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Novidades Literatura portuguesa

Leal, Gomes. Antologia Poética: Entre a diferença e o excesso. Rolim, Lisboa, 1988

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Colecção Ilhas

1ª edição

Estudo e selecção de textos de Cecília Barreira

126 pp. ; 24 cm

 

Gomes Leal, Lisboa, 1848 - Lisboa, 1921

Trabalhando pouco tempo como escrevente de notário e tendo frequentado o Curso Superior de Letras, António Duarte Gomes Leal não se fixou, porém, em qualquer carreira ou profissão que lhe assegurasse uma subsistência regular: no jornalismo, no panfletarismo político, acima de tudo na poesia, aplicaria a sua vocação de boémio e artista.

É com o poema «Aquela morta» que, em 1866, se estreia na Gazeta de Portugal. Em 1867 publica o folhetim «Trevas» na Revolução de Setembro, e aí Luciano Cordeiro o identifica com os «poetas novos», colocando-o ao lado de Teófilo Braga, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros. Colaborou também no Diário de Notícias, na República e noutros jornais da época, quer com poesia, quer com artigos de crítica literária, quer com artigos de carácter satírico e intenção panfletária, como é o caso da colaboração no jornal satírico O Espectro de Juvenal, de que foi, aliás, um dos fundadores, em 1872, com Magalhães Lima, Luciano Cordeiro e Guilherme de Azevedo.

E se, como crítico, Gomes Leal é já um defensor da escola realista, como poeta é ainda um ultra-romântico (o que é bem visível, formalmente, no tom de balada e na exposição narrativa de muitas das suas composições), componente que não deixará nunca de revelar, apesar das vicissitudes e «conversões» do seu percurso literário e pessoal – ou por isso mesmo.

É em Claridades do Sul, o seu primeiro livro de versos, que unanimemente os estudiosos de Gomes Leal tendem a encontrar as linhas mestras de uma lírica que, com todas as contradições do fim-de-século, e sendo produto dele, se expressa entretanto com a força, às vezes violência, a sua própria originalidade.

Não é impassível a personalidade de Gomes Leal, e um profundo anticlericalismo associado à simpatia pelos ideais republicanos hão-de inspirar as suas obras subsequentes. Cabem aí a publicação do poema em 4 cantos e oitava rima A Fome de Camões – com o qual, associando-se às comemorações do bicentenário da morte de Camões, G. L. projecta na sua imagem uma solidão e abandono já previstos, como, aliás, fará também em A Traição, que em 1881 o leva à prisão. «Num azorrague sempre pronto a rasgar a carne dos reis, dos padres, da Igreja, da tradição, das instituições, de tudo quanto se lhe afigura comprometer a missão Racional, Justa e Liberal a que a poesia estava destinada de Victor Hugo para cá» (cf. J. Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa do Século XX), este percurso de combate e protesto culminará em 1900 com Fim de Um Mundo (Sátiras Modernas).

Mas, se a atitude filosófica de G. L. é inequivocamente a do racionalismo positivista, se essa atitude é movida por uma ética de preocupações sociais, e se entretanto defende o primado da poesia naturalista, o Anticristo, nas suas duas versões, acrescentando-se à segunda as Teses Selvagens, e A Mulher de Luto denotam um claro pendor negativista, repassado de um visionarismo de inspiração ocultista. Esta evolução há-de ter relação com a própria decadência moral e física do poeta (que os seus biógrafos tendem, entretanto, a associar à morte da mãe, a quem o ligavam laços de estreita dependência), à consciência da qual não será certamente estranha a crise religiosa que lhe determina a necessidade de conversão ao catolicismo, em 1910. Mas, de algum modo, o visionarismo de Gomes Leal já o era antes mesmo de o «poeta do sonho e do mistério» assim a si mesmo se nomear: o «poeta do sonho e do mistério» é que se desdobrou no «poeta místico» e já antes se convulsionara no «poeta popular e de combate» (cf. J. Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa do Século XX).

«Caricatura de toda uma geração obrigada pela sua impotência no campo da acção social a refugiar-se no paraíso mágico e gratuito do verbo» (António José Saraiva, História Ilustrada das Grandes Literaturas - Literatura Portuguesa), se Gomes Leal foi «quem, descontando talvez Gonçalves Crespo, melhor reflectiu a influência parnasiana» (ibid.), foi também «quem mais intimamente [...] assimilou o estilo de Baudelaire» e quem, «como ninguém, recolheu nos seus versos toques de simbolismo verlainiano» (ibid.).

A partir de 1916 subsiste precariamente com uma pensão anual do Parlamento de 600$00 naquele que foi para Vitorino Nemésio «além do grande poeta que em muitos momentos foi, um dos mais extraordinários estilistas do verso português e o verdadeiro criador da poesia moderna em Portugal» (cf. «Introdução» a Poesias Escolhidas de G. L., 1942).

[A Assírio & Alvim tem vindo a publicar as Obras Completas de Gomes Leal, em edição literária de José Carlos Seabra Pereira, ao abrigo do programa «Obras Clássicas da Literatura Portuguesa» da DGLB.]

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990


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