português, foi a rainha abdicatária da Suécia, Cristina, que residia em Roma, depois de se ter convertido à fé católica, e que instou muito com o padre António Vieira, para que ele aceitasse o lugar de seu confessor. Vieira escusou-se, muito lisonjeado com o convite, mas do que não podia consolar-se, era de não continuar a figurar na política do seu país, e tanto mais que o papa Clemente X o havia isentado da jurisdição do Santo Ofício Por muitas vezes solicitou dos seus amigos de Lisboa, que alcançassem do regente D. Pedro que o incumbisse de alguma missão diplomática, mas tudo foi inútil. D. Pedro, sem que se saiba porquê, nunca se mostrou afeiçoado ao padre António Vieira, apesar do ter trabalhado dedicadamente em seu favor, e o padre vingava-se daquela ingratidão, increpando-o indirectamente num sermão de Santo António. Depois voltou-se para a rainha de Inglaterra, D. Catarina, que sempre lhe fora muito afeiçoada, mas D. Catarina estava indignadíssima por causa da revolução do palácio que destronara D. Afonso VI, seu irmão, e portanto não podia simpatizar com o papel que o padre António Vieira desempenhara em toda aquela intriga.
Em 1674 regressou a Portugal, depois de ter recebido em Roma as mais lisonjeiras manifestações de apreço e de entusiasmo. No seu regresso foi incumbido de tratar em Florença o casamento do herdeiro do grão-ducado de Toscana com a princesa herdeira de Portugal, negócio em que não foi feliz. Passou ainda cinco anos em Portugal, conservando e ampliando cada vez mais a sua reputação de orador sagrado, mas sem tornar a representar na política o papel brilhante que tanto ambicionava Resolveu se então a partir para a Baía, mas demorou-se ainda dois anos em Lisboa, depois de ter tomado esta resolução, por lhe custar muito a arrancar-se da pátria, e também a perder a esperança de voltar a figurar na política. Embarcou, finalmente, para a Baía, despeitado e desiludido, a 27 de janeiro de 1681, e recolheu-se à quinta do Tanque, na convivência do seu inseparável companheiro o padre José Soares, que o incitava à compilação completa de todos os seus sermões e escritos morais.
Contava já seenta três anos de idade, e parecia que devia estar cansado da vida agitadíssima que levara, mas é certo que, apesar dos achaques de que frequentemente se queixava, parecia conservar-se em pleno vigor e em pleno viço da mocidade correspondendo-se com um grande numero de altas personagens da corte portuguesa, e intervindo em todos os manejos políticos da terra em que vivia. Era velho costume, que dificilmente conseguiriam desarreigar-lhe do espírito. Demais era seu irmão Bernardo Vieira Ravasco secretário do governo da Baía, e isso naturalmente o incitava a ocupar-se da política. Fazia mal, contudo, sabendo que não podia contar com o regente D. Pedro como contara com D. João IV, tanto mais que o governador da Baía, que chegara pouco tempo antes de Vieira, era António de Sousa de Meneses, conhecido pela alcunha de Braço de prata, homem brutal e violento, que não hesitava doente da glória do eminente orador. Deu-se na Baía um triste caso, que foi o assassínio dum funcionário português por um seu inimigo António de Brito, que era muito parcial de Bernardo Vieira Ravasco, e muito protegido pelo P. António Vieira. Resultou deste incidente irritar-se o governador muito seriamente, e acusar abertamente Bernardo Vieira Ravasco de incitador do crime, e o P. António Vieira de seu cúmplice. O padre teve com o governador uma entrevista violenta. Sucedia que na Baía todos estavam a favor do secretário e do jesuíta seu irmão, mas em Lisboa não sucedia o mesmo, onde Bernardo Vieira Ravasco foi inclusivamente pronunciado. Partiu para Lisboa o filho do secretário Gonçalo Vieira Ravasco, afim de solicitar justiça do rei, ou antes do regente. Logo o recebeu D. Pedro, e disse-lhe em formais palavras e sem rodeios, que estava muito pouco satisfeito com seu tio, porque este lhe descompusera o seu governador. O padre António Vieira, quando soube o que o rei dissera, teve uma síncope, e depois ficou doente. Andava tão habituado ao favor da corte, e em tão elevado apreço tinha o valimento dos reis que não se podia conformar com a ideia de ter perdido as boas graças do soberano. Escreveu queixoso a todos os seus amigos da corte, lamentando ser tão mal tratado por um soberano, a quem prestara tantos serviços, antes dele subir ao trono, e que tanto auxiliara nesse empenho. Mostrou-se mesmo amargamente ressentido, mas era tão insensivelmente cortesão, que chegando à Baía a notícia da morte da rainha que fora mulher dos dois irmãos, e tendo sido convidado para pregar o sermão das exéquias, anuiu imediatamente. O processo em que o padre António Vieira fora envolvido com seu irmão, protelou-se até 1687, concluindo-se pela falta de base para pronuncia da qualquer deles e no ano seguinte a Companhia de Jesus o nomeou visitador da província do Brasil, cargo em que tinha de despender uma energia superior às suas forças, muito enfraquecidas pela velhice. Teve então de abandonar a sua quinta do Tanque, e recolher-se ao colégio da ordem da cidade. Ainda assim exerceu dois anos, segundo o costume, esse cargo, até que já quase no túmulo; sofreu uma última indignidade. Reunindo-se a congregação para se eleger um dos padres que devia ir como procurador a Roma, foi acusado o padre Vieira de ter andado solicitando votos. Deram-lhe como provado o crime e o superior do colégio não hesitou em repreender o grande homem, o venerando velho na presença de todos. Apelou para Roma de tal decisão o padre António Vieira, Roma deu-lhe razão, mas quando chegou a resolução final, que dava planíssima satisfação ao grande homem ultrajado, já ele não existia. O padre António Vieira morreu com perto de noveta anos. Tanto na Baía como em Lisboa fizeram lhe pomposas exéquias.
Os sermões de Vieira publicaram-se ainda em sua vida, muitos deles soltos, até que principiou a formar se a colecção em 1679 em que saiu o 1.º volume. O 2.º publicou-se em 1682, o 3.º em 1683, o 4.º em 1685, o 5.º em 1689, o 6.º em 1690, o 7.º em 1692; o 8.º que compreende o Xavier Dormindo e o Xavier acordado, em 1694; o 9.º, que assim depois foi classificado, mas que se publicara à parte como a 1.ª parte da colecção de sermões do Rosário, imprimiu-se em 1686, e o 10.º que era a segunda parte da mesma colecção, em 1688, o 11.º em 1696. Depois seguiram póstumos em 1699 o 12.º; o 13.º saiu em 1690, mas com o título de Palavra de Deus empenhada e desempenhada em dois sermões; o 14.º em 1710, o 15.º em 1748, mas saiu ao mesmo tempo como 2.º volume das Vozes saudosas da eloquência do padre António Vieira, cujo 1.º tomo saíra em 1736. Ainda em 1754 apareceu um volume com doze sermões de Vieira, pregados todos em louvor de Santo António, e que se dá como tomo 16º da colecção. Estes sermões foram muitas vezes reimpressos, mas sem se lhes dar o carácter de edição nova, reimprimindo-se, sem se alterar a data dos volumes, que iam escasseando já muito no mercado. Em 1852 saíram seis tomos de Sermões selectos do padre António Vieira, e mais tarde, fez-se também outra edição de sermões escolhidos do padre António Vieira com o título de O Crisóstomo português. A Historia do futuro foi publicada em 1718 e reimpressa em 1755. Francisco Luís Ameno publicou em 1718 um volume com o título Voz sagrada, política, retórica e métrica, suplemento às Vozes saudosas, que compreende muitas obras miúdas Em 1745 publicou-se uma Retórica sagrada ou Arte de pregar, que se atribui ao padre Vieira, mas que parece não ter autenticidade. Em 1746 uma Carta apologética escrita em castelhano pelo padre António Vieira deu-lhe o editor o título de Eco das vozes saudosas. Das Cartas publicaram-se pela primeira vez em 1735 dois volumes, saindo outro em 1746. Publicaram-se em 1827 algumas cartas de António Vieira a Duarte Ribeiro de Macedo, trazendo no fim o célebre papel que Vieira compôs por ordem da rainha D Luísa de Gusmão, para ser lido a D. Afonso VI
No Correio Braziliense e na Revista trimensal do Instituto saíram vários inéditos de Vieira, tais como: Memória escrita em nome dos rústicos habitadores da serra da Estrela a el-rei D. Pedro II, quando se tratou de estabelecer um novo tributo, uma Carta a el-rei acerca das missões do Brasil, a Anua da missão dos Mares Verdes. Em 1652 saiu a Arte de furtar, que por muito tempo se lhe atribuiu, mas que evidentemente parece não ser dele; julga-se ser obra de Tomé Pinheiro da Veiga, falecido em 1656; há uma edição em 1744 Também lhe é atribuído o livro: Noticias recônditas acerca do modo de proceder a Inquisição de Portugal com os seus presos. Em 1851 publicaram-se em Lisboa as obras completas do padre António Vieira, em que foi incluída a Arte de furtar. Um discurso feito por Vieira em italiano em Roma sobre as lágrimas de Heraclito saiu impresso em Nápoles. Foi traduzido em espanhol, e impresso nesta língua em Valência e em Barcelona, e traduzido em português pelo conde da Ericeira, e anda incluído nos volumes dos Sermões. Algumas coisas ficaram manuscritas, sendo a principal a Clavis prophetarum, mas muitos dos papeis políticos, versos medíocres em português e espanhol, comentários do Bandarra, defesa das suas obras incriminadas pela inquisição, tem saído depois ou em diversos jornais, ou nalgumas colecções publicadas depois de sair o 1.º volume da Biblioteca Lusitana, de Barbosa Machado. Muitas das obras do padre António Vieira foram traduzidas: cinco volumes dos sermões apareceram em Colónia, vertidos em latim pelos monges dessa cidade em 1707. O Xavier dormindo e Xavier acordado foi traduzido em latim pelo padre Leopoldo Fuen e impresso em 1701, e em italiano pelo padre Bonucci, saindo impresso em Veneza em 1712. Vieira deu o título das Cinco Pedras de David a uma série dos sermões que ele proferira em Roma em italiano. Saíram impressos em 1676. António Vieira traduziu os depois em espanhol e nesse mesmo ano se imprimiram, reimprimindo-se na mesma língua em 1678. Depois foram traduzidos em português pelo conde da Ericeira, e incluídos num dos volumes dos sermões do padre. O sermão panegírico da rainha D. Maria Francisca, pregado por ele e impresso avulso em Lisboa, em 1668, foi traduzido em francês pelo padre Verjus e impresso em Paris, traduzido em italiano, impresso em Roma, e publicado em Saragoça, parece que em espanhol. O sermão que Vieira pregou em Roma em louvor de Santo Stanislau Kotki foi traduzido em latim pelo padre Rosch e saiu em Cracóvia, e traduzido em italiano e impresso em Roma; o sermão das Chagas de S. Francisco foi traduzido em italiano e espanhol. Os sermões de Quaresma traduziu-os em italiano o padre Luís Vicente Mamiani e publicaram-se em volume; na mesma língua foram traduzidos e coordenados em volume pelo P. Annibal Adami vários sermões panegíricos do orador português. Em espanhol foram traduzidos todos os sermões do padre António Vieira, e tiveram muitas edições. A Historia do Futuro também se traduziu várias vezes em espanhol. Publicou-se há talvez perto de quarenta anos, uma tradução francesa de alguns sermões mais notáveis de Vieira. Julga-se que foi essa tradução, que serviu de base a uma conferência que acerca de Vieira fez em Paris, Mr. Méziéres da Academia Francesa. O padreAndré de Barros escreveu um notável estudo sobre o grande orador, que publicou em Lisboa, 1746, muito mais tarde reimpresso na Baía em 1837. Há o Discurso histórico e critico sobre as obras de Vieira, escrito pelo cardeal Saraiva (D. Francisco Alexandre Lobo), impresso em Coimbra em 1823; a sua biografia escrita em apurada crítica pelo brasileiro João Francisco Lisboa.