Martinho, Virgílio. Relógio de cuco. Lisboa: Estampa, 1973
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85 pp.; 19 cm.
Virgílio Martinho, [Lisboa, 1928 - Almada, 1994]
Romancista, dramaturgo, tradutor.
Devido à profissão de seu pai, ferroviário, passa a infância em Setúbal e depois no Barreiro. De novo em Lisboa, tira um curso industrial, que lhe permitirá mais tarde ganhar a vida como desenhador técnico. Desde muito cedo opositor à ditadura, foi membro activo do MUD Juvenil, o que o levou à prisão.
Afirmou-se nos finais dos anos cinquenta como um dos membros dos grupos do nosso tardio Surrealismo, que faziam ponto de encontro nos cafés Gelo e Royal em Lisboa. Nas suas próprias palavras, «vive um surrealismo em português com Mário Cesariny, Luiz Pacheco, Manuel de Lima, Herberto Helder, António José Forte, Ernesto Sampaio, João Rodrigues, Helder Macedo, José Carlos Gonzalez, etc.»
Fez a sua estreia literária em 1958 com o texto Festa Pública, integrado na colecção «Antologia em 1958», iniciativa de Mário Cesariny. Participou nos cadernos Folhas de Poesia, dirigidos pelo poeta António Salvado. A sua inicial produção literária procurou, portanto, obedecer ao automatismo psíquico, enunciado por André Breton no seu Manifesto de 1924. Todavia, esta mesma produção é escassa e o seu papel no seio do surrealismo português muito tímido.
Da ficção romanesca transitou para o teatro, escrevendo ou adaptando para o palco ora obras suas anteriores, ora textos históricos a que empresta uma actualidade política intervencionista. Trabalhando com o Grupo de Teatro de Campolide (depois Companhia de Teatro de Almada) e o seu encenador, Joaquim Benite, desde 1972 como autor e assessor literário, conhece aí alguns êxitos, entre os quais a crítica de Carlos Porto assinalou a sátira Filopópolus, como «uma tragédia grega, virada ao contrário».
As suas peças mantêm uma certa originalidade, quiçá devido à sua experiência surrealista que, misturada ao empenhamento político, produz simbioses poéticas de grande sugestão.
Traduziu Ésquilo, Oriana Fallaci, Alain Gheerbrant, Kawabata, Lenine, Pasolini, Tournier, Bruno Zevi, a compilação de Daniel Guerin, Trotsky e a Segunda Guerra Mundial, etc.
Por ocasião da sua morte, Rui Ferreira e Sousa escreveu no jornal Público: «Surrealista, neo-realista, modernista, anarquista, boémio e tudo. Virgílio Martinho é um homem a quem não é possível colocar um carimbo. Romancista, dramaturgo, tradutor, sim, mas sobretudo um autor de uma generosidade sem limites, num percurso que vai da infância bravia às portas de Setúbal, na Rua dos Quatro Caminhos – aquela rua formada por uma fileira de casas de tijolo e telha que sempre lhe pareceu "uma espinha de peixe" – até aos últimos dias absorvido e apaixonado pelo projecto artístico da Companhia de Teatro de Almada.»
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998