Descrição
Selecção, prefácio e notas do professor Hernâni Cidade
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Marquesa de Alorna
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Poetisa, tradutora e pedagoga portuguesa, nascida em 1750 e falecida em 1839, D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, mais conhecida por Marquesa de Alorna, foi uma figura de rara erudição, autora de uma obra epistolar ainda por descobrir e grande divulgadora das novas ideias vindas da Europa.
Neta da marquesa de Távora, foi encerrada, ainda menina, no convento de Chelas, pelo facto de o seu pai ter sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. JosĂ©. AĂ passou a sua juventude (1758-1777), saindo apenas apĂłs a morte do MarquĂŞs de Pombal. No recinto eclesiástico, onde viveu desde os 8 anos, ocupava o tempo com mĂşsica, poesia e com os amigos e pretendentes literatos que alimentavam a sua formação arcádica. Entre estes homens iluminados destaca-se o Padre Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido pelo seu pseudĂłnimo Filinto ElĂsio, que lhe deu lições e a batizou com o nome arcádico de Alcipe, alimentando as suas precoces tendĂŞncias filosĂłficas, tolerantistas, cientistas e progressistas. Em 1779, casou com um oficial alemĂŁo naturalizado portuguĂŞs, o conde de Oeynhausen, e viajou por Viena – onde ele foi nosso ministro -, Berlim e Londres. Nessas estadias desenvolveu o gosto pela poesia sentimentalista ou descritiva, traduzindo ou imitando Delille, Wieland, Buerger, GoĂ«the, Young, o pseudo-Ossian, Gray e Thomson. Falecido o irmĂŁo primogĂ©nito, herdou o tĂtulo de Marquesa de Alorna, por que se tornou mais conhecida. Em Paris, D. Leonor frequentou o salĂŁo de Madame Necker e conheceu, em 1780, Madame de StaĂ«l, com quem depois, no seu exĂlio londrino, se relacionou mais intimamente. No entanto, o francesismo da marquesa de Alorna Ă© mais de divulgação de autores prĂ©-românticos ou já românticos, franceses ou conhecidos atravĂ©s da França, do que de funda consciĂŞncia cultural. Enviuvou em 1793, ficando com seis filhos para educar. A fundação, por parte da marquesa, da Sociedade da Rosa, concebida para frustrar a ameaça napoleĂłnica, levou Ă desconfiança de Pina Manique e ao consequente exĂlio em Londres numa quase misĂ©ria. De regresso a Portugal, fez dos seus salões de S. Domingos de Benfica focos das novas ideias estĂ©ticas, pela frequĂŞncia de literatos de diversas gerações, desde os Ăşltimos árcades atĂ© aos primeiros românticos como Herculano. A sua extensa obra denuncia tendĂŞncias diversas como o arcadismo, presente nas suas traduções de autores greco-latinos, que vĂŁo a par de outras traduções de autores modernos; a poesia cientista (Recreações Botânicas) e o sentimentalismo e melancolia expressos em algumas composições. Percorreu os mais variados subgĂ©neros e estruturas formais (epĂstolas, odes, sonetos, Ă©clogas, elegias, canções, apĂłlogos, epigramas, cantigas), colorindo-os ora de laivos de filosofismo, ora de sentimentalismo prĂ©-romântico. Denunciam esta Ăşltima tendĂŞncia a forma como concebe a poesia, desabafo de mágoas: A lira move mais lavada em pranto (Poesias, ed. Sá da Costa, 1941, p. 28); o fatalismo que impregna a sua visĂŁo das coisas: O Fado contra mim tudo provoca (p. 114); o gosto da solidĂŁo melancĂłlica; a tendĂŞncia para o devaneio; a obsessĂŁo do noturno e do fĂşnebre e a projeção do estado de alma no mundo circundante. TambĂ©m no estilo, apesar da mitologia e dos epĂtetos clássicos, revela um coração nitidamente romântico pelas exclamações e adjetivação violenta.
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in: Infopédia
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