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Maria Teresa Horta, Os anjos, Litexa, Lisboa, 1983

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Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa e fez a sua estreia no campo da poesia em 1960, com um livro de poemas cujo título é premonitório: Espelho Inicial. Jornalista de profissão, o seu nome começa por ser associado ao grupo da «Poesia 61». Mas, a partir de 1971, devido ao escândalo que envolveu a publicação das Novas Cartas Portuguesas, de que foi co-autora, e ao processo judicial que se lhe seguiu, passa a ser vista como um expoente do feminismo em Portugal.

A sua luta pelos direitos das mulheres e inseparável de uma carreira literária multas vezes afectada, positiva ou negativamente pelo seu posicionamento ético. No entanto, e apesar da intransigência das suas convicções, a escritora não se reconhece na Imagem estereotipada da «feminista militante»: «Eu sou precisamente o contrário do que as pessoas imaginam das mulheres feministas» (Pública, 208, 21.5.00).

Se a imagem da escritora é naturalmente associada a coerência e firmeza das suas posições em prol dos direitos da mulher, é tempo de (re)lermos os seus livros um a um, e seguirmos o trajecto luminoso de uma escrita poética nascida de uma exigência radical de liberdade. O erotismo que a percorre começa por ser a denúncia da repressão sexual que pesa violentamente sobre a mulher nos anos sessenta, num momento em que e posta a nu (Reich, Marcuse) a articulação entre esta e o poder politico. Mas, logo se torna perceptível que esse erotismo extremado é multo mais do que a expressão de um inconformismo lúcido ou de um exercido subversivo da liberdade. A escrita erótica de Maria Teresa Horta é sentida como uma forma intolerável de apropriação de um discurso do prazer, ou da fruição, que era pertença exclusiva do território masculino, não só dentro de uma ordem social e política discriminatória mas também, e sobretudo no Interior de uma ordem simbólica, onde a própria linguagem é um instrumento de opressão. Como foi Insistentemente sublinhado por Roland Barthes, a língua encarrega-se de marcar a diferença sexual e social, mantendo, por um lado, separados os géneros feminino e masculino, e confundindo, pelo outro, «a servidão e o poder» (Lição, 1979). A subordinação da mulher ao homem e função de um discurso que intenta salvaguardar os princípios da hegemonia cultural masculina, sendo o corpo feminino uma construção que se vai adaptando aos imperativos de uma ordem falocêntrica dominante.

A poesia de Maria Teresa Horta afasta-se contudo dos imperativos definidores e delimitadores das formas mais radicalizadas do feminismo actual. A sua visão do erotismo funda-se no desejo de uma autêntica complementaridade entre a mulher e o homem e esclarece-se, quanto a nós, à luz da tese platónica da cisão originária dos seres em duas metades e da trajectória de cada uma delas em busca da outra, através do amor. Dai que a sua poesia se reconheça dentro de uma belíssima definição do erotismo dada por Bataille: «uma Imensa aleluia perdida num silêncio sem fim» (O Erotismo, 1957).

Nesta obra poética, marcada por uma invulgar coerência, espelha-se uma concepção de poesia profundamente intimista e feminina, alimentada pela crença no amor único e recíproco, como forma absoluta de negar a violência da morte e a inconstância dos afectos humanos. [ ... ]

Maria João Reynaud, in Vozes e Olhares no Feminino, Edições Afrontamento, Porto 2001, pp. 32 - 34


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